Economia
Jatinho da Embraer é o mais usado nos EUA pela primeira vez
Segundo dados da Administração Federal de Aviação, na sigla inglesa, em agosto a soma anual de pousos e decolagens de modelos da família Phenom chegou a 360,9 mil
Correio do Estado
28 de Agosto de 2023 - 15:36
Pela primeira vez, um jato executivo da fabricante brasileira Embraer é o mais usado nos Estados Unidos, mercado que concentra cerca de 80% dos voos desse tipo de avião no mundo.
Segundo dados da FAA (Administração Federal de Aviação, na sigla inglesa), em agosto a soma anual de pousos e decolagens de modelos da família Phenom chegou a 360,9 mil, ultrapassando em 1.400 viagens o norte-americano Cessna Citation.
Fabricados pela Textron, diversos modelos do Citation lideravam o mercado desde que as medições específicas começaram a ser feitas, em 2001, com uma breve interrupção para o já descontinuado avião Hawker 800 em 2007 e 2008.
O resultado recompensa uma aposta feita pela Embraer nos EUA, utilizando em seu favor o modelo de negócios prevalente no país, em que grandes operadoras costumam vender serviços a vários clientes compartilhados.
É o caso da NetJet, do bilionário Warren Buffett, que em 2021 fechou um acordo para comprar cem modelos leves Phenom 300E, o de maior capacidade da família, por US$ 1,2 bilhão. Muitos dos aviões operados dessa forma acabam sendo comprados depois por seus usuários.
A mesma NetJet, uma das maiores empresas do setor nos EUA, fez uma encomenda ainda maior, de US$ 5 bilhões (R$ 25 bilhões) em maio deste ano, para comprar até 250 jatos executivos Praetor 500, um modelo maior e com mais autonomia da Embraer.
Tanto ele quanto o Praetor 600 são fabricados no Brasil. Já os dois modelos Phenom, o jato ultraleve 100 e o leve 300 são montados em Melbourne, Flórida, numa instalação inaugurada em 2011 que alavancou as vendas dos aviões nos EUA.
A Embraer atribui ao investimento específico o bom resultado do Phenom nos EUA, e afirma que o modelo é o jato executivo mais vendido mundo há 11 anos. O Phenom 100 foi lançado em 2008 e teve 400 unidades construídas, enquanto o 300 entrou em operação um ano depois, tendo mais de 600 aviões fabricados até aqui.
Segundo analistas de mercado, a vantagem competitiva da linha Phenom em comparação com a do Citation vem da adoção de um desenho focado em alta utilização, emprestando soluções da aviação comercial que fez a fama da Embraer. Com isso, o custo operacional direto por milha voada por passageiro é inferior ao do concorrente.
O custo também é menor, na casa dos US$ 10 milhões (R$ 50 milhões) o avião, cerca de um terço a menos do que os modelos americanos. Os Phenom são habilitados a voar com apenas um piloto, e a depender da configuração podem levar até dez passageiros.
A Textron, contudo, segue à frente como maior fornecedora de jatos executivos no país, incluindo aí outros modelos. Foram 178 entregas em 2022, ante 102 da Embraer, que em 2005 havia vendido meros 20 unidades por lá. "Um de cada três jatos executivos em todo o mundo é um Cessna Citation", afirmou a empresa em nota à agência Bloomberg, a primeira a trazer o novo ranking da FAA, na sexta (25).
O mercado de jatos executivos tem vivido um boom desde a pandemia de Covid-19, que teve grande impacto na aviação comercial, dadas as restrições a voos e uso de aeroportos. No ano passado, o setor foi responsável por 27% da receita líquida da Embraer, que totalizou US$ 4,2 bilhões (cerca de R$ 20,5 bilhões) no período.
No Brasil, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que é ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, comemorou a notícia da Bloomberg. "Uma prova cabal da confiança dos passageiros estadunidenses", afirmou, chamando a Embraer de "orgulho nacional".
A empresa nasceu estatal em 1969, foi privatizada em 1994 e quase teve sua operação comercial comprada pela americana Boeing, num negócio desfeito com bastante arestas em 2020. A fabricante brasileira, terceira maior do mundo, abriu um processo de arbitragem contra a gigante americana, que alterna a liderança do mercado com a Airbus europeia.
A aviação executiva, contudo, seguiria segundo o modelo do negócio fracassado com a empresa brasileira remanescente, que também manteria o portfólio de produtos de defesa, como o avião de transporte militar e reabastecimento aéreo KC-390, outra estrela da companhia.