Economia
Fábrica de R$ 22 bilhões entra em operação sem chance para palanques
Início da operação da indústria será um procedimento técnico-operacional interno, e não haverá evento externo, informou a assessoria da Suzano, ao Correio do Estado, sobre a ativação da unidade de Ribas do Rio Pardo ainda no mês de junho.
Correio do Estado
12 de Junho de 2024 - 07:30
Em uma época em que até lançamento de licitação de obra pública é motivo para evento político, a maior fábrica em linha única de celulose do mundo entrará em funcionamento em Ribas do Rio Pardo sem nenhum tipo de solenidade ou festa. Ou seja, a “inauguração” do empreendimento que recebeu R$ 22,2 bilhões de investimentos não poderá ser utilizado como palanque por nenhum político.
“O start-up da fábrica, como é chamado o início das operações industriais, será um procedimento técnico-operacional interno, e não haverá evento externo relacionado”, respondeu a assessoria da Suzano ao ser indagada sobre o dia exato da ativação ou sobre a possibilidade de alguma festa de inauguração.
Para efeito de comparação, em dezembro de 2012, quando da inauguração da fábrica da Eldorado Brasil Celulose, em Três Lagoas, hove “festa” com a presença do presidente em exercício, Michel Temer, e show do tenor italiano Andrea Bocelli para cerca de 800 convidados.
“As obras de construção da nova fábrica de celulose da Suzano em Ribas do Rio Pardo estão em fase final, com conclusão dentro do prazo e orçamento previstos, e atualmente o empreendimento se encontra em comissionamento. Este é o maior investimento da história de 100 anos da Suzano e um dos maiores investimentos privados do Brasil durante a sua execução, entre 2021 e 2024”.
Ainda conforme a assessoria, “a unidade entrará em operação até o final de junho de 2024, como previsto. A capacidade instalada permitirá a produção de 2,55 milhões de toneladas de celulose de eucalipto por ano”. Inicialmente, a previsão era de que o projeto estivesse pronto somente no final de 2024, mas foi antecipado em um semestre.
No pico das obras, há um ano, dez mil pessoas chegaram a trabalhar na instalação da fábrica. A partir de agora, porém, o empreendimento deve garantir trabalho permanente para cerca de três mil pessoas. Parte delas vão residir em um conjunto habitacional com mais de 900 casas que a empresa construiu em Ribas do Rio Pardo.
Imagens aéreas divulgadas rotineiramente pela empresa mostram que centenas de carregamentos de eucaliptos, procedente do distrito de Palmeira, em Dois Irmãos do Buriti, já estão estocados na fábrica para garantir o início da produção.
Porém, para garantir matéria-prima para a fábrica, a empresa, que já tem uma unidade em Três Lagoas, tem em torno de 600 mil hectares próprios de florestas plantadas no Estado. Somente no viveiro de Ribas do Rio Pardo são produzidas em torno de 35 milhões de mudas por ano.
E para abastecer esta megaestrutura, a Suzano vai utilizar os chamados hexatrens, que são carretas com seis semirreboques. Elas vão circular somente em estradas secundários, pois a velocidade é baixa para trafegar em pistas asfaltadas.
Pelo menos 16 hexatrens já estão operando, o que colabora com a retirada de pelo menos 50 caminhões das rodovias estaduais, uma vez que esses veículos circulam somente dentro de áreas da própria empresa.
EXPORTAÇÃO
Praticamente toda a produção será destinada à exportação. Quando estiver operando com a capacidade máxima, serão em torno de 140 carretas que deixarão diariamente a indústria, cada uma levando em torno 50 toneladas de celulose.
Elas vão percorrer a BR-262 até Água Clara e depois trafegar pela MS-377 até Inocência, onde está sendo concluído um terminal intermodal às margens da ferronorte para fazer o embarque desta material rumo ao Porto de Santos.
“O novo terminal está em fase final de implantação, com as obras civis já concluídas, e estará pronto para receber a produção assim que a fábrica entrar em operação”, informou a assessoria da Suzano.
Às margens da MS-240, o terminal contará com uma área construída de 24,2 mil metros quadrados, dos quais 21,5 mil metros quadrados correspondem à área de armazéns. O empreendimento contempla ainda 8,8 mil quilômetros de linha ferroviária interna e externa, que incluem ramais para vagões em reserva.
PREÇO NAS ALTURAS
Em um ano marcado pela queda significativa no preço dos grãos e da carne bovina, a celulose fez o caminho inverso e em 2024 está com os preços 35% maiores que no primeiro quadrimestre de 2023, passando de uma média de 343,7 dólares por tonelada para 464.
Nos primeiros quatro meses de 2024, conforme números da Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (Fiems), as duas indústrias locais, Suzano e Eldorado, ambas de Três Lagoas, exportaram 1,36 milhão de toneladas, o que significa redução de 5% ante igual período do ano passado.
Mesmo assim, o faturamento foi 27% maior, chegando a 631,5 milhões de dólares em quatro meses. Metade disso, US$ 315,3 milhões, é proveniente das vendas feitas para a China, que também é o principal destino das carnes e dos grãos exportados por Mato Grosso do Sul.
TROCA DE COMANDO
A inauguração silenciosa do empreendimento bilionário acontece em meio à troca de comando da Suzano. Em fevereiro a empresa anunciou que João Alberto Fernandez de Abreu, diretor-presidente da operadora logística Rumo, renunciou ao cargo para assumir a função de novo CEO da Suzano. Ele vai substituir o empresário Walter Schalka, que comandava o grupo desde 2013.
Em fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Suzano informou que a partir do dia 2 de abril Schalka e Abreu irão conduzir conjuntamente o processo de sucessão -até julho, quando a troca será efetivada.
Ainda segundo a empresa, Schalka será indicado para compor a chapa na próxima eleição do conselho de administração e depois deverá integrar comitês como os de sustentabilidade e de gestão e finanças.