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Esporte

Suíça relembra chegada heroica nas Olimpíadas de 1984: "Nunca sonhei que aquele momento duraria tanto"

Gabriele Andersen-Schiess, aos 74 anos, fala sobre prova histórica na maratona, que ficou marcada nos Jogos Olímpicos

GloboEsporte

12 de Abril de 2020 - 14:39

Se uma imagem vale mais do que mil palavras, uma imagem nas Olimpíadas tem poder de valer mais do que mil medalhas. E Gabriele Andersen-Schiess sabe o que é isso. A suíça nunca figurou na elite das competidoras do atletismo, mas um momento que ela protagonizou foi capturado pelas retinas de um mundo boquiaberto nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984.

À época com 39 anos, Gabriele disputou na metrópole californiana a primeira edição da maratona feminina na história das Olimpíadas. Terminou em um longínquo 37º lugar, em 2h48min42s, quase 24 minutos depois da medalhista de ouro Joan Benoit, dos Estados Unidos.

Gabriele, porém, é até hoje muito mais celebrada e lembrada do que a vencedora. As imagens da suíça completando a prova completamente exaurida e capenga - levou mais de quatro minutos para andar os 400m finais - ficaram eternizadas na memória olímpica como prova de resiliência, garra e determinação.

Pela grandeza de seu feito, Gabriele foi eleita pelos jurados da série Os Maiorais, feita em parceria pelo Esporte Espetacular e o GloboEsporte.com, como a protagonista do maior momento olímpico de todos os tempos - ao lado da nota 10 da ginasta romena Nadia Comaneci em 1976. E, neste domingo, o Esporte Espetacular recontou aquela saga da suíça em 1984.

- Eu estou tão surpresa, porque nunca soube que era tão reconhecida no Brasil - disse.

Ao GloboEsporte, Gabriele, diretamente de sua casa em Sun Valley, no estado americano de Idaho, afirmou que "não tinha ideia de que aquela imagem ficaria tão famosa".

- Eu nem me dei conta de que receberia tanta atenção por causa daquilo. Eu sabia que não estava entre as favoritas para vencer. A televisão só focava as maiores candidatas, e ninguém prestava muita atenção em mim a não ser meus amigos. Só fui perceber o tamanho daquele momento naquela noite, quando pessoas do Comitê Olímpico Internacional me disseram que eu precisava ir para a coletiva de imprensa, porque havia um interesse mundial. O comitê queria que eu aparecesse na televisão para que as pessoas pudessem atestar que eu estava saudável e não tive alguma sequela ou algo do tipo. No dia seguinte, fui a outra entrevista coletiva e comecei a notar reportagens em jornais que eu não era a protagonista de uma chegada qualquer, que havia algo especial ali - contou a ex-atleta, hoje com 74 anos, em entrevista exclusiva.

Com 39 anos nas Olimpíadas de Los Angeles, Gabriele não tinha expectativas de ir ao pódio nem ficar entre as dez primeiras colocadas. Para ela, o mérito todo orbitava em estar ali, no palco máximo do esporte mundial.

- Acho que aquela chegada mostrou que não apenas os vencedores, mas pessoas que apenas se classificam para os Jogos Olímpicos podem ser corajosas, determinadas e completar uma prova e ser bem-sucedidas, tanto quanto os atletas medalhistas. No dia a dia, tentamos fazer o melhor e dar tudo de nós, não desistir se aparecem obstáculos - comentou.

E ela considerava ainda mais importante ter chegado nos Jogos Olímpicos por não ter uma origem de atleta. Gabriele, nascida em Zurique, só foi ter mais contato com o esporte ao se mudar para os EUA.

- É algo especial, porque eu nunca sonhei que aquele momento duraria tanto tempo e que as pessoas iriam se lembrar dele. Até pessoas que eram jovens ali, em 1984, ainda se lembram daquilo. É algo realmente especial. Eu me sinto muito honrada e surpresa que este momento dure tanto tempo e provavelmente entrou para a história - afirmou.

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Gabriele agradeceu a reverência do júri de Os Maiorais e julgou que a grande lição de sua chegada histórica está em ressaltar os valores do esporte, muito mais do que as medalhas.

- Mesmo sem ser o melhor, não significa que você não deveria tentar ao máximo. E não desistir. Por isso, acho que aquela imagem se eternizou. Não importa o que você faz, se faz com afinco tudo faz sentido - concluiu