Economia
Selic fecha o ano em 11,75% e não deve sair de dois dígitos em 2024
Com a quarta redução de 0,5% seguida, juros básicos chegam ao menor nível em 2 anos.
Correio do Estado
14 de Dezembro de 2023 - 08:15
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) realizou ontem a última reunião de 2023, com o quarto corte de 0,50 ponto porcentual (p.p.) na taxa básica de juros do País, a Selic, que fechou o ano em 11,75%.
Confirmando a expectativa dos analistas, o porcentual se consolida como o menor dos últimos dois anos. Com o corte considerado conservador, especialistas avaliam que a taxa não deve sair dos dois dígitos no ano que vem.
O ciclo de cortes começou em agosto de 2023, um ano após a Selic ficar estagnada em 13,75%. Na ocasião, a taxa foi a 13,25% ao ano, na sequência foi a 12,75% em setembro, a 12,25% em novembro, e ontem fechou em 11,75% ao ano.
Patamar até então estabelecido como o mais baixo desde março de 2022, quando estava em 10,75% ao ano. Para o mestre em Economia Lucas Mikael, o comunicado do Copom reforça a tendência de mais duas quedas na mesma proporção para as próximas reuniões.
“Eles avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, analisa.
O economista destaca que, ao levar em consideração as projeções de inflação acima da meta, as expectativas desancoradas e o hiato do produto estreito, faz mais sentido o Copom manter uma postura mais cautelosa, seguindo com o ritmo de 0,50 p.p., reduzindo o risco de uma desancoragem adicional das expectativas em um ambiente de incertezas acima do usual.
Mikael enfatiza que, apesar de duas guerras em andamento e da atual ameça do início de uma terceira – e essa bem próximo a Mato Grosso do Sul –, o cenário é de relativa estabilidade macroeconômica, tanto em nível nacional e quanto internacional.
“Tal fato contribui diretamente para o controle inflacionário brasileiro e, por consequência, abre espaço para a execução de uma política monetária da ordem expansionista, como a que vemos por meio da redução da taxa de juros”.
Para os consumidores e empresários, Mikael destaca que a redução na taxa básica de juros é um grande sinal de incentivo ao consumo, uma vez que o crédito tende a ficar mais barato, porém, a longo prazo.
“O crédito fica mais barato, pois a decisão de quem tem o dinheiro para emprestar é sempre baseada na taxa Selic. Acima dela, o risco de inadimplência da operação é maior”, afirma.
Ele ainda destaca que o novo corte pode reduzir o custo de financiamentos, empréstimos, cheque especial e cartão de crédito. “O alívio, porém, é pequeno, em razão da enorme diferença entre a Selic, usada como bússola pelo mercado, e as reais taxas cobradas por bancos e financeiras ao conceder um crédito”, avalia Mikael.
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FUTURO
Ao considerar o bom comportamento do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação, com acumulado de 4,68%, a projeção do mercado financeiro é de que a taxa de juros continue recuando ao longo de 2024, e que termine o próximo ano em 9,25% ao ano.
No entanto, há aqueles que não acreditam que a taxa reduza abaixo de dois dígitos até o fim de 2024.
O chefe de Economia do Bank of America, David Beker, vê riscos de baixa nessa projeção e avalia que a gestão monetária dependerá, em particular, do comportamento dos Treasuries, os títulos do Tesouro americano, do Federal Reserve (Fed) e de uma maior definição da questão fiscal brasileira.
Para o banco americano Citi, a taxa básica da economia não cairá para o patamar de um dígito no ano que vem, o que certamente representará uma grande decepção, dadas as expectativas anteriores.
O Citi aponta, entre outros fatores que balizam a sua análise, a dificuldade para o Brasil manter a taxa de inflação abaixo de 4%. Já a perspectiva do mercado, publicada no boletim Focus, aponta a Selic em 9,25% em 2024.
Em entrevista ao Valor Econômico, o sócio e gestor de crédito privado da JGP, Alexandre Muller, também concordou com a manutenção dos dois dígitos para o ano que vem.
“A gente vê a curva de juros futuros precificando uma Selic em torno de 9% a 9,5%, mas, em 2024, vamos seguir flertando com os dois dígitos”, avaliou.
O economista Lucas Mikael ressalta que, para a próxima reunião, ainda é esperado que a trajetória de queda da taxa Selic continue, porém, o grande divisor de águas será a segunda reunião do Copom, prevista para março.
“Um dos principais pontos avaliados para a tomada de decisão é a situação das contas públicas nacional, cuja sinalização atual do Executivo federal é de necessidade de ajustes no arcabouço fiscal, dada a dificuldade do governo em cumprir a meta de zerar o deficit público no ano de 2024. Então, podemos esperar a nova rota de colisão entre os presidentes do Brasil e do Banco Central, por conta das visões diferentes na condução da política monetária brasileira”, analisa.
Desde o último comunicado, o BC já havia sinalizado pelo menos dois cortes na taxa de juros em meio ponto porcentual.