Esporte
Psicóloga da seleção revela abalo já na estreia e papo sobre deixar Granja
A profissional acompanhou o grupo de atletas durante a disputa do Mundial a pedido do técnico Luiz Felipe Scolari.
Uol
16 de Julho de 2014 - 15:26
Dois jogadores da seleção brasileira procuraram ajuda após o amistoso contra a Sérvia e a estreia na Copa do Mundo contra a Croácia. A revelação foi feita pela psicóloga Regina Brandão no programa Encontro com Fátima Bernardes, da TV Globo. A profissional acompanhou o grupo de atletas durante a disputa do Mundial a pedido do técnico Luiz Felipe Scolari.
"O Brasil jogou contra a Sérvia em um amistoso e depois jogou contra a Croácia. Nessas duas vezes eu fui ao hotel trabalhar com dois jogadores em especial, que tinham pedido se eu poderia ir lá conversar com eles. Depois fui após o jogo do Chile e após o jogo da Colômbia", revelou a psicóloga.
O tema controle emocional foi bastante debatido durante a campanha brasileira na Copa do Mundo, especialmente após a disputa de pênaltis contra o Chile nas oitavas de final. Durante toda a competição jogadores e comissão técnica refutaram a hipótese de o grupo estar abalado psicologicamente pela pressão de disputar o Mundial em casa.
"Não vou dizer que faltava futebol, porque não é minha área. Trabalho no esporte há 30 anos e, em termos de grupo, foi o melhor que já avaliei psicologicamente falando. Individualmente eles tinham um perfil extraordinário. O grupo não conseguiu ter resultado no momento de máxima tensão, o coletivo não conseguiu transformar aquela qualidade individual, na hora do vamos ver, em desempenho", afirmou Regina.
"[Durante as conversas com os atletas] Surgia tudo o que você pode imaginar. É um caldeirão de estresse que eu nunca tinha sentido. É como se você tivesse uma panela de pressão, vai colocando pressão lá dentro e a tampa não deixa sair o ar. Uma hora essa tampa explode", disse a psicóloga. "O próprio Felipão, teve um dia que eu conversei com ele e disse 'você tem que amenizar um pouco, a situação está ficando muito pesada'. Temos que pensar que são jovens, muito jovens".
Outro assunto minimizado pelos jogadores em entrevistas coletivas durante a Copa foram as críticas da imprensa pelo mau desempenho do time de Felipão. O lateral Daniel Alves chegou a reclamar do pessimismo dos jornalistas e pediu uma cobertura ao estilo da imprensa espanhola, que torce pela seleção.
Regina Brandão, no entanto, afirmou que as críticas tinham muita influência no grupo de jogadores. "O problema é que eles têm celular e acesso a tudo. Falamos: 'se preservem um pouco', mas eles não aguentam. A primeira coisa que eles vão fazer é ver o que a mídia falou deles", revelou. "São 900 jornalistas credenciados, as câmeras todas viradas para você. Me lembro que tinha câmeras viradas para todos os quartos. Você soma tudo isso, é uma pressão violenta".
Saída da Granja Comary foi cogitada
Psicóloga e treinador também chegaram a conversar sobre a possibilidade de troca da Granja Comary, em Teresópolis (RJ), por outro local de concentração. "Perguntei ao Felipão se ele estava satisfeito com a concentração e ele falou que, se ficassem em um hotel, estariam presos."
Em entrevista ao programa Roda Viva nesta segunda-feira (14), a psicóloga admitiu que a equipe sofria com um desequilíbrio emocional e citou a palavra "pânico" para resumir o comportamento brasileiro na semifinal contra a Alemanha.
"Foi coisa do momento e vou ter que falar, todo mundo entrou em pânico, e quando entra em pânico, você não pensa. A sensação do David nesse jogo, como no próximo, foi tentar resolver por conta própria, e perdeu o coletivo. Cada um tenta resolver por conta própria", explicou.
Nesta quarta-feira, a psicóloga voltou a falar sobre o descontrole dos atletas na partida contra a Alemanha. Segundo Regina Brandão, este tipo de 'pane' é comum no esporte.
"Já vi isso acontecer em várias modalidades, inclusive com equipes olímpicas nossas de vôlei, basquete. Não é uma coisa incomum que aconteça. Vejo dois momentos. Um da nossa seleção, que as coisas não foram dando certo, e um de maestria da Alemanha. Se você junta as duas na mesma situação, você toma uma saraivada de gols, que foi o que a gente tomou", comentou.