Educação
Cai aprendizado de matemática no último ano do ensino médio, aponta levantamento
Índice é ainda pior considerando os níveis sociais e de raça. Em língua portuguesa, a evolução ainda é pequena.
G1
21 de Março de 2019 - 08:36
Dados divulgados pelo movimento Todos pela Educação nesta quinta-feira (21) apontam que o aprendizado de matemática dos estudantes do 3º ano do ensino médio caiu 0,7 ponto percentual (pp) no Brasil entre 2007 e 2017. Isso quer dizer que os concluintes desta etapa de ensino estão saindo da escola sabendo menos do que os estudantes formados há uma década. Nas escolas públicas, a queda foi ainda maior: de 4 pp. O índice piora quando a comparação considera raça e o nível socioeconômico do estudante.
A análise do Todos foi feita com base nos dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), do Ministério da Educação (MEC), e busca monitorar se os alunos estão aprendendo o que deveriam naquele ano de ensino.
A conclusão é que o aprendizado dos estudantes que estão no último ano do ensino médio não só avançou pouco em uma década, como regrediu em matemática.
Em língua portuguesa, a situação melhorou um pouco de 2007 a 2017, mas o nível registrado em 2017 é praticamente o mesmo de 2011.
"No ensino médio, constatamos um cenário extremamente crítico de aprendizagem, em que os índices estão praticamente estagnados nos últimos 10 anos", diz Caio Sato, coordenador do núcleo de inteligência do Todos pela Educação.
Aprendizagem de matemática
Em 2007, os índices do Saeb mostravam que 9,8% dos estudantes no 3º ano do ensino médio apresentaram o aprendizado adequado dos conteúdos em matemática. Em 2017, esse índice caiu para 9,1%.
Na rede pública, apenas 4% dos estudantes que estavam no último ano do ensino médio em 2017 haviam aprendido o que se esperava em matemática nesta idade, ou seja, 96% deles apresentavam déficit. Nas escolas da rede privada, o índice de alunos com aprendizado adequado foi de 39,3%.
Os dados apontam que o nível socioeconômico do estudante influi no desempenho escolar. Nas escolas que concentram alunos de menor renda, apenas 3,1% aprenderam tudo o que deveriam de matemática no 3º ano do ensino médio. Nas escolas que concentram estudantes de maior renda, o aprendizado adequado chegou a 63,6% do total de alunos.
Em relação à raça, alunos que se declaram pretos aprenderam 4,1% do conteúdo esperado em matemática; pardos, 5,7% e brancos, 16%.
Os dados que medem os conteúdos de língua portuguesa aprendidos pelos alunos do 3º ano do ensino médio indicam um cenário um pouco melhor, mas ainda insatisfatório. Em uma década, o índice de aprendizagem nesta área cresceu 4,6 pontos percentuais (pp) no Brasil, em média, mas isso significa que só 29,1% dos estudantes do último ano do ensino médio haviam aprendido o que se considera adequado para a idade – 70,9% apresentavam déficit de ensino.
Se nas escolas da rede privada 67,5% dos estudantes haviam aprendido tudo o que era esperado em língua portuguesa no 3º ano do ensino médio, na rede pública a porcentagem cai para 22,7%.
Em relação ao nível socioeconômico, 83% dos estudantes de maior renda aprenderam o conteúdo esperado, enquanto na população de menor renda, apenas 17% atingiu os níveis adequados de aprendizagem.
Quando analisada a raça dos estudantes, também há variações. Entre os autodeclarados pretos, 21,7% atingiram os níveis adequados de aprendizagem contra 24% dos pardos e 40% dos brancos.
Metas do Todos pela Educação
O relatório divulgado nesta quinta analisa uma das cinco metas definidas pelo Movimento Todos pela Educação para acompanhar a evolução do ensino e aprendizagem no Brasil. Trata-se da meta 3: "todo aluno com aprendizado adequado ao seu ano".
Veja quais são todas as metas:
- Toda criança e jovem de 4 a 17 anos na escola
- Toda criança plenamente alfabetizada até os 8 anos
- Todo aluno com aprendizado adequado ao seu ano
- Todo jovem com ensino médio concluído até os 19 anos
- Investimento ampliado e bem gerido
O que é aprendizado adequado?
Para medir se um aluno aprendeu ou não o que se esperava dele até aquele ano, o Todos pela Educação usa, como referência, o nível médio de alguns países que servem de modelo para o sistema educacional do Brasil.
Em 2006, o movimento reuniu especialistas para desenvolver um método de comparação entre os resultados do Brasil no Saeb com o resultado médio dos países que participam do Pisa, o Programa de Avaliação Internacional dos Estudantes, aplicado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).
No ensino médio, o desempenho médio dos países no Pisa equivalem, no Saeb, às notas 300 em língua portuguesa e 350 em matemática.
"Consideramos que os estudantes têm aprendizado adequado quando atingem ou superam os níveis correspondentes ao seu ano nas avaliações do Saeb", diz o relatório.