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Economia

Queda de braço com analista marca reunião do Marfrig, dono da Seara

Analista da Empiricus causa tensão ao levantar dúvidas sobre contabilidade do frigorífico, que contesta suspeitas em encontro da Apimec

IG

13 de Dezembro de 2011 - 08:33

Queda de braço com analista marca reunião do Marfrig, dono da Seara
Queda de bra - Foto: AE

O clima ficou tenso durante reunião anual realizada pelo frigorífico Marfrig, dono da marca Seara, com analistas de investimentos, promovida na segunda-feira à tarde pela Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais).

O analista e sócio da casa de análise de investimentos Empiricus, Rodolfo Amstalden, questionou os gestores do Marfrig presentes ao encontro, incluindo o presidente do grupo, Marcos Antonio Molina dos Santos, sobre a contabilidade da empresa. A Empiricus já havia levantado dúvidas sobre o balanço apresentado pela companhia no fim de novembro.

O desconforto era aparente. No Brasil, ainda são pouco usuais confrontos públicos entre analistas e companhias com ações negociadas em bolsa. Ao que tudo indica, as rusgas entre a Empiricus e o Marfrig não devem terminar tão cedo.

“Várias das nossas questões não foram respondidas”, disse Amstalden ao iG, por telefone, à noite. “Tudo que eles perguntaram foi respondido”, afirmou o presidente do Marfrig, em entrevista concedida aos jornalistas após a reunião da Apimec, realizada em um sofisticado centro convenções em São Paulo.

“Eles (a Empiricus) nunca entraram em contato conosco”, disse Ricardo Florence dos Santos, diretor executivo de estratégia corporativa e relações com Investidores. “Isso não é verdade”, rebateu o analista. Segundo ele, a empresa vinha ignorando os questionamentos feitos em relação ao seu balanço.

 “Eu não tinha a ilusão de que o assunto seria resolvido. Eu já sabia que o debate seria assimétrico em uma reunião na qual a empresa teria todo o domínio. Mas fiz questão de participar”, disse Amstalden, alegando que não queria ser acusado depois por não ter feito as suas perguntas à empresa.

Segundo o diretor de relações com investidores da Marfrig, a empresa não foi notificada até agora nem pela CVM no Brasil nem pela SEC nos Estados Unidos, órgãos reguladores do mercado de capitais, sobre as dúvidas levantadas pela Empiricus. A empresa, segundo ele, tomou conhecimento das críticas pelo blog da casa de análise. “Não vamos responder a um blog”.

Como a própria Empiricus recomendava a compra de ações do Marfrig até bem pouco tempo, por considerá-la um bom investimento, essa mudança súbita de opinião deixa a casa de análise em uma situação vulnerável, na avaliação de uma fonte, próxima ao frigorífico.

“Nós recomendávamos, sim, a compra de ações do Marfrig, mas isso até o terceiro trimestre. O balanço do terceiro trimestre foi o gatilho para que passássemos a investigar a empresa de perto”, disse Amstalden, para quem é natural que os analistas mudem de opinião. “Nós avaliamos as empresas com base nas informações que estão disponíveis”.

Segundo ele, o fato de o Marfrig ter dedicado boa parte de sua apresentação com esclarecimentos sobre "questões de mercado", incluindo vários anexos, e ter levado auditores da KPMG à apresentação é uma prova de que a companhia está sensível às dúvidas levantadas.

Os gestores do Marfrig responderam que as suspeitas da Empiricus deviam-se, na verdade, à forma como a variação cambial é contabilizada no balanço das empresas no exterior, e que o impacto cambial explica as mudanças no patrimônio líquido das subsidiárias do grupo fora do País e nos estoques. O dólar se valorizou 19% em relação ao real entre o segundo e o terceiro trimestre.

Amstalden acredita que os executivos do Marfrig tentaram desmerecê-lo ao sugerir, enquanto respondiam às suas perguntas, que ele não "entendia" muito bem os conceitos de contabilidade. Um dos pontos que chamaram a atenção da Empiricus e a levaram a duvidar dos números apresentados são os estoques da Marfrig, que, na avaliação da casa de análise, estariam “inflados”.

O número de abates não é condizente com as vendas, alega Amstalden. O total de cabeças abatidas é muito inferior ao que seria necessário, acrescenta. A contabilização dos números para o IFRS, sistema de normas internacionais, também é colocada em xeque. Segundo Amstalden, o IRFS pode ser usado como uma desculpa.

Aquisição de ações

Felipe Miranda, analista da Gradius, com a qual a Empiricus mantém boas relações, uniu-se a Amstalden e, além de questionar a Marfrig sobre os critérios contábeis utilizados pela companhia, também levantou suspeitas sobre as constantes aquisições de ações feitas pela corretora Umuarama, que atua em nome do frigorífico, coincidentemente nos 10 minutos finais do pregão. Essas aquisições, segundo o analista, são realizadas com o objetivo de elevar os preços do papel no fechamento.

“Já não compramos ações há um tempo. A última aquisição de ações que fizemos foi no dia 24 de novembro”, disse Marcos Antonio Molina dos Santos, presidente do Marfrig. Segundo ele, todas as informações sobre a compra de ações, incluindo o dia em que a operação foi feita e a quantidade, foram informadas às autoridades e ao mercado, de forma transparente.

De forma geral, os investidores costumam gostar quando os controladores ou as tesouraria de suas empresas compram ações, o que demonstra que eles estão dispostos a correr riscos. O problema seria se eles vendessem.