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Esporte

Özil anuncia aposentadoria da seleção alemã por questões políticas

Em desabafo no Twitter, meia diz que não se arrepende de foto com presidente da Turquia antes da Copa.

Globo Esporte

22 de Julho de 2018 - 19:15

Quase um mês após a eliminação da Alemanha da Copa do Mundo, o meia Mezut Özil emitiu neste domingo, via Twitter, um comunicado oficial, em tom de desabafo, declarando que não mais jogará pela seleção do país. Campeão mundial no Brasil, em 2014, com 92 partidas disputadas desde 2009 pela equipe nacional, o meia do Arsenal, de 29 anos, justificou a decisão por se considerar perseguido e discriminado pela Federação Alemã de Futebol (DFB) devido à sua ascendência turca e, principalmente, por expressar suas opiniões favoráveis à imigração e ao multiculturalismo na sociedade alemã.

A crise entre Özil e a Federação Alemã ganhou força depois que o jogador posou, junto com o meia Ilkay Gündogan, também da seleção alemã, com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, no dia 13 de maio, em Londres. A possível conotação política do encontro desagradou a Federação. Özil disse que não quis alimentar a polêmica antes e durante a Copa, mas revelou agora seu descontentamento com a maneira como tem sido tratado - desde antes do episódio - pelos dirigentes esportivos do país, entre outras pessoas.

"O tratamento que eu recebi da DFB e de muitos outros me fazem não mais querer vestir a camisa da seleção da Alemanha. Eu não me sinto querido e acho que tudo o que eu conquistei desde a minha estreia internacional (na seleção), em 2009, foi esquecido".

Özil encerrou o longo comunicado, com quatro páginas e publicado em duas postagens, aumentando ainda mais o tom do desabafo:

- É com o coração pesado e após muita consideração que devido aos recentes eventos, eu não vou mais jogar pela Alemanha em nível internacional, já que eu tenho esse sentimento de racismo e desrespeito. Eu costumava vestir a camisa da Alemanha com tanto orgulho e animação, mas agora não mais. Essa decisão foi extremamente difícil para mim porque eu sempre dei tudo por meus colegas, comissão técnica e o bom povo da Alemanha.

"Mas quando dirigentes do alto escalão da DFB me tratam como eles fizeram, desrespeitando minhas origens turcas e egoisticamente me transformando em propaganda política, então chega. Não é para isso que eu jogo futebol, e eu não vou sentar e não fazer nada a respeito. Racismo não deveria nunca ser aceito."

Suas maiores críticas foram direcionadas ao presidente da Federação Alemã, Reinhard Grindel.

- Em 2004, enquanto você (Grindel) era membro do Parlamento (alemão), você reclamou que "o multiculturalismo é na verdade um mito, uma mentira duradoura", enquanto votava contra a legislação favorável às duplas nacionalidades e às punições por subornos, e também disse que a cultura islâmica se tornou muito entranhada em muitas cidades alemãs. Isto é imperdoável e não se pode esquecer - declarou Özil num dos trechos da carta de três páginas.

Também via Twitter, após o anúncio da aposentadoria internacional de Özil, a Fifa publicou uma foto dele com a Copa do Mundo, no gramado do Maracanã, após a conqusita do título em 2014, e deu os parabéns ao jogador pela carreira vitoriosa.

Destacando suas "raízes na Turquia", o alemão falou também sobre a repercussão do caso na mídia. Incomodado, Özil disse que a imprensa acha mais importante noticiar sua foto com o presidente turco, do que falar sobre as ações sociais que ele participa, como a feita recentemente na Rússia. Na ocasião, o meia se engajou em um projeto social que ajuda a mudar a vida de crianças pelo mundo.

- Para mim, ter uma foto com o presidente Erdogan não tem a ver com política ou eleições, mas com o respeito que tenho ao mais alto cargo do país de minha família. Meu trabalho é ser um jogador de futebol e não um político. De fato, nós falamos sobre futebol sempre que nos encontramos, já que ele também era jogador na juventude – diz um trecho do documento. - Eu sei que isso pode ser difícil de entender. Um líder político não pode ser separado da pessoa. Mas neste caso é diferente. Eu faria a foto novamente.

Entenda o caso:

Na véspera da convocação da Alemanha para a Copa do Mundo, os meias Mezut Özil, do Arsenal, e Ilkay Gündogan, do Manchester City, foram repreendidos publicamente pelo presidente da Federação Alemã de Futebol (DFB), Reinhard Grindel, e pelo coordenador da seleção, Oliver Bierhoff, por uma ação de cunho político. Descendentes de turcos, os jogadores tiraram foto, em Londres, com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, que estava em campanha para reeleição. Em junho, Erdogan foi reeleito para o mais alto cargo do país.