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Política

É 'desumano' dar aos mais pobres atendimento sem 'garantia', diz Bolsonaro sobre cubanos

Presidente eleito voltou a criticar regras do Mais Médicos e citou 'direitos humanos' ao defender repasse integral do salário pago no programa aos profissionais cubanos que atuam no país.

G1

16 de Novembro de 2018 - 10:32

É desumano dar aos mais pobres atendimento sem garantia, diz Bolsonaro sobre cubanos

O presidente eleito Jair Bolsonaro afirmou nesta sexta-feira (16) que é "injusto" e "desumano" destinar aos mais pobres o atendimento médico por parte de profissionais cubanos "sem qualquer garantia" de qualidade.

A declaração foi dada após café da manhã entre Bolsonaro e o comandante da Marinha, o almirante de esquadra Eduardo Bacelar Leal Ferreira, no Comando do Primeiro Distrito Naval, no Centro do Rio.

Para o presidente eleito, o governo brasileiro não tem comprovação de que os profissionais de saúde enviados por Cuba sejam competentes e, por isso, voltou a defender que eles deveriam passar por uma prova para revalidar o diploma e atuar no Brasil.

Na última quarta (14), o governo de Cuba informou que decidiu sair do Mais Médicos e atribuiu a decisão a "declarações ameaçadoras e depreciativas" de Bolsonaro. O presidente eleito afirma que Cuba não quis aceitar condições para continuar no programa.

"Eu nunca vi uma autoridade no Brasil dizer que foi assistida por um médico cubano. Será que nós devemos destinar aos mais pobres profissionais, entre aspas, sem qualquer garantia? Isso é injusto. Isso é desumano", disse Bolsonaro.

"Não queremos isso para ninguém, muito menos para os mais pobres. Queremos salário integral e o direito de fazer a família para cá. Isso é pedir muito? Isso está em nossas leis", complementou.

Segundo o presidente eleito, a forma como a contratação dos médicos cubanos foi feita é "situação de prática de escravidão" porque, de acordo com Bolsonaro, o governo cubano impede que a família dos médicos os acompanhe durante o período em que eles estão no Brasil.

"Vamos falar em direitos humanos? Quem diria, não é? Tanta crítica eu sofri aqui... talvez a senhora [dirigindo-se a uma jornalista] seja mãe. Imaginou ficar longe dos seus filhos por um ano? É a situação de prática de escravidão que estão sendo submetidos os médicos e as médicas cubanos no Brasil. Imaginou confiscar da senhora 70% do seu salário?", criticou o presidente eleito.

Na entrevista, Bolsonaro voltou a afirmar que, após tomar posse como presidente, dará asilo a cubanos que pedirem.

Para o presidente eleito, a "ditadura" instalada em Cuba justifica a concessão de asilos aos profissionais de saúde que estão no Brasil.

"Há quatro anos e pouco, quando foi discutida a medida provisória [que criou o Mais Médicos], o governo da senhora Dilma em alto e bom som disse que qualquer cubano que pedisse asilo seria deportados. Se eu for presidente, o cubano que pedir asilo aqui justifica, no meu entender pela ditadura na ilha, terá o asilo da minha parte", disse.

Edital

Mais cedo, o Ministério da Saúde informou que a seleção de médicos brasileiros para ocuparem as vagas que serão deixadas pelos profissionais cubanos do programa Mais Médicos ocorrerá ainda em novembro.

De acordo com o Ministério da Saúde, a formulação do edital para substituição dos médicos cubanos será finalizada ainda nesta sexta, durante reunião com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas).

O Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) informou ter sido avisado pela embaixada de Cuba que os médicos do país deixarão o Brasil até o fim do ano.

De acordo com a Confederação Nacional dos Municípios (CNM), a saída de cubanos do Mais Médicos afetará 28 milhões de pessoas.

O programa

Pelas regras do Mais Médicos, os médicos brasileiros e estrangeiros formados no Brasil têm prioridade para ingressarem no programa. Depois, são convocados médicos formados fora do Brasil que tenham revalidado o diploma no país, com o exame chamado Revalida.

Na sequência, são chamados médicos brasileiros formados no exterior que não realizaram o Revalida. Depois, a regra prevê que sejam convidados médicos estrangeiros formados no exterior e sem diploma revalidado no Brasil.

Só após todos esses é que governo brasileiro oferecia as vagas aos médicos cubanos.

Em 2013, segundo balanço do governo federal, apenas 11% das vagas oferecidas no primeiro edital foram preenchidas por médicos brasileiros.