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Economia

Apenas 18% têm condição de fazer home office no Brasil, diz estudo

Falta de infraestrutura mínima, como computador, internet e energia, reduz potencial do trabalho remoto de 25,5% para 17,8%, bem abaixo do percentual de países desenvolvidos, segundo pesquisadores do FGV Ibre.

G1

18 de Outubro de 2021 - 15:50

Apenas 18% têm condição de fazer home office no Brasil, diz estudo

Menos de 1 em cada 5 trabalhadores brasileiros tem condições para trabalhar de casa no regime de home office. Segundo estudo do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (FGV Ibre), o potencial do trabalho remoto no país é de 17,8% dos ocupados, bem abaixo de países desenvolvidos.

O percentual de teletrabalho, de acordo com os economistas Fernando de Holanda Barbosa Filho, Fernando Veloso e Paulo Peruchetti, poderia chegar a 25,5% se todos os profissionais que podem trabalhar de casa tivessem uma infraestrutura mínima doméstica, incluindo computador, internet e acesso contínuo a energia elétrica.

O potencial do home office no Brasil é menos da metade dos 37% estimados nos EUA, por exemplo. Os pesquisadores citam estudos internacionais que apontam que o potencial de teletrabalho corresponderia a 29% da mão de obra para a Alemanha, 28% para a França, 25% para a Espanha e 31% para Suécia e Reino Unido.

Os pesquisadores da FGV alertam que o cenário brasileiro pode ser ainda mais limitado.

"O trabalho remoto efetivamente adotado atingiu um pico de 10,4% do emprego durante a pandemia, número relativamente baixo e que pode indicar que nosso potencial seja ainda mais baixo", afirmam no estudo.

Estudo divulgado em 2020 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) havia apontado para um potencial de adoção do teletrabalho em 22,7% das ocupações nacionais. Agora, o estudo do FGV Ibre dá mais alguns passos nessa linha de investigação, incluindo a necessidade de uma infraestrutura mínima doméstica para poder se trabalhar em casa, com base nos dados da Pnad Contínua de 2019 e da Pnad-Covid do IBGE.

O número de pessoas ocupadas somou 89 milhões no trimestre encerrado em julho, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ou seja, o potencial de trabalhadores em condições de trabalhar em home office seria da ordem de 15,8 milhões de brasileiros.

Desigualdades e diferenças por região, sexo e escolaridade

O potencial de percentual de trabalhadores que podem trabalhar de casa também varia bastante de acordo com o grau de desenvolvimento da região do país.

Segundo o Ibre FGV, o potencial de trabalho remoto é maior em regiões mais desenvolvidas, como Sudeste (20,8%) e Sul (19,8%), do que em regiões de menor renda per capita, como Norte (10,3%) e Nordeste (13%). Além disso, o potencial do alcance do home office é bem maior no setor público (40%) quando comparado com o setor privado (15%).

O estudo mostra ainda que as unidades da federação com maior potencial são o Distrito Federal, com 29,2% de potencial e Rio de Janeiro e São Paulo, ambos com 22,6%.

Segundo os autores, trabalhadores com vínculo formal de emprego e com mais anos de estudo possuem maior possibilidade de trabalho de casa. O estudo constatou ainda que mulheres possuem maior possibilidade de trabalho remoto do que os homens.

Veja algumas das diferenças apontadas pelo estudo:

  • mulheres (22,3%) possuem maior possibilidade de trabalho remoto que os homens (14,2%);
  • brancos e amarelos (24,5%) possuem um potencial maior que pretos e pardos (12,2%);
  • o potencial de trabalho aumenta com a escolaridade: 52,9% para trabalhadores com ensino superior completo, ao passo que é de apenas 1,5% para trabalhadores sem instrução e com fundamental incompleto, e de 4,6% para quem tem fundamental completo e ensino médio incompleto;
  • trabalhadores formais (23,6%) têm mais chance de trabalhar em home office que trabalhadores informais (10,2%).

Os pesquisadores alertam, porém, que um eventual avanço do trabalho remoto no Brasil virá acompanhado do risco de ampliação das desigualdades já existentes, uma vez que o teletrabalho é possível especialmente para trabalhadores de maior escolaridade e salários mais elevados.

"Isso reforça ainda mais a necessidade de capacitação da mão de obra para as mudanças no mercado de trabalho e a necessidade de uma melhoria na infraestrutura doméstica, principalmente nos estados mais pobres, permitindo assim uma maior incorporação de trabalhadores nesta nova modalidade de trabalho", destacam.