Logomarca

Um jornal a serviço do MS. Desde 2007 | Domingo, 24 de Novembro de 2024

Economia

Estado tem deficit de 14,8 milhões de toneladas em armazenagem de grãos

São 595 silos em Mato Grosso do Sul, com capacidade para 12,6 milhões de toneladas de soja e milho, aponta Conab.

Correio do Estado

01 de Setembro de 2023 - 08:37

Estado tem deficit de 14,8 milhões de toneladas em armazenagem de grãos

Mato Grosso do Sul ocupa a quinta posição na produção de grãos no País, conforme aponta ranking da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Em meio ao crescimento, o deficit de 14,810 milhões de toneladas na capacidade de armazenagem pode impactar os ganhos com a produção, conforme indica a Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS).

De acordo com dados da Conab e do Sistema de Informações Geográficas do Agronegócio (Siga MS), em 2022, a capacidade de armazenamento de grãos no Estado era de 10,520 milhões de toneladas, aumento de 35% em comparação a 2013, quando a capacidade era de 7,771 milhões de toneladas.

Atualmente, existem 595 silos no Estado. Entretanto, ao considerar o acumulado deste ano, a capacidade estática de armazenagem sobe para 12,616 milhões de toneladas, alta de 19,92% em relação ao ano passado.

Sendo assim, a armazenagem de grãos comporta aproximadamente 48,12% da produção de grãos de MS, já que, segundo a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), a safra 2022/2023 apresenta uma produção média de 26,213 milhões de toneladas.

Nesse sentido, a Aprosoja- MS avalia que o armazenamento no Estado é insuficiente para o volume produtivo concentrado na região.

“De acordo com as recomendações da FAO [Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura], a capacidade de estocar deve ser 1,2 vez maior que a produção anual. Dessa forma, o deficit de armazenamento em MS é estimado em 14,810 milhões de toneladas”, aponta a associação em análise realizada a pedido do Correio do Estado.

Para a Famasul, “o expressivo crescimento da produção e a baixa taxa de crescimento da capacidade de armazenamento fazem com que MS apresente deficit de armazenagem”, explica em nota.

Estado tem deficit de 14,8 milhões de toneladas em armazenagem de grãos

PREJUÍZO

No campo da comercialização, representantes do setor destacam que os lucros acabam sendo comprometidos em razão da defasagem de depósitos adequados, tendo em vista que, ao somar a produção anual de soja e milho do Estado, a média fica entre 25 milhões de toneladas e 30 milhões de toneladas de grãos a serem armazenados, gerando um deficit entre 13 milhões de toneladas e 18 milhões de toneladas de grãos que não têm onde serem armazenados.

“Nesse caso, o produtor se expõe a vulnerabilidades, pois ocorre a necessidade de os grãos serem escoados rapidamente, por falta de espaço para armazenamento”, destaca a Famasul em seu parecer técnico.

A Aprosoja-MS corrobora que a falta de armazéns suficientes acarreta diversos desafios para os produtores, destacando-se o tempo de espera dos caminhões para descarregar os grãos no local de conservação, que costuma ser relativamente longo durante os períodos de colheita.

“Essa situação resulta em interrupções na colheita, gerando longos períodos de espera para que possam armazenar seus grãos de maneira adequada”.

“Em função da lentidão da colheita, os produtores ficam sujeitos a perdas, pois a imprevisibilidade das condições climáticas pode causar prejuízos durante esse processo, com riscos de chuvas excessivas, ventos fortes, geadas ou até mesmo acidentes com fogo”, pontua a Aprosoja-MS.

A má condição da estocagem também é destacada como motivo de prejuízo, podendo levar à deterioração dos grãos em razão de fatores como insetos, fungos e umidade, o que, por sua vez, resulta na redução da qualidade dos grãos e, consequentemente, em perdas financeiras.

O economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho (SRCG), Staney Barbosa Melo, ressalta que, para contornar as dificuldades da logística de grãos, alguns dos produtores aceleram suas vendas ou, se têm condições, armazenam essa produção em silos bag para aguardar a recomposição dos preços, mantendo os grãos protegidos das adversidades do tempo.

“Assim, é notório que uma maior capacidade para o armazenamento de grãos protege os empresários do meio rural das ações especulativas dos mercados, mas, infelizmente, existem produtores que não dispõem de capacidade suficiente e são penalizados pelos preços de mercado”, completa o economista do SRCG.

RECURSOS

A defasagem de armazenagem em MS vem se agravando em função da disparidade entre a quantidade de armazéns construídos e o aumento da produção de grãos, principalmente de soja e milho.

Sobre a disponibilidade de recursos para investimentos em armazenagem, a Famasul afirma que, de acordo com o Plano Safra 2022/2023, há uma linha de financiamento própria para a estruturação: o Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA).

“Somente para o Plano Safra 2023/2024 foram direcionados R$ 3,80 bilhões com taxa de juros de 8,5% ao ano e período de carência de 2 anos para começar a liquidar o financiamento”, explica o setor técnico da federação.

“Todavia, a taxa de juros do PCA, cujo recurso é disponibilizado no Plano Safra, inviabiliza o investimento em novos armazéns no estado de MS e no País, uma vez que o retorno será em longo prazo e o pagamento poderá ultrapassar o tempo de 20 anos”, complementa a Aprosoja-MS.

Em uma visão mais otimista, os técnicos da associação apontam que com a sinalização do mercado econômico, com melhores condições na taxa de juros, os incentivos ao produtor serão melhores.

Para Melo, a solução para o problema é de longo prazo e requer a disponibilidade de crédito barato para aqueles produtores que não têm condições de construir com recursos próprios.

Ainda de acordo com o economista, o PCA e as facilidades oferecidas pelo programa são limitantes.

“Sobretudo, para pequenos produtores que acabam não conseguindo aderir ao plano de financiamento. A solução não é fácil e necessita de maior apoio do Estado, com taxas mais atrativos e maior volume de recursos disponíveis para o produtor rural”, finaliza Melo.