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Política

Vereador terena quer implantação de creche para crianças apreenderem idioma da etnia

Gringo, como é conhecido, quer convencer o prefeito a implantar uma creche exclusiva para as crianças terena.

Flávio Paes/Região News

25 de Novembro de 2018 - 20:45

Vereador terena quer implantação de creche para crianças apreenderem idioma da etnia

Neto de um dos fundadores da Aldeia Tereré, o vereador Otacir Figueiredo, depois de usar o poder político (e de pressão) que o exercício do mandato lhe conferiu para implantar a Fundação Municipal de Assuntos Indígenas que só em 2019 terá orçamento e começa a funcionar de fato, agora se lança numa cruzada por outra bandeira fundamental para a preservação de um dos traços da identidade cultural do seu povo, a língua terena.

Na próxima quarta-feira, o vereador promove a partir das 9 horas uma audiência pública na Câmara Municipal para discutir a implantação de um Centro de Educação Infantil onde o idioma predominante será o terena. Devem estar presentes, além do prefeito Marcelo Ascoli, representantes da Defensoria Pública, Ministério Público, além da própria comunidade indígena.

Gringo, como é conhecido, quer convencer o prefeito a implantar uma creche exclusiva para as crianças terena, onde funcionários e professores conversem, escrevam e alfabetizem os pequenos na língua mãe.

Essa espécie de imersão linguística serviria de ferramenta para frear um fenômeno que o próprio vereador protagonizou. Alfabetizado em português nas escolas públicas, Gringo, que é formado em pedagogia, não domina de forma completa o idioma terena. “Nem tudo que meu avô fala, consigo entender”, admite”.

A maioria das famílias terena, que se mudou para Sidrolândia em busca de emprego, deixa os filhos nas creches enquanto passam o dia no trabalho, as crianças, quando começam a pronunciar as primeiras palavras, falam em português.

Nas escolas das aldeias Córrego do Meio e Tereré, a língua terena integra a grade curricular, com poucas aulas semanais, insuficientes segundo Gringo, para que os alunos de fato aprendam a falar e escrever em terena.

A língua terena

Da família Aruak, a língua terena é falada pela maioria das pessoas que se reconhecem, hoje, como Terena. Mas o seu uso - e freqüência - é desigual nas várias aldeias e Terras Indígenas. Por exemplo, em Sidrolândia e Nioaque, são pouquíssimas pessoas que a utilizam. Em outras cidades como; Aquidauana e Miranda, tem casos de jovens que dominam mal o português.

De um modo geral, podemos definir os Terena como um povo estritamente bilíngüe - entendendo por isso uma realidade social em que a distinção entre uma língua "mãe" (por suposto, indígena) e uma língua "de contato" ou "de adoção" (o português, no caso) não tem sentido sociológico.

Segundo antropólogos, a língua 'materna' para os terenas não tem importância socializadora, no sentido de integrar o indivíduo em um mundo próprio, conceitualmente diferente do 'mundo dos brancos'. Podemos afirmar que seu uso está ligado a uma socialidade apenas afetiva. Em outras palavras, a língua terena não é usada nestas sociedades enquanto sinal diacrítico para afirmar sua diferença frente aos "brancos".

Na verdade (...) os Terena têm orgulho de dominarem, inclusive por meio do uso da língua do purutuya, a situação de contato com a sociedade nacional, e é este domínio que lhes permite continuar existindo enquanto um povo política e administrativamente autônomo.