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Policial

Filho de Azambuja é transferido para o Presídio Militar

A transferência ocorreu após o depoimento dele, acompanhado pelo advogado.

Correio do Estado

13 de Setembro de 2018 - 10:51

O filho do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), Rodrigo de Souza e Silva, foi transferido ontem a noite da Superintendência da Polícia Federal em Campo Grande para sala reservada a prisão de advogados dentro do Presídio Militar, no Complexo Penitenciário localizado no Bairro Jardim Noroeste.

A transferência ocorreu após o depoimento dele que foi acompanhado pelo advogado Gustavo Passarelli. O defensor também representa o chefe do Executivo e o empresário e pecuarista Élvio Rodrigues, amigo de Azambuja. “Eu acompanhei o depoimento do governador, e também do Rodrigo, que em seguida foi deslocado para o Presídio Militar. O Élvio continua na Polícia Federal, porque ainda não prestou depoimento”, disse Passarelli.

Rodrigues deverá ser ouvido hoje a tarde e em seguida também deverá ser transferido, porém o local ainda não foi definido. A defesa afirmou que não deve pedir habeas corpus para os dois presos. A estratégia definida até agora é a de aguardar o fim do prazo da prisão temporária, estabelecida pela Justiça, no domingo (16) a noite.

“Em caso de prisão temporária não é comum pedir habeas corpus. Precisamos ter acesso aos autos, que deverá ser disponibilizado com o fim das diligências. Provavelmente será amanhã ou na segunda-feira (17). Estamos aguardando informações mais adequadas. Pela normalidade do processo, indica que no domingo eles deverão ser liberados”, concluiu o advogado.

PROPINA

O governador de Mato Grosso do Sul e candidato a reeleição, Reinaldo Azambuja, teria recebido sozinho R$ 52,5 milhões em propina no esquema desarticulado pela Polícia Federal ontem, durante a Operação Vostok.

Os pagamentos eram feitos de três formas: por meio de doações eleitorais - ainda durante a campanha para as eleições em 2014; notas frias falsificadas; ou mediante entregas de valores em espécie, nas cidades de São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ). O prejuízo aos cofres públicos chega a R$ 209.750.000,00.

De acordo com parte da denúncia do Ministério Público Federal (MPF), que consta na decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf/MF) encontrou movimentações atípicas na conta pessoal de Azambuja. Uma delas é relativa ao período de 1º de abril de 2016 à 12 de abril de 2017, quando foram movimentados R$ 27.288.734,00 de forma injustificada.

Outros R$ 12.947.517, 96, teria sido transferidos no período de 1º de agosto de 2017 a 31 de outubro de 2017, com destaque para uma transferência da empresa JBS, no montante de R$ 244.732,23, desvinculada de justificativa.

Consta ainda, que o governador movimentou de maneira suspeita o valor de R$ 1.146.783,00, no período de 1º de dezembro de 2017 à 31 de dezembro de 2017. Além disso, constam investimentos em fundos mobiliários, tendo o governador realizado a aquisição de oito imóveis no valor de R$ 2,8 milhões.

A investigação também aponta que foram efetuadas 10 transações imobiliárias para a Taquaruçu Agropecuária, empresa que é de Azambuja, todas no dia 15 de agosto de 2016, totalizando o valor de R$ 8.328.268, 85, “que revela possível estratégia de blindagem patrimonial, com objetivo de dificultar sua (de Reinaldo Azambuja) vinculação com qualquer tipo de vantagem indevido”.

PRIVILÉGIO

Diferente dos demais investigados, o governador teve o privilégio de não ter a prisão solicitada pela autoridade policial que investiga o caso. A PF considerou que não pediria a prisão do governador por causa dos “prejuízos sociais e econômicos” que o Estado poderia sofrer.

“Por ora, mesmo em face de vasto material probatório em desfavor do governador Reinaldo Azambuja, deixo de representar pela sua prisão temporária em virtude dos prejuízos sociais e econômicos que a prisão do Governador do Estado poderia causar à sociedade sul-mato-grossense. Em que pese a importância de sua prisão nos mesmos termos apresentados anteriormente em relação aos demais investigados”, afirmou a autoridade policial, no pedido de prisão temporária dos envolvidos ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).

OPERAÇÃO

A Operação da Polícia Federal foi denominada “Vostok”, nome de uma estação de pesquisa da Rússia na Antártida que, segundo a PF, é tão fria quanto as notas utilizadas para lavar a propina da JBS. O inquérito da PF apontou que até 30% dos créditos tributários (incentivos fiscais ao grupo JBS) eram revertidos em proveito do grupo, que os policiais federais chamam de “organização criminosa”.

Além do governador, do filho dele e de Rodrigues, a Polícia Federal encontrou indícios robustos de participação no esquema dos pecuaristas Francisco Carlos Freire de Oliveira, Ivanildo da Cunha Miranda (também operador do esquema), José Roberto Teixeira (deputado estadual pelo DEM), Márcio Campos Monteiro (ex-deputado federal, ex-secretário de Fazenda e conselheiro do Tribunal de Contas de MS), Miltro Rodrigues Pereira, Nelson Cintra Ribeiro (ex-prefeito de Porto Murtinho e ex-presidente da Fundação de Turismo na gestão Azambuja), Osvane Aparecido Ramos, Rubens Massahiro Matsuda e Zelito Alves Ribeiro. Três pessoas com mandando de prisão em aberto ainda não foram presas.