Economia
Revogação parcial da reoneração anima setores de MS, mas preocupa prefeituras
Medida provisória desonera folha de pagamento de 17 segmentos, mas mantém ônus para prefeituras.
Correio do Estado
29 de Fevereiro de 2024 - 08:36
A Medida Provisória (MP) nº 1.208/2024, publicada ontem no Diário Oficial da União, revoga a decisão que determinava a mudança no regime de tributação de empresas de 17 setores da economia, com a retomada da cobrança tributária sobre a folha de pagamento dos funcionários.
Por outro lado, manteve o dispositivo para os municípios. A lei aprovada no Congresso de forma parcial prorrogou a desoneração dos setores que incluem serviços como comunicação, calçados, call center, confecção e vestuário, construção civil, empresas de construção e obras de infraestrutura, entre outros, até 2027.
Outro ponto que constava na MP e foi excluído é um dispositivo para que cidades com até 142 mil habitantes tenham sua alíquota de contribuição ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) reduzida.
Na prática, a contribuição – que com o benefício fiscal seria diminuída para 8% – continua sendo de 20% para as prefeituras. A desoneração foi adotada em 2011, substituindo a contribuição previdenciária patronal de 20%, incidente sobre a folha de pagamento, por alíquotas de 1% a 4,5% sobre a receita bruta.
Conforme as entidades que representam os setores beneficiados, é “extremamente benéfico” para o País, pois permitiu que os segmentos favorecidos ampliassem o mercado de trabalho formal.
Nesta terça-feira, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, já havia adiantado que, dos quatro pontos que integram a MP – reoneração de empresas e de prefeituras, revogação do Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse) e limitação para compensação tributária de créditos judiciais –, apenas os últimos dois continuarão texto em vigor.
A medida provisória tem validade imediata, entretanto, precisa passar por aprovação do Congresso e sanção presidencial em até 120 dias para que os efeitos sejam permanentes. O governo federal ainda deve enviar a reoneração da folha de pagamento como projeto de lei.
SETORES
Sendo um dos setores impactados, o presidente do Sindicato da Habitação de Mato Grosso do Sul (Secovi-MS), Geraldo Paiva, pontua que a construção civil e o setor de serviços são os que mais empregam no Estado.
“A revogação da MP do governo federal vem ao encontro da necessidade desses setores de continuar com a capacidade de gerar emprego e renda”, comenta, adicionando que,
de certa forma, será um respiro e mais um incentivo para os segmentos.
O diretor da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Carlos Alberto Mestriner, ressalta que o tema já havia sido aprovado pelo Congresso duas vezes.
“Taxar a criação de emprego, ainda mais em um momento de instabilidade econômica, tanto no mercado interno quanto no internacional, seria uma irresponsabilidade muito grande. Estamos aliviados”, frisa.
Em nota, o Sindicato da Indústria e da Construção Civil de Mato Grosso do Sul (Sinduscon-MS) também comemorou a decisão. “Para o setor, a manutenção da desoneração é fundamental para a continuidade da geração de empregos. A manutenção da desoneração dará mais segurança para as empresas, que poderão dar continuidade em seus empreendimentos, seguir com os investimentos
e com as contratações”, opina.
Em contrapartida, os municípios já ligaram o alerta para a decisão e pretendem lutar pela manutenção dos benefícios fiscais para a folha de pagamento das prefeituras.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) manteve a reoneração dos municípios – o que, na prática, a contribuição continua sendo de 20%.
Como resposta, a Confederação Nacional de Municípios (CNM) convocou os prefeitos do País para um ato em Brasília (DF), no dia 6 de março, contra o texto da MP. “A medida representa um cenário de total desrespeito aos municípios e de descrédito às decisões do Congresso”, disse
a CNM, em nota.
O presidente da Associação dos Municípios de Mato Grosso do Sul (Assomasul) e prefeito de Nioaque, Valdir Júnior, expressou preocupação com a situação e já confirmou ao Correio do Estado que MS estará presente na manifestação no DF. “Estamos confiantes que o Congresso Nacional vai estar conosco, os municípios”, disse.
PERSE
A equipe econômica manteve em vigor o fim do Perse, mas as resistências no Congresso geram preocupação para o Executivo.
O programa foi criado em 2021 para auxiliar as empresas do setor prejudicadas pela pandemia de Covid-19, por meio de benefícios fiscais, como alíquota zero de impostos federais e parcelamento de débitos com redução de até 100% de juros e multas.
No fim do ano passado, o governo federal publicou a MP nº 1.202, a qual revogou o Perse.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deve insistir na mudança do Perse e pretende anunciar números que mostram a perda de arrecadação com o programa em razão de abusos e fraudes.
O Tribunal de Contas da União (TCU) deve ajudar no trabalho de validação dos números da Pasta, como já ocorreu durante a tramitação da reforma tributária, para o cálculo da alíquota dos novos impostos.
Em Mato Grosso do Sul, a notícia não foi bem recebida pelos representantes do turismo, de eventos, hotéis, bares e restaurantes.
Vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Mato Grosso do Sul (Abih-MS), Marcelo Mesquita destaca que os empresários do ramo veem a decisão como um grande retrocesso para a recuperação do setor hoteleiro no Estado.
“A categoria ainda se ressente dos impactos que a pandemia impôs aos negócios, e o Perse foi considerado um grande aliado para que os empreendimentos possam manter suas atividades em ordem e consigam manter um bom nível de empregabilidade”, assegura.
Como publicado no Correio do Estado na edição de 10/2, por meio de nota conjunta,
o Sindicato Empresarial de Hospedagem e Alimentação de Mato Grosso do Sul (Sindha-MS) e a Federação de Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Mato Grosso do Sul (Sistema Fecomércio-MS) já afirmavam que eram contrários ao fim do programa.
“Muitas empresas contraíram altas dívidas durante a pandemia, para manter suas atividades em funcionamento, dívidas essas que iniciaram com juros de 3,25% e que agora passam de 17%. Por isso, o Perse tem sido o melhor meio de retomada econômica para essas empresas do setor”, dizia a nota conjunta.
PROCESSO
A decisão de Lula já era aguardada e foi fruto de um acordo feito com lideranças do Congresso, fechado ainda na semana passada. O anúncio da revogação foi realizado pelo ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Alexandre Padilha.
A prorrogação da isenção de impostos foi aprovada pelo Congresso em 2023 por mais quatro anos, porém, o presidente Lula vetou a medida. Em seguida, o Congresso derrubou o veto presidencial.
Mesmo assim, em dezembro do ano passado, uma nova MP foi editada pelo presidente, reonerando os setores gradualmente até 2027 e incluindo outras pautas para melhorar a arrecadação, como a revogação dos benefícios fiscais do Perse e a limitação no porcentual para compensação tributária por decisões judiciais passadas.