Esporte
O estilo Rafinha: humildade, religião, estômago forrado e cabeça feita
Profissionais que acompanharam o garoto na base comemoram sucesso dele no Flamengo e elogiam seu crescimento dentro e fora dos campos
Globo Esporte
08 de Fevereiro de 2013 - 10:39
Inteligente, veloz, humilde e merecedor do sucesso que começa a alcançar. Essas são opiniões de profissionais que acompanharam o início de Rafinha dentro e fora dos campos. As boas atuações e os belos gols diante de Vasco e Friburguense não surpreenderam o técnico Paulo Henrique, que trabalhou com o jogador na categoria de juniores. E muito menos Carlos Noval, coordenador da base e uma espécie de segundo pai para o jovem talento, que deixou para trás o pão com manteiga e o moicano, curtindo a boa fase de estômago forrado e cabeça feita.
- O Rafinha é profissional demais, muito comprometido. Não falo por ele estar bem no profissional, isso vem desde a base. Ele ficava chateado quando falavam que ele era baixinho, que não ia chegar... Eu sempre disse para ele ter calma, que quando chegasse a hora, ele estaria amadurecido. É o que está acontecendo. Ele é merecedor de tudo que começa a conquistar, pois é muito humilde, inteligente, absorve bem tudo que é passado. É uma grande satisfação afirmou Noval.
Rafinha não conheceu seu pai biológico, mas teve em Noval a figura masculina que sempre o orientou e que insistia para ele cortar o moicano que usava quando era dos juniores. Agora, ao fim de cada partida pelo profissional, o coordenador faz contato com o jogador para alertá-lo sobre as armadilhas do futebol.
Ele (Rafinha) é merecedor de tudo que começa a conquistar, pois é muito humilde, inteligente, absorve bem tudo que é passado.
- Quando acabam os jogos, eu mando SMS, ligo, e digo para manter os pés no chão. Tão ou mais difícil do que chegar ao profissional é se manter. Há assédio de muita gente, mas ele tem que esquecer o oba-oba e pensar apenas em jogar futebol destacou o coordenador.
Segundo levantamento feito nos juniores, quando Rafinha estava em campo, 80% dos gols do Flamengo tinham participação do jogador. Paulo Henrique, que foi técnico do atacante na base rubro-negra, exalta as qualidades do atual camisa 11 do profissional.
- Ele é muito inteligente, tem velocidade e sempre teve participação especial nas conquistas. É um garoto carismático, de quem todo mundo gosta, e o sucesso que vem conseguindo não é surpresa. O gol que ele marcou contra o Friburguense (assista no vídeo ao lado) não foi novidade. Eu já o vi fazer mais de uma vez na base afirmou Paulo Henrique.
Demitido do clube no início da semana, Paulo Henrique guarda como uma das recordações a convivência com Rafinha. E, mais do que o jogador de futebol, exalta o ser humano.
- Ele é evangélico, vem de uma família muito humilde, mas foi bem orientado pelos seus representantes e mantém os pés no chão disse o ex-treinador rubro-negro.
Aos 19 anos, o atacante é noivo de Gabrielle, com quem divide um apartamento na Zona Oeste do Rio. E o casal já tem um filho: o cachorro Taleco, xodó da casa.
Na época do moicano, Rafinha posa com Gabrielle
- Não gosto de night, de badalação. Sou tranquilão, caseiro, não conquistei nada ainda. Tem uns caras novos que já querem ficar na vida loca disse Rafinha, em recente entrevista ao GLOBOESPORTE.COM.
No fim de 2011, o jogador quebrou a tíbia da perna direita e ficou três meses afastado dos gramados. Quando se preparava para voltar, teve um problema no músculo posterior da coxa esquerda. Mais 60 dias parado.
De volta, o atacante reconquistou seu espaço como titular nos juniores. E, enquanto companheiros de time subiam para o profissional, ele aguardava pacientemente sua vez, que chegou. E ele não desperdiçou.
Paulo Henrique lamenta que o Flamengo não tenha oferecido melhores condições para o franzino Rafinha se desenvolver na base.
- Ele ainda tem que se desenvolver fisicamente, essa era uma discussão que tínhamos na base, na questão da suplementação. De manhã cedo, ele chegava para treinar e tomava apenas um café com leite e pão com manteiga. Ele saía e não tinha o que almoçar. Agora, no profissional, ele tem todas as condições afirmou Paulo Henrique.
Ele ainda tem que se desenvolver fisicamente, essa era uma discussão que tínhamos na base, na questão da suplementação"
Paulo Henrique
O cardápio mudou. Depois de dar passes para os gols de Hernane e Cleber Santana, e desenhar uma pintura com belo toque de cobertura na vitória por 4 a 0 sobre o Friburguense, Rafinha foi saudado pela torcida como "melhor que Neymar". E usou a gastronomia para driblar a brincadeira:
- O Neymar é um craque mundial, reconhecido. Estou só começando e tenho de comer muito arroz com feijão ainda.
Além do estômago forrado, Rafinha também está com a cabeça feita. De tanto pedir para que Rafinha cortasse o cabelo moicano, Carlos Noval teve sua orientação atendida:
- Consegui que ele cortasse o cabelo, bacana. Tem é que mostrar o seu futebol.