Economia
Setor de serviços cai 0,6% após 5 meses de crescimento
Queda foi puxada pelo recuo nos serviços de transportes em meio à alta dos preços. Diferentemente da indústria e do varejo, setor fechou o 3º trimestre no azul, com avanço de 3%. No ano, alta acumulada é de 11,4%.
G1
12 de Novembro de 2021 - 08:39
O volume de serviços prestados no Brasil caiu 0,6% em setembro, na comparação com agosto, interrompendo uma sequência de 5 meses de crescimento, mostram os dados divulgados nesta sexta-feira (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na comparação com setembro do ano passado, entretanto, houve avanço de 11,4% – a sétima taxa positiva consecutiva.
"Com o resultado de setembro, o setor ainda ficou 3,7% acima do patamar pré-pandemia, registrado em fevereiro do ano passado, mas está 8% abaixo do recorde alcançado em novembro de 2014", destacou o IBGE.
Setor de serviços registra queda em setembro após cinco taxas positivas seguidas — Foto: Economia/g1
O resultado frustrou as expectativas. A mediana de 25 projeções captadas pelo Valor Data projetava avanço 0,5% em setembro ante agosto. O intervalo de projeções ia de queda de 0,4% a alta de 0,8%.
Mesmo com a queda de setembro, o setor ainda acumula avanço de 11,4% no ano e conseguiu fechar o 3º trimestre no azul (3%). Em 12 meses, registra alta de 6,8%, maior taxa da série histórica, iniciada em dezembro de 2012.
Alta de 3% no 3º trimestre
Diferentemente da indústria e do varejo, o setor de serviço fechou o 3º trimestre no azul, com avanço de 3% na comparação com os meses anterior, após alta de 2,1% no 2º trimestre, chegando a 5 trimestres seguidos de crescimento.
Na comparação com o 3º trimestre do ano passado, o avanço foi de 15,2%.
Volume de serviços acumulado em 12 meses - setembro/21 — Foto: Economia g1
Inflação pesa nos serviços de transportes
Quatro das 5 atividades pesquisadas tiveram queda na passagem de agosto para setembro, com destaque para os transportes (-1,9%), que registraram o resultado negativo mais intenso desde abril de 2020 (-19%), impactado, segundo o IBGE, pela alta nos preços das passagens aéreas, no transporte rodoviário de cargas e também no ferroviário de cargas.
Veja o resultado dos subgrupos de cada grande atividade:
- Serviços prestados às famílias: 1,3%
- Serviços de alojamento e alimentação: 1,7%
- Outros serviços prestados às famílias: zero
- Serviços de informação e comunicação: -0,9%
- Serviços de tecnologia da informação e comunicação (TIC): -1,2%
- Telecomunicações: -1,4%
- Serviços de tecnologia da informação: -0,5%
- Serviços audiovisuais: 0,8%
- Serviços profissionais, administrativos e complementares: -1,1%
- Serviços técnico-profissionais: 1,7%
- Serviços administrativos e complementares: -1,6%
- Transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio: -1,9%
- Transporte terrestre: -1%
- Transporte aquaviário: -1,7%
- Transporte aéreo: -9%
- Armazenagem, serviços auxiliares aos transportes e correio: 0,6%
- Outros serviços: -4,7%
“A queda do setor de serviços se deu de maneira relativamente disseminada. Quando observamos por segmentos, as principais pressões negativas vieram, além do transporte aéreo de passageiros, de serviços financeiros auxiliares, investigado dentro de outros serviços, e de telecomunicações, dentro do setor de serviços de informação e comunicação”, afirmou o gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo.
Houve queda no volume de serviços em 20 das 27 unidades da federação. O maior impacto veio de São Paulo (-1,6%), seguido por Minas Gerais (-1,3%), Rio Grande do Sul (-1,3%), Pernambuco (-2,2%) e Goiás (-2,2%). Já Rio de Janeiro (2,0%), Distrito Federal (2,9%) e Mato Grosso do Sul (3,6%) tiveram as maiores altas.
Serviços às famílias têm 6ª alta, mas segue abaixo do nível pré-pandemia
Com a sexta taxa positiva consecutiva, o setor de serviços prestados às famílias (1,3%) foi o único que manteve avanço na passagem de agosto para setembro.
“Esses são justamente os serviços que mais sofreram com os efeitos econômicos da pandemia e têm mostrado algum tipo de fôlego, de crescimento", afirma Lobo, que destaca que o setor ainda está 16,2% abaixo do patamar pré-pandemia, de fevereiro do ano passado.
Segmento de turismo cresce 0,8%
O índice de atividades turísticas cresceu 0,8% frente a agosto, quinta taxa positiva consecutiva, acumulando ganho de 49,9%. Contudo, o segmento ainda se encontra 20,4% abaixo do patamar pré-pandemia.
Piora das expectativas
O setor de serviços é o que possui o maior peso na economia brasileira e foi o mais atingido pela pandemia de Covid-19. Nos últimos meses, tem sido o principal destaque de recuperação, favorecido pelo avanço da vacinação e maior mobilidade da população.
Apesar do setor de serviços se manter acima do patamar pré-pandemia, a atividade econômica tem perdido fôlego e mostrado sinais de desaceleração. As vendas do comércio, por exemplo, caíram pelo 2º mês seguido em setembro e o setor fechou o 3º trimestre com retração de 0,4%. A indústria também fechou o terceiro trimestre no vermelho e acumula 4 meses seguidos de perdas.
"Com o número de hoje temos os dados fechados do 3 trimestre das principais pesquisas do IBGE e é seguro dizer que a economia parou no trimestre encerrado em setembro", avaliou o economista-chefe da Necton, André Perfeito.
A inflação persistente, a crise hídrica, o desemprego ainda elevado e as elevadas incertezas fiscais e politicas têm piorado as perspectivas para a economia brasileira. O mercado financeiro tem revisado para baixo as projeções de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) e elevado as estimativas para a inflação e para a taxa básica de juros (Selic).
A inflação atingiu 10,67% no acumulado em 12 meses até outubro, acima do esperado. A expectativa do mercado financeiro para o crescimento do PIB em 2021está atualmente em 4,93%, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central, após tombo de 4,1% em 2020. Para 2022, a média das projeções está em 1%.
O mercado projeta atualmente uma Selic em 9,25% ao ano no fim de 2021. Entretanto, para o fim de 2022, os economistas subiram a expectativa para a taxa Selic para 11% ao ano, o que pressupõe crédito mais caro e mais freios para o consumo e investimentos.