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Brasil

Greve histórica deixa MS à beira do colapso, leva gasolina a R$ 6 e põe Petrobras na berlinda

Em Mato Grosso do Sul, o preço médio do óleo diesel acumula alta de 72,79% em sete anos, de R$ 2,18 para R$ 3,767.

O Jacaré

24 de Maio de 2018 - 16:50

A greve histórica dos caminhoneiros deixa Mato Grosso do Sul a beira do colapso. Falta de gasolina atinge várias cidades do interior. Em pânico, milhares passam a enfrentar filas quilométricas para abastecer e os donos de postos aproveitaram o desespero para penalizar o consumidor com reajustes abusivos, com o preço do litro chegando a custar R$ 6 no interior do Estado.

Apesar dos transtornos, que inclui desde a suspensão do transporte escolar aos voos no Aeroporto Internacional de Campo Grande, a paralisação ganha apoio popular. Donos de transportadoras e motoristas de aplicativos decidiram engrossar o protesto, que chacoalha o Governo de Michel Temer (MDB), o mais impopular da história brasileira e denunciado por corrupção, obstrução da Justiça e por chefiar uma organização criminosa.

A mobilização, que parou o Brasil, coloca em xeque a política de reajustes diários nos preços dos combustíveis, adotada pela Petrobras desde a chegada do tucano Pedro Parente. A estratégia tem o aval do mercado, mas penaliza a população e faz o preço da gasolina brasileira ser o segundo mais caro do mundo.

A maldade tem limites. Em Mato Grosso do Sul, o preço médio do óleo diesel acumula alta de 72,79% em sete anos, de R$ 2,18 para R$ 3,767. O litro da gasolina tinha subido 43% no mesmo período, oscilando de R$ 2,87 para R$ 4,131.

No entanto, esse valor ficou no passado. Aproveitando-se do desespero dos consumidores, os donos de postos mercenários aproveitaram para faturar e chegaram a remarcar até duas vezes o preço no mesmo dia, conforme reportagem do Jornal de Domingo. O Procon recebeu mais de 20 denúncias de reajuste abusivo e teve gerente que foi parar na delegacia.

Em Campo Grande, praticamente todos os postos reajustaram o valor do combustível nas últimas 24 horas, apesar da redução no preço praticada pela Petrobras nesta quarta-feira. O preço está oscilando entre R$ 4,07 e R$ 4,99. No interior, como Chapadão do Sul, os últimos litros chegaram a ser comercializados a R$ 6 o litro.

Enquanto na Capital postos começaram a fechar devido ao fim dos estoques de combustíveis, várias cidades do interior não possuem mais combustível, como Amambai,no sul do Estado, Paranaíba e Chapadão do Sul, na região do Bolsão, e Nova Alvorada do Sul.

A paralisação dos caminhoneiros vai desfalcar o transporte coletivo da Capital a partir de amanhã. O Consórcio Guaicurus anunciou, em nota, a retirada de 75 ônibus de circulação a partir desta sexta-feira, sendo 20 reforços no horário do rush, 32 articulados (que gastam mais) e 23 fresquinhos (ônibus executivos).

Vários aeroportos brasileiros estão com restrições nos voos e decolagens por falta de querosene de aviação. O aeroporto da Capital tem combustível para operar normalmente até sábado.

A Federação das Indústrias (Fiems) estima que 80% das indústrias estão paradas por causa da greve dos caminhoneiros. Os supermercados devem ficar sem produtos perecíveis, como frutas e verduras, a partir de sábado.

Cidades do interior começam a suspender o transporte escolar dos estudantes por falta de combustível. Escolas e creches devem suspender as aulas por falta de merenda. A situação deve se agravar a partir de segunda-feira.

De acordo com o jornal Midiamax, a greve dos caminhoneiros ganhou adesão no quarto dia e conta com 49 trechos bloqueados em Mato Grosso do Sul.

Enquanto a população segue em pânico com falta de plano de contingência, autoridades batem cabeça com propostas mirabolantes.

Ontem, a Petrobras propôs dar folga na política de reajustes diários e reduzir os combustíveis em até 10% por 15 dias. Na prática, a estatal, que teve lucro de R$ 6 bilhões no primeiro trimestre deste ano, joga com factoide, amplamente divulgado pelos jornais, para enfraquecer a paralisação.

Sem credibilidade e acuado, o presidente Temer ainda aposta na negociação para por fim à paralisação, uma das mais impactantes da historia da nova República.

No entanto, os caminhoneiros colocaram na berlinda a política da Petrobras, sob o comando de Pedro Parente, de repassar ao consumidor o preço dos combustíveis no mercado internacional. Com o dólar nas alturas e o petróleo recuperando o preço no mercado internacional, o drama do brasileiro só estava começando. Só neste mês, a estatal autorizou seis reajustes consecutivos de preços dos combustíveis.

A paralisação dos caminhoneiros colocou a Petrobras na parede, ou divide os ganhos com a população ou arca com o ônus de assegurar os lucros do mercado. Quem vai ganhar esta batalha só saberemos com o fim da greve, que caminha para o xeque-mate no governo de Michel Temer, beneficiado com a primeira paralisação para desgastar a antecessora e assumir o cargo.