Mato Grosso do Sul
No mapa do PCC, MS é um dos estados onde facção domina o crime
Os motivos se tornam ainda mais claros quando se olha para o posição geográfica dos estados.
Campo Grande News
10 de Agosto de 2018 - 16:16
Mato Grosso do Sul está entre os três únicos estados brasileiros com hegemonia quase absoluta do PCC (Primeiro Comando da Capital). Considerado essencial na rota do tráfico de drogas, pela proximidade com Paraguai e Bolívia, o Estado aparece em destaque quando o assunto é a maior facção criminosa do país.
Está é um das conclusões apresentadas pelos pesquisadores Camila Nunes Dias e Bruno Paes Manso, em seu livro recém-lançado “A Guerra: A ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil”. No mapa da facção, apenas São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná são apontados como regiões com “alto índice” de influência.
Os motivos se tornam ainda mais claros quando se olha para o posição geográfica dos estados. Com mais de 1.370 quilômetros de fronteira seca com o Paraguai, apontado como o responsável por abastecer a maior parte de maconha no Brasil, as cidades sul-mato-grossenses se tornam a principal porta de entrada para o tráfico de drogas e armas.
A expansão da facção para Paraná e Mato Grosso do Sul, começou no início dos anos 2000, quando os líderes do PCC foram enviados aos presídios dos dois estados. Foi então que eles propagaram suas ideias, o que favoreceu que ficassem numa posição privilegiada no mercado da droga.
Em ligações interceptadas pela operação Echelon, deflagrada em 14 de junho pelo MP/SP (Ministério Público de São Paulo), com mandados em Mato Grosso do Sul, o então interno da PED (Penitenciária Estadual de Dourados), Hamilton Roberto Dias Junior, conhecido como Muringa, detalha a importância de MS para o PCC e explica que todas as facções estão em guerra pelo Estado, porque tem fronteira com outros dois países.
Em outra gravação, datada de setembro do ano passado, uma conferência detalha a divisão que a facção faz dos municípios do Estado. Os presos citam nominalmente 60 das 79 cidades de Mato Grosso do Sul que possuem o controle. São 22 municípios na região Sul; 15 na região Norte; 12 municípios no Leste; e 11 cidades no Oeste.
Controle e violência - Segundo os pesquisadores, a hegemonia do PCC nos estados significam também um menor índice de violência. Em Mato Grosso do Sul, aqueles que se opõem, ou se envolve com outra facção, são brutalmente assassinados, mas ainda assim o disputa entre grupos rivais é vista com menor frequência que em estados em guerra.
Estados com portos fundamentais para o tráfico de drogas para o exterior, Ceará e Santa Catarina registraram uma série de assassinatos resultantes de conflitos entre facções, nos últimos meses. Ambos são considerados prioridades para a facção.
Conforme matéria divulgada no Uol, dos dez estados com maiores índices de mortes violentas em 2017, divulgado no levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, cinco registram "presença média" do PCC e, por consequência, confrontos entre facções: Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco, Amapá e Bahia
O mesmo levantamento feito em MS comprova o que os pesquisadores defenderam no livro. Apesar da guerra pelo domínio na fronteira com o Paraguai, as mortes violentas tiveram redução de 10,2% no Estado, entre 2016 e 2017 (quando os homicídios caíram de 622 para 565). Em Campo Grande, os registros também permaneceram em queda, de 162 em 2016, para 120 em 2017, variação de -26,8%.
Durante 2017 os conhecidos “Tribunais do Crime” mataram seis pessoas em Campo Grande. Neste ano as mortes nos mesmos moldes já foram registradas na Capital, em Coxim e Dourados, todas consequência da disputa entre PCC e CV (Comando Vermelho), que se intensificou em 2016.
A maior facção criminosa do país tem hoje cerca de 30 mil membros. Se em Mato Grosso do Sul o poder do PCC é “absoluto”, a facção ainda tenta controlar o mundo do crime em outros 13 estados brasileiros e no Distrito Federal. Nas outras cinco, eles estão em desvantagem.