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Esporte

Metade das entidades esportivas de MS ficam sem recursos por inadimplência

Na entrevista, Komiyama faz um balanço de 2010 para o desporto local, fala sobre o Centro de Excelência

Midiamax

26 de Janeiro de 2011 - 08:40

Coronel reformado da Polícia Militar, o campo-grandense Julio César Komiyama ocupa hoje o cargo de diretor-presidente da Fundação de Desporto e Lazer de Mato Grosso do Sul (Fundesporte), entidade responsável por coordenar os eventos esportivos no Estado e o FIE (Fundo de Investimentos Esportivos). Ele substituiu Dirceu Lanzarini, que deixou o cargo para se tornar prefeito de Amambai.

Na entrevista, Komiyama faz um balanço de 2010 para o desporto local, fala sobre o Centro de Excelência, sonho antigo dos dirigentes que visa ‘formar’ atletas para disputar as Olimpíadas de 2016, e nega que para conseguir verba na Fundação, é preciso ter ‘amigos’ ali dentro.

Coronel, primeiro faça uma avaliação do ano passado para o esporte sul-mato-grossense.
Julio César Komiyama
– Primeiramente gostaria de dizer que este ano foi atípico devido ao pleito eleitoral. Nós tentamos cumprir todos os eventos da Fundesporte, tivemos primeiro que atender nossa demanda, nosso calendário. E depois as Federações, os pedidos, das prefeituras também. Algumas entidades foram prejudicadas, não deu para atender a todas. As nossas atividades também foram prejudicadas, pois tivemos que adiantar os nossos Jogos Escolares, Jogos Abertos, também devido ao período eleitoral. Mas em 2010 creio que nós cumprimos nossa meta.

O governador colocou como uma de suas metas para este segundo mandato a construção do Centro Olímpico. Ele vai mesmo sair do papel?
Julio César Komiyama
– Nós estamos dependendo da liberação dos parques. Há um interesse nosso no Parque Ayrton Senna. Saiu até no jornal um vereador falando que faria um Centro Olímpico, que já conseguiu a verba, que estava tudo acertado. Eu acho que se esse vereador conseguiu a verba, ele deu um passo primeiro que a gente. Hoje os parques estão com o município e, talvez, volte um ou dois para o Estado. Nós ainda não sabemos se vai retornar. Mas nós pretendemos fazer sim. Há o interesse também da Fundação em ter um centro esportivo para acolher nossos atletas, para que não percamos esportistas para outros estados, principalmente os escolares.

Como o centro funcionaria?
Julio César Komiyama
– O centro teria todas as modalidades e infraestrutura. O objetivo é que tenhamos equipes treinando aqui dentro. Se não conseguir fazer o centro, os atletas ficarão em seus municípios e vamos dar toda cobertura para ele treinar. A avaliação será feita em Campo Grande com técnicos contratados para isso. Vamos tentar transferir a Fundesporte para dentro do Centro, esse é outro objetivo. Fazer alojamento para os atletas, pois hoje os atletas se hospedam em escolas. Aí sim facilita e dá para desenvolver o esporte melhor.

O senhor está no meio esportivo há muito tempo. Pode traçar um perfil comparativo entre a gestão do PT e a do PMDB em relação ao esporte?
Julio César Komiyama
– Não existe uma comparação, pois cada um tem um tipo de trabalho, olha o esporte de forma diferente. No governo do PT foi um jeito, o atual é outro. Depende de cada presidente. Cada um tem um jeito de trabalhar. Temos que ver o que é melhor para o Estado. Hoje, graças a Deus, a Fundesporte está muito mais conhecida nos municípios. Hoje, todas as cidades do Estado conhecem a logo da Fundesporte. Antes, que eu saiba, isso não acontecia. Hoje, em qualquer competição lá fora, Mato Grosso do Sul é respeitado em todas as modalidades.

A Fundação tem um levantamento de quantas federações e associações foram atendidas neste ano?
Julio César Komiyama
– Cerca de 50% das federações foram atendidas, porque ainda têm várias federações inadimplentes, e vamos encontrar esse problema em 2011. Esse é um alerta que devemos fazer. Se estiver inadimplente, não tem como fazer convênio com ela. Não podemos mais usar outra federação para fazer o evento dela. É bom alertar para que essas federações se preparem. Em 2010 atendemos muitas associações, mas fica difícil ajudar quase todas. Se ajudar uma de Campo Grande, temos que ajudar do Estado inteiro. Então ajudamos as que mais necessitam. Nós ainda atendemos mais de 90% dos municípios, logicamente levando nossos eventos nesses municípios e ajudando nos deles.

Em 2010 o recado sobre a inadimplência foi dado aos presidentes das federações. Houve alguma mudança?
Julio César Komiyama
– Algumas federações sim e outras deixaram a desejar, inclusive algumas ficaram inadimplentes durante o período de 2010. Algumas reclamaram até que não têm dinheiro para pagar dívidas. Algumas fizeram eleições, não fizeram ata, não levaram em cartório... A Fundação não pode pagar a dívida dela. Aí, no caso, ela foi má administrada.

A atual forma de distribuição do FIE não atrapalha no planejamento das Federações?
Julio César Komiyama
– Na verdade, antes tinha o rankeamento. Eu acho que era ruim. Se você fizer um rankeamento, tem que fazer um estudo antecipado de todas as modalidades. Talvez esse ano podemos fazer um estudo para que, em 2012 ou 2013, fazer rankeamento. Agora o objetivo é dar prioridade aos esportes olímpicos. Isso é uma determinação do Ministério do Esporte. Estamos dando uma olhada melhor para essas federações. O pessoal reclama: ‘Ah, o automobilismo recebeu um dinheiro maior’. Mas você tem que ver o benefício que ele trás para o Estado, que é maior que qualquer outra Federação: Stock Car, Fórmula Truck... São exemplos. Não estou desfazendo das outras Federações. Lógico que se uma Federação pequena trouxer um Campeonato Brasileiro, nós vamos apoiar. É importante ainda destacar que as federações não podem viver à custa do governo, ela tem que correr atrás de patrocínio também. É isso que temos que mostrar.

Porque a Federação de Motociclismo é uma das que mais recebe verbas, sendo que não é um esporte olímpico? Para o Mundial de MotoCross recebeu R$ 1,4 milhão...
Julio César Komiyama
– Primeiro é a que mais faz eventos. No Mundial de MotoCross, a verba não foi nossa, foi do Governo do Estado. Foi um esforço conjunto para trazer o Mundial. Qual a federação que trouxe isso, que levou Mato Grosso do Sul para o mundo? Nós ficamos mais de 30 dias sendo divulgados no mundo. Olha o benefício que trouxe. A Federação teve ainda uma programação que movimentou o Estado, como o Estadual de MotoCross.

O Estadual de Motovelocidade, por exemplo, tem cinco etapas e não reúne mais de cinco pilotos em cada. Em 2010, recebeu R$ 55 mil. Ele é realizado sempre em conjunto com outros eventos que também recebem verba da Fundesporte, no Autódromo da Capital. Por que tanta verba em um só evento que não movimenta o Estado todo?
Julio César Komiyama
– Eu faço o convênio com cada uma. Se elas querem realizar o evento no mesmo local, é problema deles. Eu faço o convênio separado. O pessoal tem que entender é que, no final de tudo, tem a prestação de contas. O dinheiro é do Estado. Ele tem que se justificar no que gastou aquilo e, se ele não fizer isso, ele tem que pagar. Se ele não pagar, vai ficar inadimplente.

A Fundesporte tem conhecimento de alguma entidade que recebeu verba e não realizou o evento?
Julio César Komiyama
– Que eu saiba, na minha gestão, isso nunca aconteceu, pois na prestação de contas tem foto, propaganda, entrega de prêmios... O que pode acontecer são os atrasos. Se o evento não acontecer, há a devolução do dinheiro. Na verdade ela não devolve. Como está na conta da Federação, o dinheiro é extorquido. Se ela saca o dinheiro para iniciar o evento, ela tem que prestar contas.

Em 2009, a Federação de Biribol ficou de realizar o evento em um domingo. No outro dia, o presidente disse que iria divulgar os resultados, mas o evento não tinha sido realizado. A Fundesporte toma algum tipo de providência com esses casos?
Julio César Komiyama
– É assim: a gente deposita na conta. Se ela não realizou, é problema dela. Se ela não justificou, é problema dela. Ela vai ter que prestar contas depois. Houve ou não houve? Não interessa. Ela vai prestar contas do que foi gasto. Se ele não usou o dinheiro, ele pode justificar o motivo de o evento não ter acontecido. Ele tem um prazo de uso desse dinheiro, ou ele devolve ou faz o evento. Se realizou ou não, é problema dele. Ele vai prestar conta daquilo depois.

Alguns presidentes de Federações dizem que para conseguir verba na Fundesporte tem que ter ‘amigos’ lá dentro. Eles citam inclusive a Federação de Tênis de Mesa. Isso é verdade?
Julio César Komiyama
– Todos que vieram aqui foram atendidos. No tênis de mesa, eu atendi mais a Associação Nipo do que a própria Federação. Na verdade, eu uso a Federação de Tênis de Mesa para realizar o “Esporte + Lazer = Saúde”, do Governo do Estado. Dos 30 municípios atendidos este ano com esse projeto, todos receberam uma mesa doados por nós. Aí o pessoal fala: ‘Mas o tênis de mesa recebeu 600 mil’. São 600 mil mesmo. Se você pega esse dinheiro e divide por 30 cidades, são 20 mil por etapa.

A prefeitura não dá uma contrapartida nesses eventos?
Julio César Komiyama
– Não, a prefeitura dá o local apenas. Muitas vezes dá também a alimentação do pessoal que está ali, como cachorro-quente, refrigerante. Tem Federação que já chegou aqui e não soube nem fazer o projeto. Quando eu disse que tinha que prestar contas, virou as costas e foi embora. Ela achou que eu ia dar o dinheiro e só. Olha o nível que é. Eu não pude atender a todos, mas os que eu não atendia, eu dava algo em troca, como arbitragem, premiação...