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Esporte

Em administração judicial, Force India vive dias decisivos em busca de comprador

Entretanto, processo de falência da equipe pode impedir que novo dono tenha acesso à verba referente aos direitos comerciais da temporada 2018, conforme regulado pelo Acordo da Concórdia.

Globo Esporte

31 de Julho de 2018 - 08:13

A Force India vive dias turbulentos. Apesar de ter cinco empresários interessados em sua aquisição, a equipe entrou em administração judicial na Inglaterra no fim da noite de sexta-feira, dia 27 de julho. A Justiça Inglesa apontou a empresa FRP Advisory, comandada por Geoff Rowley e James Baker e especializada em falências, para comandar o processo de venda do time anglo-indiano. É a mesma companhia que cuidou da Marussia e da Manor, quando elas passaram por crises financeiras.

Com isso, Vijay Mallya e seu sócio, Subrata Roy, dono da Sahara, foram afastados do comando da equipe. O adminstrador judicial, agora, vai abrir as propostas dos cinco interessados na compra do time e escolher a melhor oferta, mediante alguns critérios: o financeiro, a solidez da proposta e o compliance (conjunto de regras para que as normas legais e regulamentares, as políticas e as diretrizes estabelecidas para o negócio e para as atividades da empresa sejam cumpridas, bem como evitar, detectar e tratar qualquer desvio ou inconformidade que possa ocorrer).

Uma das propostas é da Rich Energy, empresa de bebidas energéticas, que tentou, na última sexta, fazer um empréstimo ao time de £30 milhões (cerca de R$ 150 milhões) sob forma de patrocínio. Entretanto, segundo fontes do Voando Baixo e do GloboEsporte.com, a empresa comandada pelos empresários David Sullivan e David Gold teria problemas para provar sua solidez e cumprir as regras de compliance, já que a holding também é dona das principais revistas pornográficas da Inglaterra. A situação será avaliada pelos administradores.

Prioridade é pagar salários atrasados e manter empregos

O maior credor da Force India hoje é a holding Orange India, de Vijay Mallya e Subrata Roy. Também donos da equipe, os empresários indianos montaram esta empresa em Luxemburgo e fizeram vários empréstimos. Eles achavam que seriam os primeiros a receber o dinheiro investido de volta. Entretanto, a lei inglesa manda que empréstimos convertidos em ações sejam os últimos a serem pagos na administração judicial. Ou seja: a prioridade da FRP Advisory é acertar os salários atrasados dos funcionários, manter a equipe em funcionamento e salvar empregos. Além disso, só pelo fornecimento dos motores Mercedes, a Force India deve £10 milhões (aproximadamente R$ 50 milhões) à montadora alemã.

O canadense Lawrence Stroll, pai de Lance Stroll, piloto da Williams, ofereceu um empréstimo para cobrir os salários atrasados da Force India, que seria pago no momento em que a equipe fosse vendida. Entretanto, segundo fontes do Voando Baixo e do GloboEsporte.com, ele não apareceria na linha de frente: a manobra seria feita atraves do fundo de investimentos americano Rockefeller Capital Management (RCM), especializado em aquisições de equipes esportivas, que acabou de participar da compra do Miami Marlins, time de beisebol da Major League Baseball (MLB), junto com o ex-jogador Derek Jeter.

Nesse caso, Stroll seria um sócio oculto da Force India. Lawrence não entraria oficialmente como sócio porque seu filho Lance acha que correr pela equipe do pai seria prejudicial à sua carreira. Sem o pai na linha de frente, o canadense seria contratado pela equipe anglo-indiana para a próxima temporada. A dupla seria formada por Lance e Robert Kubica, atual reserva da Williams. Segundo a visão de Lawrence, o polonês tem experiência para desenvolver o carro, poderia ajudar o companheiro com dicas de pilotagem e já não tem o mesmo desempenho de outrora, graças às lesões na mão direita sofridas no acidente de rali de 2011.

Equipes querem vetar recebimento de verbas comerciais

Entretanto, as regras do Acordo da Concórdia, que rege as relações comerciais entre as equipes da Fórmula 1, impedem que o novo dono de uma equipe que tenha entrado em processo de administração judicial receba as verbas comerciais referentes à participação no campeonato. Com isso, a Force India perderia €60 milhões por ano (aproximadamente R$ 260 milhões), €180 milhões no total (R$ 785 milhões). Isso faria com que a equipe anglo-indiana perdesse valor de mercado.

Com isso, Chase Carey, diretor-executivo da Fórmula 1 e da Liberty Media, fez uma consulta às equipes para tentar que uma exceção fosse aberta. Se a regra for cumprida, as outras nove equipes da categoria dividiriam a verba da Force India. O problema é que McLaren, Renault e Williams vetaram a ideia. E nesse tipo de acordo, todas as equipes precisariam concordar. Mas a Liberty segue na tentativa de convencer os times.

Para aceitar a liberação da verba para os novos donos da Force India, as três equipes exigem que as regras de cessão de peças a outros times sejam esclarecidas. A intenção é evitar o estabelecimento de uma relação como a da Ferrari mantém com a Haas e a Sauber, que recebem peças do time vermelho e funcionam, na prática, como times B da mais tradicional equipe da Fórmula 1. Em caso de uma resposta positiva, o acordo estaria garantido e o novo dono da Force India receberia a verba comercial.

A Force India e a movimentação do mercado de pilotos

A salvação da Force India provocaria uma enorme movimentação no mercado de pilotos. O francês Esteban Ocon, piloto júnior da Mercedes e atualmente na equipe anglo-indiana, seria emprestado à Renault em 2019 para ser companheiro do alemão Nico Hulkenberg. O espanhol Carlos Sainz Jr. iria para a McLaren ser companheiro do compatriota Fernando Alonso. Com isso, o belga Stoffel Vandoorne estaria fora da equipe inglesa e, neste momento, sem vaga na Fórmula 1.

Em um primeiro momento, o mexicano Sergio Pérez ficaria na Force India. O piloto, por meio de seus patrocinadores, investe €12 milhões na equipe, mas apenas €4 milhões ficam com o time. Os outros €8 milhões ficam com Pérez, sob o formato de salário, segundo fontes do Voando Baixo e do GloboEsporte.com. Entretanto, para 2019, ele teria de procurar outro time, já que Lawrence Stroll quer seu filho ao lado de Kubica. Na Williams, que passaria a receber motor, câmbio e talvez a suspensão traseira da Mercedes, a revelação inglesa George Russell, atualmente na equipe ART na Fórmula 2, faria sua estreia na F1.