Brasil
Produtos básicos são metade do que país exportou em 2018, mostram dados do governo
Volume é o maior em 38 anos. De US$ 239 bi exportados no ano passado, US$ 119 bi são de itens básicos.
G1
29 de Janeiro de 2019 - 07:32
Metade das exportações brasileiras realizadas no ano passado foi de produtos básicos, segundo dados da série histórica do comércio exterior disponibilizados pelo Ministério da Economia.
Produtos classificados como básicos são aqueles que não têm tecnologia envolvida ou acabamento, como minerais, frutas, grãos e carnes, por exemplo.
Ao todo, no ano passado, as vendas externas somaram US$ 239 bilhões, dos quais US$ 119 bilhões (49,7%) se referem a itens básicos.
De acordo com o governo federal, a proporção é a maior desde o início da série histórica, em 1980, ou seja, a maior em 38 anos.
Segundo o Ministério da Economia, as exportações de itens básicos cresceram 17,2% no ano passado, mais de duas vezes acima da expansão de manufaturados (industrializados): 7,4%.
Para analistas ouvidos pelo G1, o Brasil precisa aumentar a exportação de produtos industrializados porque isso pode ajudar na geração de emprego e renda (entenda a argumentação mais abaixo).
Exportação de produtos manufaturados
Diante do crescimento de exportações de produtos básicos, o Brasil tem registrado nos últimos anos queda nas vendas externas de produtos manufaturados.
Em 2018, por exemplo, os produtos industrializados representaram 36,07% das exportações, um dos menores níveis da série histórica (veja no gráfico abaixo).
Para José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o país precisa acompanhar o movimento mundial, segundo ele, de buscar aumentar a exportação de produtos manufaturados.
Castro afirma, ainda, que seria melhor o Brasil retomar patamares atingidos em anos anteriores, com menor proporção de vendas de produtos básicos.
"Queremos voltar ao que era no passado [quando a participação de manufaturados era maior]. Todos países do mundo lutam para exportar manufaturados. O Brasil não pode ser diferente. Há uma geração maior de empregos e expansão dos mercados [com a venda de industrializados]. Para as empresas exportadoras, existe um nível de atualização permanente [de tecnologia]", declarou.
José Augusto de Castro avalia ser preciso avançar nas reformas estruturais para o Brasil ter mais competitividade e voltar a exportar mais produtos manufaturados.
De acordo com Diego Bonomo, gerente-executivo de Assuntos Internacionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a vantagem de exportar produtos industrializados é a maior geração de emprego e renda para o país.
Em 2019, observou Castro, o superávit comercial brasileiro deve cair por que a economia mundial está desacelerando e, com isso, os preços das "commodities" também fica mais baixo - afetando as vendas externas brasileiras. Depois de registrar um superávit (exportações menos importações) próximo de US$ 60 bilhões em 2018, a entidade estima um saldo comercial positivo de apenas US$ 32 bilhões neste ano.
Mercados compradores
Os dados do governo mostram que a China e a Europa receberam os produtos básicos brasileiros no ano passado, enquanto que os Estados Unidos se destacaram na aquisição de manufaturados.
Veja os principais produtos comprados pela China no ano passado:
- soja
- petróleo em bruto
- minério de ferro
- celulose
- carne bovina
- ferro em ligas
- carne de frango
- algodão em bruto
Para a União Europeia também houve destaque para produtos básicos: farelo de soja, minério de ferro, celulose, café em grão, petróleo em bruto, soja, minério de cobre.
"As exportações brasileiras para os EUA, em 2018, foram majoritariamente de bens manufaturados (cerca de 60%). Com isso o mercado norte-americano se consolida como o maior destino de produtos industrializados do Brasil", informou o governo.
Ascensão da China
Segundo Diego Bonomo, da CNI, a ascensão da China nos últimos 20 anos como país produtor de manufaturas mudou os "sistemas de trocas" da economia brasileira, que passou de exportadora, principalmente, de industrializados para vendedora de produtos sem acabamento.
"Internamente, a gente tem um desafio de produtividade, que é baixa e está estagnada há quase 10 anos. A agricultura teve um granho de produtividade significativo. Mas talvez o que mais explica é o fator externo, principalmente a China", declarou.
De acordo com o analista, o crescimento da China como produtora puxou o chamado "boom" de "commodities" (alta nos preços de minérios e petróleo, adquiridos pela economia asiática como insumo para sua produção) que vem ocorrendo desde a década 2000.
Ele observou que a China operou com câmbio desvalorizado nas últimas décadas, o que barateou seus produtos industrializados, com regras trabalhistas "inferiores" e com subsídios maciços do Estado, barateando seus produtos e dificultando a competição com as manufaturas brasileiras no exterior.