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Saúde

Criança que morreu aguardando vaga expõe que morosidade não é exclusividade do SUS

Morosidade para obter vaga hospitalar na Capital para pacientes em estado grave, não é exclusividade do SUS.

Flávio Paes/Região News

17 de Fevereiro de 2019 - 19:55

A morte de um garoto de 13 anos no início da tarde da última quarta-feira no Hospital Elmiria Silvério Barbosa, além de provocar comoção na cidade, deixar abalados seus pais e preocupar as autoridades de saúde, diante da suspeita de que ele tenha morrido de dengue hemorrágica, expôs uma questão até então desconhecida, pelo menos dos usuários dos planos de saúde: morosidade, às vezes até cruel, que caracteriza a obtenção de vaga hospitalar em Campo Grande para pacientes em estado grave, não é uma exclusividade do SUS (Sistema Único de Saúde).

Neste episódio em que morreu Júlio Neri Romeiro, uma criança especial (tinha hidrocefalia), foram sete longas horas entre o primeiro pedido de vaga encaminhado pelo hospital, às 6h20 da manhã, a autorização dada pelo Unimed (às 10h21) e a chegada da ambulância (por volta do meio-dia) que veio de Campo Grande para fazer o translado.

Criança que morreu aguardando vaga expõe que morosidade não é exclusividade do SUS

O menino foi entubado, colocado na viatura por volta das 13h00 e retornou a Sidrolândia minutos, porque no trajeto ele teve uma parada cardíaca e morreu por volta das 14h20, após tentativas frustradas de reanimação no hospital.

Negativas

Segundo a diretora administrativa do Hospital, Vanda Camilo, diante do agravamento do quadro de saúde do paciente, às 6h20 da manhã foi feita à Unimed o primeiro pedido de vaga e transferência de Júlio para Campo Grande. Foram sucessivas solicitações à central de regulação da Unimed, sempre negadas, até que às 10h15 o translado foi autorizado, mas a equipe de socorro só chegou três horas depois, à 13h15.

Criança que morreu aguardando vaga expõe que morosidade não é exclusividade do SUS

Aí surge outra questão: por que o hospital esperou pela vinda de uma ambulância de Campo Grande, um trajeto de 70 quilômetros, que demora pelo menos uma hora? Não seria mais adequado ganhar tempo, colocar o menino na ambulância estacionada no pátio do hospital, levá-lo para a Capital, acompanhado de um médico?

O hospital garante que por clausula contratual, pacientes da Unimed residentes em Sidrolândia (são mais de 2 mil considerando apenas os funcionários da JBS), só podem ser levados para a Capital em ambulância da cooperativa. O secretário Municipal de Saúde, Nélio Paim, garante que por parte da Prefeitura, não há nenhuma restrição para o traslado de pacientes graves nas ambulâncias (mesmo particulares ou de planos de saúde) disponibilizadas para o hospital.

Criança que morreu aguardando vaga expõe que morosidade não é exclusividade do SUS

Já a Unimed, conforme nota encaminhada por sua assessoria de imprensa ao Região News garante que não há nenhuma restrição ao uso de ambulância da própria instituição credenciada para o translado de pacientes de Sidrolândia para Campo Grande. “A remoção poderá ser realizada por empresa local, se solicitada e atendidos os critérios de segurança preconizados pelos órgãos competentes”, pelo menos é o que informa o plano de saúde de forma oficial.

A assessoria nega que o plano de saúde tenha negligenciado o atendimento por ter demorado mais de 4 horas para liberar a vaga (das 6h20, hora do primeiro pedido e às 10h21 quando houve a liberação). “A Unimed Campo Grande atuou prontamente e seguiu todos os critérios técnicos que norteiam a atuação da regulação de vagas e remoção de pacientes entre hospitais”, informa.

A alegação da cooperativa é de que a decisão do médico regulador (responsável pela autorização de transferência dos pacientes) levou em conta o quadro clínico do paciente descrito pelo médico que estava atendendo o menino. Ou seja, por essa versão, até às 10 horas da manhã de quarta-feira, avaliou-se que o atendimento oferecido a Júlio no hospital era compatível com seu estado.

Diz a Unimed na sua nota encaminhada ao site:A regulação da vaga tem como premissa identificar o recurso adequado para admitir o paciente, de acordo com as necessidades clínicas apresentadas na solicitação médica. Há que se considerar, ainda, o fato de o paciente estar sob cuidados médicos e hospitalares compatíveis com o quadro clínico descrito. Portanto, o tempo dispendido em cada solicitação é compatível e priorizado de acordo com as informações apresentadas pelo solicitante. Todos os critérios técnicos, inclusive o fator tempo, são detalhadamente avaliados pelo médico regulador no momento em que decide pela remoção”.