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Economia

Consumidor comum paga a conta dele e de outros na onda de calor

Correio do Estado

09 de Outubro de 2023 - 11:17

Consumidor comum paga a conta dele e de outros na onda de calor
Unidades consumidoras com geração distribuída foram as que mais exigiram da rede durante a onda de calor no mês de setembro - GERSON OLIVEIRA.

A conta de luz do período da onda de calor a que grande parte do Brasil foi submetida, no fim de setembro, inclusive Mato Grosso do Sul, já começa a chegar às residências. Nela, conforme análise feita pelo Correio do Estado com um especialista do setor, fica a constatação de que o consumidor residencial comum, o qual não integra a geração compartilhada (energia solar), deve arcar com a maioria dos custos pelas horas a mais de ar-condicionado ligado e geladeiras e ventiladores funcionando na potência máxima.

A estimativa foi feita por um especialista do setor elétrico que pediu para não ter seu nome revelado. Ele conta que uma família de classe média que tenha geladeiras e/ou freezers em casa, além de aparelhos de ar-condicionado, sem estar integrada na rede compartilhada, e que tenha quase dobrado o consumo no mês passado poderá se assustar neste mês ao ver a conta.

É que não basta apenas o peso da atividade-fim do serviço de energia elétrica que poderá quase dobrar. A compra de energia e a distribuição dela – mais os outros ingredientes da conta – poderão fazer com que o resultado seja ainda mais assustador: os tributos.

“Temos a incidência do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços [ICMS] sobre o serviço de energia elétrica e ainda a Contribuição Municipal sobre o Serviço de Iluminação Pública [Cosip]. A primeira aumenta proporcionalmente conforme cresce a tarifa cobrada em reais. Já a segunda aumenta na medida em que se consome mais energia”, ressalta.

Energia solar

Mas e os que estão na rede compartilhada? No Brasil, esse grupo soma pouco mais de 3%, enquanto Mato Grosso do Sul tem, aproximadamente, 11% desses consumidores residenciais.

Quem está na rede compartilhada – isto é, que gera energia solar em casa por meio de placas fotovoltaicas –, explica o especialista, gasta menos na onda de calor extremo, embora esteja diretamente relacionado aos problemas sobre as quedas constantes de energia, além de pagar menos na conta de luz, pois o consumidor comum paga parte dela.

Um levantamento feito pelo Correio do Estado apontou que, em Campo Grande, a maioria das localidades que registrou apagões e estouros de transformadores durante a onda de calor foram bairros onde vive uma população com bom poder aquisitivo ou que está em expansão residencial.

O Rita Vieira, uma das novas fronteiras imobiliárias da cidade, foi um dos bairros que sofreu com esse drama, assim como o Tiradentes.

Os problemas se concentraram sempre no período noturno, quando o sistema fotovoltaico não estava mais entregando energia à rede. Pelo contrário, os clientes da geração compartilhada estavam recebendo energia da distribuidora local, no caso, a Energisa.

A alta demanda concentrada pressionou a rede da distribuidora, fazendo com que muitos transformadores não suportassem. E onde está o problema? É que a concessionária perdeu o parâmetro de consumo dos clientes da geração compartilhada.

“Uma parte significativa desses clientes, para não dizer quase todos, aumentou os itens elétricos na casa, 
como aparelhos de ar-condicionado, entre outros utensílios. Esse aumento no consumo, porém, deixou de ser percebido com mais clareza nas leituras efetuadas pela concessionária, que antes tinha 
o controle de todo o processo”, enfatiza o especialista.

Esse “crescimento silencioso” de equipamentos que aumentam a demanda por energia em casas de geração compartilhada e que não podem mais ser percebidos pela Energisa é que levou a empresa a quase apelar para que seus clientes declarassem mudanças nas demandas elétricas de suas residências.

“E tem mais um agravante. Como na geração compartilhada o usuário gera um crédito para consumir dentro de um mesmo mês, pois foi a energia que ele forneceu ao sistema, simplesmente não teve clemência nenhuma da rede nos horários noturnos, quando não há geração fotovoltaica, [mas] manteve vários aparelhos de ar-condicionado funcionando ao mesmo tempo”, analisa.

“O que se lamenta de tudo isso é que a conta da pessoa que está na geração compartilhada poderá vir um pouco mais alta, mas bem menos que a do cliente comum. E é importante salientar que são os clientes comuns que bancam os subsídios da geração compartilhada. Esses subsídios já eram para ter acabado, mas o lobby sempre empurra adiante, usando um nome que pegou, chamando de ‘taxação do sol’. No fim, é o consumidor comum pagando pelos outros”, afirma o especialista.

onda de calor

Depois da onda de calor do mês passado, novas “bolhas” que tornam o clima abafado, geradas pelo fenômeno El Niño, não são descartadas pelos meteorologistas.

Em setembro, mais de seis municípios de Mato Grosso do Sul tiveram temperaturas acima de 40ºC. Em Campo Grande, os termômetros quase se aproximaram dos 38ºC.

Para evitar uma conta de energia alta, os especialistas do setor recomendam que as pessoas se atentem a alguns detalhes simples, mas que podem fazer toda a diferença na conta de luz.

Por exemplo, aumentar a circulação de ar natural na casa nos momentos em que a temperatura está mais baixa (como de manhã e madrugada), manter os cômodos que estiverem com ar-condicionado ligado totalmente isolados (com janelas e portas fechadas), manter a temperatura do ar-condicionado em 23ºC, cultivar plantas no interior da residência e manter o ar de dentro de casa úmido em dias mais secos.

Durante a onda de calor, MS teve níveis recordes de consumo de energia. O dia 26 de setembro foi a data de maior consumo da história do Estado: foram 1.395 megawatts consumidos simultaneamente em toda a região.

SAIBA

Na geração distribuída (GD) nos sistemas de placas solares residenciais ou comerciais, cerca de 3% dos consumidores beneficiados por sistemas fotovoltaicos recebem subsídios custeados pelos demais 97%. O subsídio inserido implicitamente às tarifas já custa R$ 13 bilhões por ano – o equivalente a 40% do custo da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), com perspectiva de aumento por efeito das diretrizes estabelecidas em lei. O subsídio médio ao consumidor com GD é da ordem de R$ 370 por mês.