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Esporte

Seleções de vôlei lidam com limitações e tentam encontrar soluções rumo a Tóquio

Seleção masculina vai além do esperado, mas sofre com lesões e falta de opções.

Globo Esporte

28 de Dezembro de 2018 - 09:10

Alguns pontos parecem os mesmos, ainda que o fim tenha sido diferente. Em 2018, o vôlei brasileiro não teve um caminho fácil. As duas seleções principais sofreram dentro e fora de quadra em um ano sem títulos. No Mundial, maior termômetro rumo aos Jogos de Tóquio, somente o time masculino chegou ao pódio, com o segundo lugar – o feminino, por outro lado, teve sua pior participação na competição desde 2002, com a sétima posição. Algo não vai bem. E é preciso entender exatamente o que antes que o sonho olímpico se desfaça da pior forma.

Vamos, então, por partes.

A seleção masculina terminou a temporada com a queda na decisão do Mundial. Mas, se o sonho do quarto título na competição cresceu com a vaga na final, poucos esperavam lá no início que o time de Renan Dal Zotto chegasse tão longe. O técnico tinha muitos problemas em mãos e poucas seleções à primeira vista. No primeiro desafio, na Liga das Nações, precisou lidar com um time limitado por desfalques. Teve alguns bons momentos, mas se mostrou instável e terminou em quarto lugar.

No Mundial, sediado na Itália e na Bulgária, sem Lucarelli e Maurício Borges e com Lipe longe de estar em sua melhor forma, Renan Dal Zotto apostou suas fichas em Douglas Souza. O ponteiro havia sido campeão olímpico no Rio, mas ainda não havia justificado a aposta de Bernardinho lá atrás. O momento, porém, chegou. Foi, de longe, a melhor surpresa da seleção no ano. Apesar da queda para a Polônia no final do Mundial, mostrou que há uma saída e que o time pode, sim, contar com seu talento.

Renan, porém, terá muito trabalho a fazer em 2019, ano fundamental para as expectativas brasileiras em Tóquio. Terá de recuperar Lucarelli, um tanto queimado por ter pedido dispensa do Mundial, ainda que tenha havido pressão de seu clube, o Taubaté, para que o fizesse. Terá, também, de seguir garimpando nomes para que o grupo ganhe corpo. Foi assim, por exemplo, que resolveu apostar em jogadores como o líbero Máique e o ponteiro Kadu - outros, como Léo e Victor Birigui, também foram testados.

Também terá de lidar com a chegada de Leal à seleção. Campeão de tudo pelo Cruzeiro, o cubano naturalizado brasileiro foi jogar na Itália e poderá ser chamado por Renan a partir de abril. O talento é indiscutível. Um dos melhores jogadores do mundo, Leal dará qualidade e consistência ao time em quadra, ainda mais com a aposentadoria de Lipe. Mas há certa resistência de parte da seleção na sua convocação – atuar ao lado de Bruninho no Civitanova foi um passo importante para a aceitação. Renan já disse contar com Leal. Agora, vai precisar gerenciar tudo o que seu nome carrega junto para o time.

Os problemas de Zé Roberto

Entre as mulheres, José Roberto Guimarães deve ter ainda mais trabalho. O próprio técnico admitiu nunca ter vivido um ano tão complicado à frente da equipe. Foram vários os problemas que culminaram na queda anunciada no Mundial, ainda na segunda fase. Enfrentou lesões de suas principais jogadoras e não conseguiu encontrar substitutas que conseguissem dar conta em quadra.

Esse parece, talvez, o maior desafio do treinador. A tão esperada renovação do time, apontada após os Jogos do Rio, ainda não aconteceu. Zé ainda não encontrou soluções para substituir antigos pilares, como Sheilla, Fabiana e Fabi. Na Liga das Nações e no Mundial, se viu limitado pela falta de opções, mascarada por alguns brilhos fugazes.

Desde o início da temporada, na disputa da Liga das Nações, o técnico já admitia problemas. Natália, ponto fundamental do time, só voltou à quadra após meses parada no Mundial, mas ainda muito longe de sua melhor forma. Não foi a única. Dani Lins, Thaisa, Gabi, Drussyla e Suelen chegaram ao Mundial correndo contra o tempo. O maior exemplo, porém, é Fernanda Garay.

Na Liga das Nações, o Brasil teve alguns bons momentos, como nas vitórias contra Holanda e China na fase final. As derrotas avassaladoras para Turquia e para a mesma China logo na sequência, porém, deixaram a seleção em quarto lugar e fizeram Zé Roberto perceber que precisava de uma ajuda extra para o Mundial do Japão. Depois de muito insistir, conseguiu convencer Garay a aceitar o desafio de voltar a jogar pela seleção, o que não fazia desde os Jogos do Rio. A ponteira estava de férias desde o fim da Superliga, quando foi campeã pelo Praia Clube. Em menos de um mês, precisou se recuperar dos três meses parada. Lutou – e muito -, mas ainda não conseguiu ser o diferencial que sempre fora na seleção.

Algumas apostas do treinador também não funcionaram. Tandara, em excelente fase, se desgastou por não ter uma substituta. Zé levou Rosamaria, ponteira, como opção para a saída de rede. No Mundial, pouco jogou. Bia, central talentosa, também rendeu abaixo do que o treinador esperava, assim como Adenízia. Com Dani Lins abaixo da forma ideal, Roberta não conseguiu fazer o time ir além.

Zé Roberto terá um ano cheio pela frente. O técnico aposta na recuperação física de suas principais jogadoras, mas também terá o desafio de encontrar peças que se encaixem no time em caso de ausência de suas estrelas. Tandara, por exemplo, teve uma lesão séria na China e ainda está se recuperando. Com um calendário apertado em 2019, com Copa do Mundo, Qualificatório Olímpico, Pan e Liga das Nações, Zé Roberto já definiu que dividirá o grupo em duas equipes.

Há, no entanto, pontos positivos. Apesar das limitações, a equipe se acostumou a lutar a todo momento, ainda que tenha ela própria se colocado em apuros durante os jogos. O clima do grupo também é algo a ser elogiado. Nos treinos e nas partidas, todas sempre mostraram apoio umas às outras. É preciso, porém, ver os problemas para corrigir os erros no caminho até os Jogos de Tóquio, em 2020.