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Esporte

Com Russell na Williams, Mercedes prepara Ocon para andar com Hamilton em 2020

Francês mantém viva a esperança de conseguir um assento na principal categoria.

Globo Esporte

13 de Outubro de 2018 - 07:25

O anúncio do talentoso jovem inglês George Russell, 20 anos, pela Williams, nesta sexta-feira, pode parecer mais um duro golpe para outro piloto da nova pródiga geração da F1, o francês Steban Ocon, 22 anos, e integrante, como Russell, do programa de jovens pilotos da Mercedes.

Com a iminente saída de Ocon da Racing Point Force India para dar lugar ao filho do novo dono da equipe, Lance Stroll, o francês ficou praticamente sem equipe para 2019. Mas, curiosamente, a confirmação de Russell pela Williams representa, diante das circunstâncias, uma solução capaz de deixar todos relativamente felizes.

Como assim? Antes de mais nada, é melhor apresentar Russell. Lidera a F2, a antessala da F1, pela escuderia ART, com boa margem para o segundo colocado, o tailandês nascido e crescido na Inglaterra, Alexander Albon, da DAMS, 248 a 211 pontos. A F2 já teve 11 etapas, 22 corridas, por serem duas por fim de semana de competição, e resta apenas a última, dias 24 e 25 de novembro, em Abu Dhabi, junto da F1.

Russell só perde o título da F2 se absolutamente tudo der errado. A diferença dele para Albon é de 37 pontos e há em jogo, nas duas corridas no Circuito Yas Marina, 48. O inglês venceu seis vezes este ano, Baku, Espanha, França, Áustria, Itália e Rússia, e largou na pole position em quatro ocasiões, França, Áustria, Inglaterra e Itália.

Russell alia grande velocidade com regularidade, raramente erra, ao menos nas categorias de formação. Essa combinação que caracteriza os grandes pilotos o levou a praticamente ser campeão da F2, este ano, a ganhar a GP3, no ano passado, ser terceiro na F3 europeia, em 2016, e vencer o Campeonato Britânico de F4 em 2014. A Mercedes o contratou para o seu programa no fim de 2016.

Toto Wolff, sócio do time de F1 da Mercedes e diretor esportivo da montadora alemã, procurava vaga na F1 para os dois pilotos mais bem preparados do seu programa, Russell e Ocon, sendo que o francês já confirmou em seus dois anos e meio de F1 tratar-se de um piloto com potencial para conquistar o título. No seu primeiro campeonato completo na F1, em 2016, na Force India, Ocon só não marcou pontos nas provas de Mônaco e do Brasil.

Como Russell, mas na F1, onde o desafio é bem maior, Ocon é rápido, impressionantemente constante, técnico e inteligente. Reúne, enfim, os predicados dos campeões. E mesmo assim Ocon assistirá ao mundial de 2019 dos boxes da Mercedes como terceiro piloto e responsável pelos raros testes privados hoje organizados pela F1. Mas, como mencionado, o fato de Wolff ter recomendado do seu programa Russell e não Ocon para a vaga da Williams tem um significado maior: deseja vê-lo como companheiro de Lewis Hamilton na Mercedes em 2020.

Bottas, muito pressionado

Quem deve estar preocupado com o fato de a Williams assinar com Russell é o finlandês Valtteri Bottas, atual parceiro de Hamilton. Ele já entra bastante pressionado para disputar o próximo campeonato. Isso porque terá Ocon dentro dos boxes da Mercedes. O contrato de Bottas com a escuderia alemã, assinado em julho deste ano, é de dois anos. Mas a opção para 2020 é da Mercedes e não do piloto.

Wolff irá acompanhar o trabalho do finlandês com interesse ainda maior em 2019. Terá de produzir bem mais do que este ano, mesmo descontando os instantes de azares e as ocasiões em que teve de favorecer Hamilton. Hoje, depois de 17 etapas e restando quatro, Bottas soma 207 pontos, terceiro colocado, sem vitórias, diante de 331 de Hamilton, líder, nove vitórias e com chances de definir a conquista do mundial já dia 21, no GP dos EUA, em Austin, Texas. Sebastian Vettel, da Ferrari, segundo colocado, tem 264 pontos.

A diferença enorme de performance entre Hamilton e Bottas na temporada não se justifica, de maneira alguma, com a eventual subserviência ordenada ao finlandês em corridas como a da Rússia. E se Bottas não apresentar muito mais em 2019, como Wolff provavelmente imagina, o seu substituto está pronto, Ocon.

Apesar de o diretor técnico da Williams, Paddy Lowe, ter conhecido Russell quando ainda trabalhava na Mercedes, no fim de 2016, é bem provável que se Wolff lhe tivesse recomendado Ocon para seu time, em vez do estreante Russell, Lowe e Claire Williams, sócia e diretora da Williams, iriam preferir. O francês é uma realidade. Russell, uma promessa. Na fase de reestruturação vivida pela Williams para 2019, por ser este ano a última colocada entre os construtores, um piloto com a sensibilidade de Ocon e a experiência de 46 GPs seria muito bem vinda.

As dificuldades da Williams, este ano, não se limitam ao projeto equivocado do modelo FW41-Mercedes, mas também à pouca ou nenhuma experiência de seus dois jovens pilotos, Stroll e o russo Sergey Sirotkin. Como em 2019 Stroll pilotará para o próprio time, Racing Point Force India, a Williams está avaliando quem será o companheiro de Russell.

Problemas financeiros

Para ter o inglês na Williams, Wolff reduziu o valor a ser pago pela equipe inglesa pelo fornecimento da unidade motriz Mercedes. É provável que em vez dos 15 milhões de euros (R$ 75 milhões) o custo caia para apenas 5 milhões de euros (R$ 25 milhões). Há boas chances de Sirotkin seguir na Williams. Mostrou certa evolução este ano e seus patrocinadores podem investir 15 milhões de euros também.

A Williams tem problemas financeiros para 2019. Como última entre os construtores, não receberá da FOM mais de 40 milhões de euros (R$ 200 milhões), mais um bônus de algo como 15 milhões de euros por sua história na F1. Mais: Claire Williams e seus sócios perderão o patrocínio de 25 milhões de euros (R$ 150 milhões) da Martini e os 24 milhões de euros (R$ 120 milhões) investidos por Lawrence Stroll, pai de Lance. O desconto da Mercedes e o dinheiro do companheiro de Russell serão imprescindíveis para a Williams.

Lowe produziu uma grande reforma no departamento técnico depois do grave erro no projeto do carro deste ano. Os dois principais responsáveis foram dispensados, Ed Wood, coordenador, e Dirk de Beer, aerodinamicista. O coordenador do projeto de 2019 é Doug McKiernan, com quem Lowe trabalhou por anos na McLaren. E o chefe da aerodinâmica é Dave Wheater, promovido dentro do grupo.

Comenta-se no paddock que o engenheiro responsável por perfomance no fim de semana de competição, Rob Smedley, ex-engenheiro de Felipe Massa na Ferrari, não fará mais parte do time em 2019. Ele havia se transferido da Ferrari para a Williams no início de 2014. Outro profissional será contratado.

Apesar de contar agora com profissionais de maior competência para conceber o modelo de 2019, e com Lowe acompanhando tudo bem mais de perto, o principal problema da Williams não foi até agora atacado, e provavelmente nem será: a gestão falha.

Há um consenso no paddock da F1 de que as grandes dificuldades de Williams e McLaren, organizações dentre as de maior sucesso na competição, hoje nas últimas colocações, decorrem da falta de liderança, experiência e capacidade de seus responsáveis, no caso Claire Williams, na escuderia agora de Russell, e Zak Brown, McLaren.

Previsão não otimista

É provável que Wolff tenha refletido sobre o tema. Não é esperado um crescimento importante da Williams para 2019. Primeiro pelo orçamento bastante limitado, segundo por ser o primeiro ano de trabalho conjunto do novo grupo de projetistas e pelas dificuldades decorrentes de líderes que já mostraram não saberem conduzir uma organização complexa como a de um time de F1.

Ocon poderia andar para trás em 2019 se a Williams seguir entre as últimas. Com Russell, estreante, é diferente. Enquanto para Ocon marcar pontos apenas eventualmente no próximo campeonato seria ruim, pelo que já fez na Force India, para Russell será um sinal positivo. Não há ainda uma referência do seu trabalho na F1.

Com a confirmação de Russell, as únicas vagas ainda disponíveis para o campeonato que irá começar dia 17 de março de 2019 em Melbourne, na Austrália, é na própria Williams e na STR, quem será o companheiro do russo Daniil Kvyat. Na Racing Point Force India, apesar de não haver ainda o anúncio oficial, os pilotos serão Stroll e o mexicano Sergio Pérez.