Economia
Lista do nome sujo ganha quase 50 mil pessoas em 1 ano
Total de inadimplentes em MS passa de 1 milhão; soma das dívidas supera R$ 5,8 bilhões.
Correio do Estado
07 de Março de 2024 - 08:33
Contabilizando 49.036 novos nomes negativados no período de um ano, Mato Grosso do Sul iniciou 2024 com um total de 1,054 milhão de pessoas em cadastros de inadimplentes. Dados do Mapa da Inadimplência da Serasa revelam que, na comparação com o mesmo o ano passado, o aumento foi de quase 5%, ficando a cima da média nacional de 2,73%.
O crescimento porcentual de inadimplentes foi de 4,88%, ante o 1,005 milhão de pessoas com o nome sujo registrado em janeiro de 2023. Ainda conforme o levantamento enviado ao Correio do Estado, o valor médio das dívidas por inadimplente é de R$ 5.544. Já o valor total devido no Estado é de R$ 5,848 bilhões.
A inadimplência deu este salto no ano em que o governo federal lançou o programa Desenrola Brasil, que tem como objetivo reduzir o número de negativados. Segundo o mestre em Economia Eugênio Pavão, o crescimento da inadimplência acima da média nacional se dá pelos impactos que MS sofreu em sua economia.
“Questões estruturais, com o crescimento econômico chegando ao limite, potencializado por mudanças climáticas e geopolíticas, guerras e queda de demanda. Ou seja, o Brasil sentiu menos os impactos macroeconômicos do que o Estado”.
O economista e sócio da WGSA Gestão Empresarial Renato Gomes destaca que, de acordo com dados do Banco Central, os juros do rotativo do cartão de crédito estão em 440% ao ano, alta de quase 30 pontos porcentuais.
“Embora a tendência do juro-base da economia, a taxa Selic, apresente queda, saindo de 13% para 11%, ela é o oposto do que está acontecendo na ponta para o consumidor”.
Gomes avalia que o fator pode estar contribuindo para um aumento na base de inadimplentes, o que resultou em um acréscimo de em torno de 5% no número de inadimplentes no Estado. Em um total de 2.138.342 de pessoas adultas economicamente ativas em Mato Grosso do Sul, quase metade (49,33%) encontra-se com alguma tipo de restrição, com um montante de 1.054.824 de cadastros de pessoas físicas (CPFs) negativados em janeiro deste ano.
EXPECTATIVAS
Em análise para este ano, Pavão ressalta que as expectativas vão depender das respostas econômicas dos consumidores internacionais e da conjuntura macroeconômica. “Variação da taxa de juros e da atividade econômica local, sendo o governo, a demanda interna e a geração de renda os principais fatores preponderantes”, analisa.
O mestre em Economia acrescenta ainda que o fim de programas federais para a renegociação de dívidas, a exemplo do Desenrola Brasil, do Desenrola Fies, entre outros, colabora para a perspectiva que se baseia na estabilidade do índice de inadimplência nacional.
“Mato Grosso do Sul vai ficar na dependência da política das empresas exportadoras e da geração de renda por parte dos governos”, reforça.
Lucas Mikael salienta que a decisão de prorrogar o Desenrola Brasil até o fim deste mês é mais um fator positivo, oferecendo um alívio adicional às famílias e sustentando a expectativa de uma redução na inadimplência.
“Assim, o início deste ano é marcado por um otimismo cauteloso em relação às perspectivas de saúde financeira dos consumidores, sinalizando um período potencialmente mais estável e promissor para a economia doméstica”, analisa.
Em complemento, Renato Gomes projeta que neste ano a tendência será de continuidade do cenário que vem se desenhando nos últimos meses. “A menos que haja programas destinados à diminuição do juro ao consumidor, a inclinação será de alta”, conclui.
PERFIL
Segundo informações da Serasa, o inimigo número um da inadimplência permanece sendo o cartão de crédito, responsável por 32,36% das dívidas em janeiro deste ano no Estado.
Em segundo lugar, estavam as financeiras, com 17,36%, seguidas por serviços, com 15,03%. O varejo foi o quarto maior causador de inadimplência, com 14,82%. Já para as contas básicas, como água, energia elétrica e gás, o porcentual registrado para janeiro foi de 11,34%.
O gerente da Serasa, Thiago Ramos, ressalta que, quando o consumidor se torna inadimplente, ele não tem acesso a nenhum tipo de crédito, empréstimo e financiamento imobiliário ou de automóvel.
“Há estudos que comprovam queda da autoestima, elevação da ansiedade e depressão. O mesmo estudo destaca que, no caso de quem quitou a dívida, 45% acreditam que vão realizar sonhos de consumo este ano. Para quem não quitou, esse porcentual cai para 28%”, detalha.
O estudo da Serasa mostra também que o segmento de bancos e cartões é responsável pela maior parte das dívidas no Brasil (29,37%). Em seguida, destacam-se as utilities – contas básicas, água, luz e gás (23,09%) –, instituições financeiras (16,76%) e varejistas (10,95%).