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Esporte

De plano C a herói nacional, técnico da Croácia pede espaço: "Se me derem o Real Madrid, serei campeão"

Zlatko Dalic assumiu a seleção 48 horas antes de estrear em 2017 e chegou à final da Copa

Globo Esporte

13 de Julho de 2018 - 07:55

Quando atendeu o telefone, Zlatko Dalic não fez perguntas. Do outro lado estava Davor Suker, presidente da Federação de Futebol da Croácia, à procura de um técnico para a seleção, que corria sério risco de não se classificar para a Copa do Mundo. Tudo o que Dalic fez foi dizer sim.

Todo o resto ele deixou para depois. Tempo de contrato, salário, tudo era desimportante. Era outubro de 2017, faltava um jogo para o fim das eliminatórias europeias para a Copa do Mundo e a Croácia estava a perigo. Dalic, 51 anos, não era a primeira, nem a segunda e talvez nem a terceira opção para substituir o demitido Ante Cacic. Mas isso não era um problema.

Dalic, um ex-volante de carreira modesta no futebol croata, aceitou o convite e não pôde nem convocar a seleção para sua estreia – a partida decisiva das eliminatórias contra a Ucrânia, em Kiev. O técnico conheceu os jogadores no aeroporto, 48 horas antes do jogo. Os dois gols de Kramaric e a vitória por 2 a 0 levaram a Croácia para a repescagem contra a Grécia, que foi facilmente derrotada (4 a 1 em Zagreb, 0 a 0 em Atenas).

Garantida a classificação para a Copa da Rússia, Dalic finalmente aceitou conversar sobre um contrato – que segundo publicações europeias lhe rende cerca de 550 mil euros por ano, sete vezes menos do que o salário de Didier Deschamps, o técnico da França, seu rival na decisão da Copa do Mundo neste domingo em Moscou.

Não é exagero dizer que Dalic é um herói nacional hoje. A Croácia chegou à Rússia bem longe do status de favorita. Mas abriu caminho à base de exibições brilhantes (3 a 0 sobre a Argentina de Messi) e demonstrações de ser um time inquebrantável nos mata-matas da Copa. Eliminou a Dinamarca nos pênaltis, a Rússia nos pênaltis e a Inglaterra na prorrogação.

O treinador percorreu um longo caminho até a final da Copa do Mundo. Vinte anos atrás, quando a Croácia chegou à semifinal do Mundial da França, Dalic viu os três primeiros jogos ao vivo, como torcedor.

– Depois precisei voltar para meu país, ainda era um jogador na ativa e precisei voltar para a pré-temporada.

Dalic era volante do Hadjuk Split, e logo seria emprestado ao Varteks, clube onde encerraria sua carreira como jogador para se tornar assistente técnico de Miroslav Blazevic, técnico que dirigiu a Croácia na Copa de 1998. Depois de cinco anos trabalhando na Croácia e na Albânia, Dalic passou a maior parte de sua carreira no Oriente Médio – dirigiu o Al-Faisaly e o Al-Hilal, da Arábia Saudita. Seu último clube antes de assumir a seleção croata foi o Al-Ain, dos Emirados Árabes.

Nos últimos dias, Dalic usou a atenção que atraiu por ser um dos técnicos finalistas da Copa do Mundo para falar sobre os problemas do futebol croata. Ao contrário da maioria dos treinadores de seleções, que só falam quando são obrigados, Dalic deu nesta quinta-feira sua sexta entrevista coletiva em uma semana.

– Quando você olha as condições e a infraestrutura que nós temos, nosso resultado é um milagre. Daqui a três meses vamos jogar contra a Espanha e Inglaterra pela Liga das Nações e não temos um estádio apropriado para jogar. Somos um milagre. Este talvez seja um dos grandes feitos esportivos da história da Croácia – disse.

E aproveitou para chamar a atenção para o que considera preconceito dos clubes europeus para com os técnicos croatas.

– Nós não somos respeitados na Europa, embora tenhamos grandes resultados. Temos grandes técnicos croatas e eles são subestimados. Eu comecei por baixo, nada veio de graça na minha vida. Muitos técnicos começam em grandes times por causa do nome que tinham como jogadores. Me dê o Barcelona ou Real Madrid e eu vou ganhar ganhar títulos.