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Cai a participação de mulheres em cargos gerenciais no Brasil em 2016, aponta IBGE

Pesquisa mostra que apenas 37,8% das posições de liderança são ocupadas por mulheres em 2016, contra 39% um ano antes e 39,5% cinco anos atrás.

G1

07 de Março de 2018 - 09:44

Cai a participação de mulheres em cargos gerenciais no Brasil em 2016, aponta IBGE

Embora as mulheres brasileiras já alcancem nível de formação superior ao dos homens, elas ainda são minoria no comando das empresas. Em 2016, 37,8% dos cargos gerenciais no país eram ocupados por elas. É o que revela uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira (7) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com o levantamento, feito com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), a presença feminina em cargos de gerência diminuiu nos últimos anos. Em 2011, elas respondiam por 39,5% destes cargos - uma queda de 1,7 pontos percentuais em cinco anos.

A divulgação antecede o Dia Internacional da Mulher e denota que passados 107 anos da tragédia que motivou a criação da data – mais de 100 mulheres morreram em um incêndio em uma fábrica têxtil de Nova York em março de 1911 – ainda há muitas barreiras para a igualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho.

A pesquisa revela ainda que a desigualdade entre homens e mulheres na gestão das empresas aumenta com a idade. Conforme os dados mais recentes, de 2016, a proporção de mulheres nos cargos gerenciais era de 43,4% na faixa etária de 16 a 29 anos e caía para 31,3% no grupo de 60 anos ou mais.

“A questão da faixa etária mais baixa ter indicativos melhores pode representar que esteja começando a refletir agora a questão da melhor formação educacional das mulheres em relação aos homens”, aponta a pesquisadora da Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE, Luanda Botelho.

O IBGE destacou, ainda, que a desigualdade na ocupação de cargos gerenciais é maior entre mulheres pretas e pardas e homens pretos e pardos do que entre mulheres brancas e homens brancos. Do total de brancos em cargos de gerência, 38,5% eram mulheres, enquanto entre pardos e negros a proporção delas cai para 34,5%.

Cuidados domésticos

Segundo a pesquisadora Luanda Botelho, alguns fatores objetivos contribuem para esta desigualdade. As mulheres, efetivamente, dedicam 73% a mais de horas semanais que os homens aos afazeres domésticos e aos cuidados de pessoas, por exemplo.

Conforme a pesquisa do IBGE, as mulheres que têm ocupação no mercado de trabalho dedicam 18,1 horas por semana aos cuidados com o lar ou com outras pessoas da família, como filhos, por exemplo. Já os homens ocupados dedicam 10,5 horas por semana aos mesmos afazeres.

Observa-se que a desigualdade se acentua em decorrência de questões regionais, bem como de cor ou raça. No Nordeste do Brasil, chega a 19 a média de horas semanais dedicadas aos afazeres domésticos pelas mulheres, contra 10,5 horas dos homens. No Centro-Oeste, a média cai para 16,7 horas para elas e 9,6 horas para eles.

“O recorte por cor ou raça indica que as mulheres pretas ou pardas são as que mais se dedicam aos cuidados de pessoas e/ou afazeres domésticos, com registro de 18,6 horas semanais”, destacou IBGE.

Para além deste fator objetivo, a pesquisadora Luanda Botelho enfatiza que questões subjetivas, que não podem ser mensuradas através de pesquisas quantitativas, são as determinantes para que a mulher seja subestimada no mercado de trabalho.

“É muito difícil não apontar também questões de preconceito contra a mulher no mercado de trabalho. Quantos homens você conhece que já foram questionados em uma entrevista de emprego se têm filhos ou pretendem tê-los, por exemplo?”, indagou a pesquisadora.

Luanda ressaltou que a pesquisa sobre a ocupação de cargos gerenciais feita pelo IBGE não se restringe à iniciativa privada. “Estamos falando também da administração pública, cujos cargos são de livre nomeação”.

Teto de vidro

A pesquisadora Luanda Botelho apontou que o preconceito contra as mulheres cria uma barreira sutil e invisível no mercado de trabalho. Daí surgiu o conceito de “Teto de Vidro”, que propõe um modelo de discriminação pela qual se supõe que a produtividade feminina seria melhor que a dos homens.

“Esse conceito de Teto de Vidro pressupõe a ideia de que a mulher está subindo na carreira e, de repente, ela se depara com um teto que não consegue ultrapassar. Em tese, esse teto [da carreira] é transparente, mas ela vai subir e bater a cabeça”, apontou a pesquisadora.

Desigualdade de renda

Para além da ocupação de cargos no mercado de trabalho, a pesquisa evidenciou também que as mulheres ainda enfrentam desigualdade de renda – elas recebem cerca de ¾ dos homens.

Em 2016, a média de rendimento dos homens no Brasil foi de R$ 2.306, enquanto das mulheres foi de R$ 1.764. Ou seja, em média, as mulheres recebem 76,5% do montante recebido pelos homens.

Neste cálculo de rendimento, o IBGE considerou apenas a renda advinda do trabalho. Ou seja, não estão incluídos os rendimentos de pensão, alugueis, entre outros.

“Contribui para a explicação deste resultado a própria natureza dos postos de trabalho ocupados pelas mulheres, em que se destaca a maior proporção dedicada ao trabalho em tempo parcial”, apontou o IBGE.

Segundo a pesquisa, 28,2% das mulheres brasileiras estavam ocupadas em 2016 em trabalhos com carga horária de até 30 horas semanais. Entre os homens, esta proporção foi de 14,1%.

“Mulheres que necessitam conciliar trabalho remunerado com os afazeres doméstico e cuidados, em muitos casos acabam por trabalhar em ocupações com carga horária reduzida”, avaliou o IBGE.

Filho pequeno

A pesquisa investigou, ainda, o nível de ocupação de pessoas que têm criança com idade inferior a 3 anos de idade em casa. No grupo etário entre 25 e 49 anos nesta condição, o nível de ocupação das mulheres chegou a 54,4% em 2016, enquanto dos homens foi de 70,8%. Entre os trabalhadores que não tinham criança em casa, o nível de ocupação aumentou para 65,8% entre as mulheres e 74,4% entre os homens.

Outro dado que se relaciona com o menor rendimento recebido pelas mulheres na comparação com os homens está a de ocupação em postos informais de trabalho. A proporção delas nestes postos chegou a 37% em 2016, enquanto a deles foi de 34,4%.

Já a ocupação na indústria, considerado o ramo com maior formalização de trabalho no país, a distribuição das mulheres no setor foi de 10,7%, enquanto a dos homens foi de 28,4%.

O IBGE concluiu que “de uma forma geral, o caminho a ser percorrido em direção à igualdade de gênero, ou seja, em cenário onde homens e mulheres gozem dos mesmos direitos e oportunidades ainda é longo para as mulheres e ainda mais tortuoso se esta for preta ou parda e residir fora dos centros urbanos das regiões Sul e Sudeste”.