Policial
Comboio acompanha chegada do corpo de indígena morto pela PM em Antônio João
Conflito acontece na área que está em disputa entre produtores rurais e indígenas da comunidade Nhanderu Marangatu, que faz divisa com a Fazenda Barra, em Antônio João.
Midiamax
20 de Setembro de 2024 - 16:40
O corpo de Neri da Silva, indígena Guarani Kaiowá de 23 anos que foi morto pela Polícia Militar, em Antônio João, chegou ao município para ser velado. Na tarde desta sexta-feira (20), dezenas de indígenas acompanham o corpo em procissão.
Neri morreu durante o confronto que aconteceu na manhã desta quarta-feira (18). O conflito acontece na área que está em disputa entre produtores rurais e indígenas da comunidade Nhanderu Marangatu, que faz divisa com a Fazenda Barra, em Antônio João.
Confira o vídeo do momento em que o corpo chega é encaminhado para velório na aldeia:
Comboio acompanha o corpo
Após a morte, o corpo de Neri foi encaminhado para IML em Ponta Porã. Posteriormente, houve uma segunda perícia, desta vez em Dourados. Agora, corpo retornou a Antônio João para que Neri seja velado por seus parentes.
Os indígenas se dividiram em três grupos, com dezenas de pessoas em motos e carros. Um dos grupos esteve concentrado em frente ao ginásio de esportes, que fica próximo ao trevo de entrada da cidade.
Um segundo grupo esteve concentrado em trecho da rodovia MS-384, enquanto terceiro grupo esteve em um ponto da rodovia conhecido como Casa Branca. Veículos da PM e da Força Nacional também acompanham o caminho.
Entre as pessoas, estão amigos, familiares, conhecidos de Neri, bem como outras pessoas que se solidarizam e lutam pela causa indígena. “Estamos esperando para recepcionar o corpo do nosso guerreiro”, disse um amigo de Neri.
Reuniões acontecem no fim de semana
Hoje, pela manhã, os indígenas da região fizeram reunião para alinhar demandas e reivindicações que pretendem fazer após o ocorrido. Isso porque, neste sábado (21), haverá uma reunião interministerial na região, com representantes da força nacional e dos demais órgãos públicos competentes ao assunto.
Além disso, no domingo (22), a ministra dos povos indígenas, Sônia Guajajara, estará no município para ouvir a comunidade indígena e procurar soluções para o problema.Clima de tensão na região
Clima de tensão e movimentação policial marcam nova rotina em Antônio João, cidade a 281 quilômetros de Campo Grande, após o indígena Guarani Kaiowá Neri da Silva, de 22 anos, ser morto em confronto com a tropa de Choque da PMMS (Polícia Militar de Mato Grosso do Sul), nesta quarta-feira (18).
Durante a tarde desta quinta, a reportagem presenciou várias viaturas da Polícia Militar, sendo estas do Batalhão Rural, Choque, um ônibus e demais guarnições. Na MS-384, altura do km-15, proximidades de onde houve o conflito, há aldeia Guarani Kaiowá no Cerro Marangatu.
Na estrada havia sinais de que o clima é de tensão, com árvores derrubadas para bloqueio da passagem pela via. Motosserras foram utilizadas para a retirada dos troncos na MS. O Cerro Marangatu fica a aproximadamente um quilômetro da Fazenda Barra.
Sete viaturas da Polícia Militar passaram pelo carro da reportagem do Midiamax, no momento em que a equipe estava na MS-384. A Polícia Militar montou um acampamento em frente a Fazenda Barra. Conforme indígenas, na região também há duas equipes da Força Nacional, escoltando funcionários da Funai (Fundação Nacional do Índio).
Terra indígena homologada
A Fazenda Barra, de propriedade de Pio Queiroz da Silva e Roseli Maria Ruiz, está localizada em área homologada como terra indígena desde 2002. Roseli inclusive foi indicada como “especialista” para conciliação do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a Lei do Marco Temporal (Lei 14.701/2023).
A advogada Luana Ruiz, que possui cargo no alto escalão do Governo de Mato Grosso do Sul desde janeiro de 2023, é filha dos proprietários da fazenda. Ela defende os pais em ação judicial que tramita há um ano na 1ª Vara Federal de Ponta Porã, contra a Comunidade Indígena Guarani Kaiowá.
A Terra Indígena Ñande Ru Marangatu foi declarada para posse e usufruto exclusivo e permanente do povo Guarani Kaiowá, por meio da Portaria nº 1.456, de 30 de outubro de 2002, e homologada por meio de Decreto Presidencial de 28 de março de 2005. No entanto, a demarcação foi suspensa pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Em setembro de 2023, Luana Ruiz entrou com ação na Justiça Federal alegando ameaças de invasão de indígenas e pedindo a manutenção da posse. Na época, o juiz federal Ricardo Duarte, não viu indícios suficientes que comprovassem a ameaça descrita pela advogada.
Dias depois, o mesmo juiz federal determinou à Polícia Federal que, se necessário, com auxílio material da Polícia Militar e da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, bem como da Força Nacional de Segurança, efetue o patrulhamento ostensivo nas dependências da propriedade rural da Fazenda Barra.