Economia
Após 4 altas seguidas, vendas do comércio caem 3,1%
Com o resultado, setor retrocede para o patamar de julho de 2020, segundo o IBGE.
G1
06 de Outubro de 2021 - 07:42
As vendas do comércio varejista caíram 3,1% em agosto, na comparação com julho, interrompendo uma sequência de 4 altas seguidas, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (6) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na comparação com agosto do ano passado, as vendas recuaram 4,1%, o primeiro recuo após cinco meses de taxas positivas.
Com a mudança de rota, o patamar de vendas do varejo volta a recuar, retrocedendo ao nível de julho de 2020, segundo o IBGE.
Vendas do comércio têm primeira queda após três meses seguidos de alta — Foto: Economia/g1
O resultado veio pior do que o esperado. Pesquisa da Reuters apontou que as expectativas eram de altas de 0,7% na comparação mensal e de 2% sobre um ano antes.
Recuperação do setor perde fôlego
A média móvel do trimestre encerrado em agosto (-1,3%) também inverteu a trajetória ascendente do trimestre encerrado em julho (0,6%).
Com o resultado de agosto, o varejo acumula alta de 5,1% no ano. Em 12 meses, o avanço desacelerou para 5%, contra 5,9% nos 12 meses anteriores. Veja gráfico abaixo:
Indicador acumulado em 12 meses recua após 6 meses em trajetória ascendente — Foto: Economia/g1
Veja o desempenho de cada um dos segmentos em agosto:
- Combustíveis e lubrificantes: -2,4%
- Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo: -0,9%
- Tecidos, vestuário e calçados: 1,1%
- Móveis e eletrodomésticos: -1,3%
- Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria: 0,2%
- Livros, jornais, revistas e papelaria: -1%
- Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação: -4,7%
- Outros artigos de uso pessoal e doméstico: -16%
- Veículos, motos, partes e peças: 0,7% (varejo ampliado)
- Material de construção: -1,3% (varejo ampliado)
O que mais caiu
Segundo o IBGE, as vendas encolheram em agosto em seis das oito atividades pesquisadas, com destaque para outros artigos de uso pessoal e doméstico (-16,0%), que teve a principal influência negativa sobre o resultado do comércio varejista. Essa atividade é composta, por exemplo, pelas grandes lojas de departamento.
“Foi um setor que sofreu bastante no início da pandemia, mas se reinventou com a reformulação das suas estratégias de vendas pela internet. Isso culminou com crescimentos expressivos, principalmente em julho (19,1%) com o lançamento das plataformas de marketplace. Com muitos descontos, o consumidor antecipou o consumo em julho, fazendo com que o mês de agosto registrasse uma queda grande de 16%”, explicou o gerente da pesquisa, Cristiano Santos.
Também houve queda nas vendas de equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-4,7%), combustíveis e lubrificantes (-2,4%), móveis e eletrodomésticos (-1,3%), livros, jornais, revistas e papelaria (-1,0%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,9%).
“Hiper e supermercados, assim como combustíveis e lubrificantes, vêm sendo impactados pela escalada da inflação nos últimos meses, o que diminui o ímpeto de consumo das famílias e empresas”, destacou Santos.
No comércio varejista ampliado, que inclui, além do varejo, veículos e materiais de construção, o volume de vendas caiu 2,5% em agosto. A atividade de veículos, motos, partes e peças teve aumento de 0,7%, enquanto material de construção caiu -1,3%. O acumulado no ano ficou em 5,1% e o acumulado em 12 meses, em 5%, ante 5,9% em julho.
Vendas caem em 24 unidades da federação
Na passagem de julho para agosto, houve queda nas vendas em 24 das 27 unidades da federação, com destaque para: Rondônia (-19,7%), Paraná (-11,0%) e Mato Grosso (-10,9%). Por outro lado, no campo positivo, figuram 3 das 27 Unidades da Federação: Ceará (2,0%), Maranhão (1,0%) e Roraima (0,3%).
No comércio varejista ampliado, a queda foi seguida por 20 estados, com destaque para Amapá (-9,2%), Paraná (-9,0%) e Rondônia (-7,4%).
Perspectivas
Na avaliação do economista da Necton André Perfeito, a leitura preliminar dos dados é muito ruim e deve levar a novas revisões para baixo do desempenho da economia em 2021 e 2022. "A mistura de inflação persistente com atividade fraca irá jogar ainda mais pressão sobre a classe política para tentar “fazer algo” e isto pode gerar ruídos ao longo dos próximos dias. A dinâmica se torna mais desafiadora", disse.
A recuperação da economia brasileira tem perdido fôlego nos últimos meses em meio a um cenário de incerteza ainda elevada diante da escalada da inflação, de agravamento da crise hídrica e deterioração das expectativas para o desempenho da economia em 2022.
O Índice de Confiança Empresarial (ICE) caiu em setembro, interrompendo uma sequência de 5 altas mensais, segundo termômetro da Fundação Getúlio Vargas. Nesta terça, o IBGE mostrou que a a produção industrial caiu 0,7% em agosto, na terceira retração mensal consecutiva.
A expectativa do mercado financeiro para o crescimento da economia em 2021está atualmente em 5,04%, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central, após tombo de 4,1% em 2020. Para 2022, a média das projeções está em 1,57%. Já a estimativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do país no ano, subiu para 8,51%. Para 2022, a projeção está em 4,14%.