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Mato Grosso do Sul

Rastro de destruição: jacaré carbonizado, carcaças expostas e vegetação cinza

Fotos mostram as marcas deixadas pelas chamas no bioma, que já perdeu para o fogo uma área equivalente a de 59 mil campos de futebol neste ano.

G1 MS

16 de Junho de 2024 - 18:15

Rastro de destruição: jacaré carbonizado, carcaças expostas e vegetação cinza
Jacaré não conseguiu fugir do fogo. Foto: Gustavo Figueirôa/Arquivo Pessoal

Jacaré carbonizado, carcaças de animais expostas e o cinza toma conta da vegetação que já foi verde. Esse é o retrato da destruição com os incêndios no Pantanal. O bioma já registra o maior número de queimadas para um mês de junho desde o começo do monitoramento, em 1998. Veja o vídeo acima.

O biólogo e diretor de comunicação da ONG SOS Pantanal, Gustavo Figueirôa, registrou de perto as cicatrizes que o fogo tem deixado na fauna e flora pantaneira.

O jacaré não conseguiu fugir do fogo a tempo. O que restou foi a carcaça carbonizada do animal sobre a grama acinzentada. "No meio do caminho encontramos um jacaré que não conseguiu fugir a tempo", escreveu Gustavo em uma publicação.   

Desde janeiro de 2024, uma área duas vezes maior que o tamanho da cidade de São Paulo já queimou no Pantanal. Nos primeiros 10 dias de junho deste ano, o fogo consumiu o equivalente a 59 mil campos de futebol.

Para chegar aos locais do incêndio, Gustavo teve a ajuda da Brigada Alto Pantanal, que é vinculada à ONG SOS Pantanal. Os últimos registros foram feitos pelo biólogo , na sexta-feira (14), na região do Paraguai Mirim, a cerca de 5 horas de Corumbá (MS).

"Passei alguns dias acompanhando a Brigada Alto Pantanal, na região da Serra do Amolar. O cenário é bem crítico, está bem seco. Nos outros anos, esta época era para estar começando a seca, mas já está bem seco antes do esperado. O fogo se espalha com muita facilidade", compartilha o biólogo.

Quando sentem a presença do fogo, a fuga é eminente, como explica o biólogo. Porém, muitos não conseguem sair da linha das chamas antes de serem consumidos. Os mais afetados são os répteis e os insetos.

De acordo com o monitoramento feito pelo Inpe, 2020 foi o ano que teve mais registros de fogo no Pantanal desde o fim da década de 1990. Um estudo realizado por 30 pesquisadores de órgãos públicos, universidades e ONGs estimou que, naquele ano, ao menos, 17 milhões de animais vertebrados morreram em consequência direta das queimadas no Pantanal.

Vegetação atingida pelo fogo, em região próxima à Serra do Amolar. — Foto: Gustavo Figueirôa/Arquivo Pessoal
Vegetação atingida pelo fogo, em região próxima à Serra do Amolar.  Foto: Gustavo Figueirôa/Arquivo Pessoal

Para especialistas, os incêndios de 2024 caminham para a mesma direção catastrófica de 2020.

"Em 2020, tivemos aquele fogo catastrófico e as análises atuais mostram que os números de 2024 estão muito parecidos com os que tínhamos naquele ano. Felizmente, todos os setores e a sociedade pantaneira estão alertas porque têm consciência de que, se nada for feito, há possibilidade da repetição de grandes incêndios. É preciso atuar rapidamente reforçando as brigadas e contando com o apoio das comunidades locais para evitar uma catástrofe", explica Cyntia Santos, analista de conservação do WWF-Brasil

Focos de incêndio saltaram 1000% no Pantanal em 2024, se comparado o mesmo período de 2023. — Foto: Gustavo Figueirôa/Arquivo Pessoal
Focos de incêndio saltaram 1000% no Pantanal em 2024, se comparado o mesmo período de 2023.  Foto: Gustavo Figueirôa/Arquivo Pessoal

Em outra região do Pantanal, mais próxima a Corumbá, o fotógrafo Guilherme Giovanni também registrou animais que foram mortos pelo fogo. Depois que as chamas passam, as carcaças dos bichos ficam expostas e são comidas por urubus outros animais.

"É uma área próxima a fronteira com a Bolívia. Os urubus detonaram as carniças. Os focos vem aumentando até mesmo pelos ventos. A população ribeirinha tá sofrendo bastante", comentou Guilherme.

Guilherme registrou os ossos dos animais. — Foto: Guilherme Giovanni/Arquivo Pessoal
Guilherme registrou os ossos dos animais. Foto: Guilherme Giovanni/Arquivo Pessoal

Para quem entende da região, o cenário de 2024 não é animador. A seca e os efeitos do eventos climáticos adversos expuseram o bioma ao fogo com mais facilidade.

Figueirôa, da SOS Pantanal, vê o combate ao fogo como um desafio. Ao longo de três dias, o biólogo pode acompanhar o trabalho de brigadistas, que tentam controlar as chamas de forma incessante.

"Apesar de estar muito seco, ainda temos condições de combate com sucesso. Precisamos de toda ajuda, desde já. Ainda dá para enfrentar o desafio com chance de vencer, ou pelo menos minimizar o impacto. Precisamos de apoio! Estamos no começo de algo alarmante, que pode se tornar catastrófico mais uma vez", apela.