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Esporte

Campeão e recordista mundial, Breno Correia brilha após superar doença que quase o fez desistir

Com apenas 19 anos, o nadador de 1,88m recebeu a responsabilidade de fechar os revezamentos.

Globo Esporte

30 de Dezembro de 2018 - 19:41

Na campanha da natação brasileira no Campeonato Mundial em piscina curta (25m) de Hangzhou, na China, ninguém brilhou mais do que o baiano Breno Correia. Com apenas 19 anos, o nadador de 1,88m recebeu a responsabilidade de fechar os revezamentos 4x100m e 4x200m livre. Em ambos, foi a peça-chave para que as equipes subissem ao pódio.

No 4x100m livre, ao lado de parceiros badalados como Cesar Cielo, Marcelo Chierighini e Matheus Santana, obteve o melhor parcial do quarteto e assegurou um bronze na batida de mão. No 4x200m, concluiu uma prova histórica, na qual o time brasileiro bateu o recorde mundial e levou a medalha de ouro à frente da Rússia, China e Estados Unidos.

A consolidação de Breno no cenário internacional confirma expectativas depositadas em um atleta que é a principal joia da nova geração das piscinas, com envergadura de 2,10m, extremamente focado e que tinha resultados chamativos desde as categorias de base. Mais do que isso, lança luz sobre possibilidades para os Jogos Olímpicos de Tóquio, em julho de 2020, tanto em provas de revezamento quando em individuais.

- A gente sabe que faltam quase dois anos para a Olimpíada, ja está batendo à porta. Procuro me manter calmo com isso, porque sei que tem muita água para nadar e muita competição para participar ainda. Então, eu espero deixar um passo de cada vez - afirmou o nadador.

Breno tem como melhores tempos, em piscina longa (50m, a mesma distância olímpica), 48s78 nos 100m livre e 1min47s9 nos 200m livre, registrados no início de 2018. Mas sua ascensão meteórica promete muito mais em 2019, ano em que serão realizados o Campeonato Mundial em piscina longa em Gwangju, na Coreia do Sul, e os Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru.

Em meio a essa miríade de números e compromissos, os feitos de Breno tornam-se ainda mais impressionantes dado o percalço que superou para se manter no esporte de alto nível. Com 15 anos, já nadador do Flamengo, no Rio, o nadador começou a ficar doente com muita frequência. As marcas, antes promissoras, passaram a retroceder.

- Parecia que os músculos cansavam mais rápido. As pernas cansavam antes do que deveriam, os braços cansavam antes do que deveriam. E além disso eu chegava à borda um pouco abafado, sem pegar ar. E isso ia só aumentando à medida que o treino ia passando. Aí meus resultados pioraram. Comecei a aumentar tempos, não conseguia repetir as marcas. Pensei comigo "opa, tem alguma coisa de estranho" - disse.

Revezamento do Brasil conquista medalha de bronze no Mundial de Natação da China

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Seus pais, Zigomar e Cássia, que tinham deixado Salvador para arriscar uma mudança para o Rio por causa das braçadas do filho, ficaram preocupados. Procuraram os responsáveis pela natação do Flamengo, que recomendaram um pneumologista em São Paulo. O diagnóstico apontou asma e rinite alérgica. A combinação entre água, produtos químicos e o esforço desencadeavam espasmos que prejudicavam sua natação - na verdade, o impediam de fazê-lo.

Para os pais, a natação estava deixando Breno doente. E eles chegaram ao consultóriuo da médica Yara Fiks, em São Paulo, decididos a pedir que ela lhes ajudasse a convencê-lo de largar o esporte.

- Eles vieram aqui e pediram para eu convencer o Breno, que estava do lado de fora da sala, a parar de nadar. E aí eu vi aquele menino daquele tamanho, com 15 anos, e falei "de jeito nennhum" - contou Yara.

- Eu queria que o Breno desistisse de nadar. Quem não deixou foi a doutora Yara. Ela disse assim: "Não! Ele tem potencial para continuar nadando e você vai tirar, vai deixar a carreira dele?" Mas minha preocupação era que ele estava ficando muito doente - complementou Cássia.

Yara propôs que os pais deixassem que ela tentasse um tratamento à base de medicamentos inalatórios ou de aspiração - as famosas bombinhas para asmáticos. Se não desse certo, que então retirassem o filho das piscinas.

Seis meses depois, a médica lembra-se que Breno voltou ao seu consultório em São Paulo com o pulmão e a saúde mais leves. E o peito mais pesado. Assim que entrou na sala, exibiu orgulhoso quatro medalhas conquistadas em um campeonato brasileiro de base. Geralmente, o nadador usa os medicamentos diversas vezes ao dia durante o período de treinamento e competições. Quando está de férias, sem fazer esforço físico, reduz a utilização.

- Para falar a verdade, eu nunca quis parar de nadar. E desde que passei a usar os remédios, senti muita melhora nos treinos. Consegui respirar melhor e isso se refletiu nos tempos - disse Breno, que atualmente usa remédios que são liberados pelas autoridades antidoping.

- A medicação dele é fácil de tomar, só que se não ficar em cima o Breno esquece. Eu tenho que ficar sempre lembrando - brincou Zigomar, o pai.

A natação brasileira agradece pela persistência geral. Desde o início de 2017, ele descartou propostas de universidades dos EUA (como as de North Carolina State e Auburn) e passou a defender o Esporte Clube Pinheiros, principal equipe de natação do país, onde treina diariamente ao lado de Cielo, Chierighini, Santana, Pedro Spajari, Gabriel Santos. Só que, hoje, Breno está no mesmo patamar deles.

- Ele já vai disputar vaga no 4x100m livre para os grandes eventos. Com certeza, ele é o único desses nadadores que está no mesmo patamar praticamente nos 100m livre e nos 200m livre. Então acredito que ele venha a ser muito importante para o Brasil - afirmou Alberto Pinto da Silva, o Albertinho, técnico de Breno no Pinheiros e na seleção nacional.

Ao longo de 2018, Breno deu as amostras do que pode fazer. Além dos pódios em Hangzhou - onde também foi quinto colocado nos 200m livre-, ele também ganhou seis ouros no Campeonato Sul-Americano de natação em Trujillo, no Peru, em novembro, e dois nos Jogos Sul-Americanos de Cochabamba, na Bolívia, em maio.

- A gente sempre sonha alto quando passa por uma fase boa, e essas competições ajudaram a aumentar minha auto-estima - concluiu.

Que continue assim, com fôlego de sobra para quem já está se habituando à ideia de ser o novo respiro da natação brasileira.