Brasil
Para gerar R$ 1 no PIB, Brasil consome em média 6 litros de água, aponta IBGE
Levantamento, feito entre 2013 e 2015, mostra a relação entre uso do recurso hídrico e geração de renda entre os setores econômicos. Atividade agrícola lidera ranking de consumo.
G1
16 de Março de 2018 - 10:43
Uma pesquisa inédita divulgada nesta sexta-feira (16) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela a relação entre o consumo de água e a geração de riqueza para o país. Em média, segundo o levantamento, para cada R$ 1 de valor adicionado bruto ao Produto Interno Bruto (PIB) são consumidos seis litros de água.
Foram analisados os dados de uso da água entre os anos de 2013 e 2015. Para fazer o levantamento, o IBGE contou com as informações da Agência Nacional de Águas (ANA). A pesquisa buscou detalhar quanta água cada um dos setores econômicos do país demanda e relacionar o uso do recurso hídrico com a geração de riqueza para o país.
O setor agropecuário – que inclui as atividades relacionadas à agricultura, pecuária, pesca, produção florestal e aquicultura – é o que demanda o maior consumo de água para geração de valor no PIB. Para cada R$ 1 de valor adicionado bruto, o setor demanda 91,5 litros de água. Já o setor de eletricidade e gás demanda 1,2 litro de água para gerar o mesmo R$ 1.
“O ideal é que o consumo seja menor para cada real adicionado”, enfatizou o analista da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE, Michel Lapip.
Ao relacionar o uso da água e a geração de riqueza, o IBGE tentou traçar um panorama da eficiência do consumo do recurso hídrico frente ao PIB. Michel Lapip ponderou, no entanto, que comparar a eficiência de cada setor com base nesta comparação é delicado, uma vez que cada setor produtivo tem uma demanda distinta pelo recurso hídrico. A agricultura, por exemplo, depende intrinsicamente de água para irrigação das lavouras, enquanto o setor de serviços, por exemplo, demanda pouca água para seu funcionamento.
“Cabe destacar que o indicador poderia ter sido calculado em relação ao uso total de água, em vez do consumo de água. Dessa forma seria evidenciada uma maior intensidade do uso de água pelas hidrelétricas na atividade Eletricidade e Gás”, ressaltou o IBGE.
Captação direta da água
Segundo a pesquisa, em 2015, foram retirados 3,2 milhões de hectômetros cúbicos (hm³) – o equivalente a 3,2 trilhões de metros cúbicos ou 3,2 trilhões de caixas d’água de mil litros cada - de água das reservas hídricas do país.
No mesmo ano, o total de recursos hídricos renováveis no país - ou seja, toda a água disponível no território brasileiro - era de 6,2 trilhões de m³. Isso equivale a 30,3 mil de metros cúbicos por habitante, ou 30,3 mil caixas d'água de mil litros para cada brasileiro.
“A maior parte é retirada diretamente da natureza e não da rede de abastecimento”, afirmou Lapip.
De acordo com o levantamento, enquanto 91,1% do volume de água usado para consumo das famílias provém da rede de abastecimento, os setores econômicos retiram a maior parte da água que utilizam diretamente do meio ambiente.
O setor que mais retira água das reservas naturais – seja diretamente de rios ou riachos ou poços artesianos, por exemplo – é o de eletricidade e gás. Todo o volume retirado por este setor é usado, mas não consumido e, por isso, retorna integralmente à natureza.
Em segundo lugar no ranking de captação direta da água estão as indústrias extrativas, seguidas das indústrias de transformação e construção. O setor agropecuário aparece em quarto lugar neste ranking.
A captação direta da água, esclareceu o pesquisador Michel Lapip, tem cobrança diferenciada em cada bacia hidrográfica do país. “Uma parcela pequena das bacias têm a cobrança de recursos hídricos”, destacou. Ou seja, a maior parte da água consumida pela atividade das indústrias e do setor agropecuário não é tarifada.
Ele lembrou que, no entanto, há cobrança diferenciada pelas companhias de distribuição de água para pessoas físicas e jurídicas. Assim como ocorre na cobrança por energia elétrica, as empresas pagam mais caro pelo recurso que as famílias.
A pesquisa destacou, ainda, que praticamente todo o volume de água retirado das reservas foi devolvido ao meio ambiente. “A qualidade da água que é devolvida ao meio ambiente não foi escopo do estudo”, ponderou a gerente da pesquisa Rebeca de La Rocque Palis. O retorno da água se dá tanto pela rede de esgotamento quanto, por exemplo, pela chuva ou mesmo pelo processo de transpiração das plantas.
Considerando que não há déficit entre a captação da água e seu retorno ao meio ambiente, o pesquisador Michel Lapip foi enfático ao afirmar que “o problema do Brasil não é a falta de água, mas a distribuição”.
O IBGE destacou que, conforme o levantamento feito, constatou-se que, na média, o país utiliza apenas pouco mais da metade de seus recursos hídricos na economia. Ainda assim, mais de 99% dessas retiradas são devolvidas à natureza (um exemplo disso são as hidrelétricas). Somente 0,5% dos recursos hídricos (ou 30,6 bilhões de metros cúbicos) são, de fato, consumidos pelas famílias e pelas empresas.