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Policial

Comandante é acusado de fraude para proteger PM que matou em cinema

Promotora da Auditoria Militar mandou instaurar IPM para investigar denúncia de que oficial forjou boletim para ajudar amigo.

Campo Grande News

06 de Agosto de 2019 - 14:53

A Promotoria de Justiça da Auditoria Militar requisitou a instauração de IPM (Inquérito Policial Militar) contra o tenente-coronel Carlos Silva por suposta fraude em boletim de ocorrência para proteger o cabo Dijavan Batista dos Santos, autor confesso do assassinato ocorrido no dia 8 de julho deste ano dentro da sala de cinema do shopping center de Dourados.

Comandante do 3º Batalhão da PM em Dourados, Carlos Silva é apontado como amigo pessoal de Dijavan, que até o dia do crime estava lotado na Polícia Militar Ambiental, atualmente recolhido no Presídio Militar na Capital.

O caso começou a ser investigado após denúncia anônima feita à Ouvidoria do Ministério Público dois dias depois do assassinato do bioquímico Julio Cesar Cerveira Filho, 43, durante suposta discussão por causa da poltrona ocupada pela vítima.

Dijavan sustenta que o tiro que matou Julio foi acidental, no momento em que o bioquímico teria tentado lhe tomar a arma, uma pistola calibre 40 sem registro, ou seja, ilegal. A Polícia Civil indiciou o PM por homicídio diante da versão de que o tiro foi disparado após a briga ter cessado.

Falso testemunho – A “notícia de fato” com a denúncia envolvendo o tenente-coronel foi instaurada pelo Ministério Público logo após a denúncia anônima, que apontou suposta interferência direta de Carlos Silva para montar uma história aliviando a culpa do cabo Dijavan.

“Há fontes seguras de que o tenente-coronel Carlos da Silva comandante do 3° BPM, uma vez que se tratava de policial militar envolvido em assassinato de grande repercussão e repúdio social, para tanto invocou a responsabilidade da ocorrência policial militar para si, assim como todos os seus procedimentos de autuação, uma vez que, é amigo pessoal do cabo PM Dijavan”, diz a denúncia à qual o site teve acesso.

Ainda de acordo com a denúncia anônima, o comandante do 3º Batalhão da PM em Dourados teria retardado a condução de Dijavan até a Delegacia de Polícia Civil, “com a finalidade de ganhar tempo e elaborar um álibi consistente”. A morte ocorreu por volta de 14h15, mas Dijavan só foi entregue à Polícia Civil após as 18h do dia 8 de julho.

“Há informações que em razão de sua patente de coronel e por ser comandante do 3° BPM, determinou os PMs que alterassem o histórico da ocorrência policial, assim como os policiais foram orientados no sentido de inserir declaração falsa ou diversa da que deveria ser escrita no Boletim de Ocorrência Militar”, afirma a denúncia.

Conforme a denúncia feita ao MP, após matar Julio Cesar com um tiro, o cabo Dijavan teria tentado fugir do shopping, mas teria sido abordado por uma equipe da própria Polícia Militar. A versão narrada pelo comandante no dia da morte era que o próprio autor teria ligado para o Ciops (Centro Integrado de Operações de Segurança) e para o Corpo de Bombeiros.

“Não resta dúvida que o delegado se baseou preliminarmente nas informações colhidas da Ocorrência Policial da PMMS escrita e engendrada pelo tenente-coronel Carlos Silva. Assim como, o suposto autor foi orientado a sustentar a mesma história fantasiosa criada pelo comandante do 3° BPM”, afirma a denúncia.

Depoimentos – Nesta semana, a promotora da Auditoria Militar Estadual Tathiana Correa Pereira da Silva Façanha requisitou do Corregedor-Geral da PMMS Voltaire Flamarion Garcia Diniz a instauração de Inquérito Policial Militar para apurar os fatos relatados.

A promotora requisita depoimentos de todos os envolvidos no caso, incluindo os quatro PMs responsáveis pela prisão de Dijavan Batista dos Santos, para saber deles o tempo decorrido entre a prisão e a apresentação dele à Polícia Civil e se existiu alguma orientação por parte do tenente-coronel Carlos Silva.

Tathiana Façanha também requisita depoimentos do oficial denunciado, do PM preso pelo assassinato, de cinco testemunhas do assassinato, dos bombeiros civis do Shopping Avenida Center e dos bombeiros militares que atenderam a ocorrência.

Ela também requisitou cópia do inquérito policial que apura o crime de homicídio, cópia da gravação das chamadas ao Ciops, referentes aos fatos que levaram à prisão em flagrante, especialmente as que tenham sido realizadas pelo flagrado ou pelo tenente-coronel Carlos da Silva, cópia das gravações de videomonitoramento de câmeras do cinema, das saídas e do estacionamento do shopping.

Comandante – Ao Campo Grande News, o tenente-coronel Carlos Silva informou que ainda não foi notificado oficialmente e por isso não tem conhecimento do teor da denúncia. Ele afirma, no entanto, que todos os procedimentos em relação ao caso foram adotados dentro da lei e das normas da corporação.