Policial
Morte acidental de estudante já rendeu três condenações a Jamilzinho
Ele já acumula pouco mais de 23 anos de punição.
Correio do Estado
12 de Julho de 2023 - 14:15
O “empresário” Jamil Name Filho começa a ser julgado nesta segunda-feira (17) por ser o suposto mandante do assassinato do estudante de Direito Matheus Coutinho Xavier, de 19 anos, em 9 de abril de 2019. Mas, desde aquela morte “acidental”, ele já sofreu pelo menos três condenações, que somam pouro mais de 23 anos de prisão. Então, mesmo que seja absolvido pelos jurados, vai continuar preso.
Em dezembro de 2020 ele foi condenado a quatro anos e seis meses de prisão acusado de ser proprietário de um arsenal de 26 armas apreendidas durante a investigação para esclarecer a morte de Matheus.
Durante as investigações, policiais descobriram seis fuzis (dois AK-47 de calibre 762 e quatro de calibre 556), um revólver 357, 11 pistolas 9 milímetros, quatro pistolas ponto 40, uma pistola de calibre 22 e outra pistola de calibre 380, além de duas espingardas, sendo uma de calibre 12 e outra de calibre 22. Também foram encontradas 1.753 munições, 392 para os fuzis AK-47.
O armamento estava num imóvel residencial no bairro São Bento, na região central de Campo Grande, que pertencia à família Name. E justamente por conta desta casa é que Jamil Name Filho foi condenado a outros 12 anos e oito meses anos de prisão, no final de junho do ano passado.
Conforme a denúncia do Ministério Público acatada pela Justiça, o imóvel foi tomado à força de um casal que havia tomado um empréstimo de R$ 80 mil da família Name, que durante décadas agiu impunemente com agiotagem em Campo Grande.
Como o casal não conseguiu quitar o empréstimo e os juros, foi forçado, sob ameaça de espancamento com tacos de basebol e sob mira de arma de fogo, a repassar a casa para Jamilzinho, como é conhecido.
Depois que ele foi preso sob a acusação de ser o mandante da morte do estudante, o casal criou coragem para denunciar o caso. Além da pena de quase 13 anos de prisão, Jamil Filho foi condenado ao pagamento de indenização de pelo menos R$ 1,7 milhão ao casal.
A terceira condenação de Jamil Name Filho veio no final de julho do ano passado, dessa vez a mais seis anos de cadeia. Desta vez a Justiça aceitou a denúncia de organização criminosa porque ele tinha a seu serviço um pequeno batalhão de pistoleiros para executarem uma série de crimes.
CASO PLAYBOY
E por causa da morte acidental de Matheus, já que ele foi executado a tiros de fuzil no lugar do pai, Jamilzinho também responde na Justiça por outros assassinatos cometidos bem antes de abril de 2019.
A vítima de um destes crimes foi Marcel Colombro, executado em uma cachaçaria na Avenida Fernando Corrêa da Costa no dia 18 de outubro de 2018.
Marcel Colombo ficou conhecido como Playboy da Mansão por causa das festas que promovia em um bairro de região nobre da Capital
Jamil está sendo acusado com outros cinco subalternos. Entre eles o ex-guarda municial Marcelo Rios, apontado como uma espécie de gerente do grupo de pistolagem e que também é réu no júri que começa na próxima segunda feira.
O autor dos disparos contra Marcel Colombo, conhecido como Playboy da Mansão, foi Juanil Miranda Lima, segundo a denúncia. Na ocasião, ele acabou ferindo Tiago Bento, que não tinha qualquer relação com a rixa entre Jamilzinho e o homem morto.
Na denúncia, o Ministério Público diz que “segundo apurado, a vítima MARCEL COSTA HERNANDES COLOMBO e o denunciado JAMIL NAME FILHO, tempos antes do crime em tela, se desentenderam em uma casa noturna da cidade, oportunidade em que MARCEL COLOMBO desferiu um soco no nariz de JAMIL NAME FILHO”.
À época do assassinato, várias fontes policiais relataram, no anonimato, exatamente essa história e deixavam claro quem era o mandante. Porém, nada aconteceu. Jamilzinho só foi denunciado formalmente por esse crime em agosto de 2020, quase um ano depois de ser preso em setembro de 2019 por causa da morte do estudante.
Ainda conforme a denúncia do MPE no caso do Playboy, “os denunciados integravam organização criminosa, cujas tarefas eram divididas em núcleos, destinados a diversas ações de interesse dos seus líderes, que variavam, dentre outras atividades ilícitas, desde a cooptação e corrupção de agentes de segurança pública, até a prática de homicídios em atividades típicas de grupos de extermínio”.
O texto dia ainda que “os denunciados JAMIL NAME e JAMIL NAME FILHO eram os líderes do grupo criminoso e atuavam na prática de ilícitos impelidos por questões pessoais e financeiras, dentre as quais se incluía a eliminação de seus desafetos ou rivais, tanto por questões comerciais como pessoais”.
Consta também que o denunciado MARCELO RIOS era homem de confiança dos líderes, atuando como um dos “gerentes” do grupo criminoso, sendo um dos responsáveis por receber as ordens dos líderes e repassá-las aos demais integrantes, articulando e fornecendo suporte para que as missões fossem realizadas”.
O pai de Jamilzinho, Jamil Name, também foi preso em setembro de 2019 acusado de ser o chefe desta suposta organização criminosa e acabou morrendo vítima de covid em junho de 2021, em Mossoró, onde cumpria pena no presídio federal.
A defesa de Jamilsinho ainda tenta impedir que ele seja levado a júri também por este crime, mas até agora os recursos foram indeferidos.
JÚRI
O júri de Jamil Name Filho e mais dois acusados está previsto para começar na próxima segunda-feira, dia 17. A Justiça acredita que o se arraste por quatro dias, mas por precaução a estrutura foi montada para durar até cinco dias.
Para os sete jurados, o juiz Aluízio Pereira mandou reservar hotel para cinco noites, já que terão de ficar isolados do começo ao final do julgamento. Até os celulares devem ser recolhidos.
Dois dos réus estão no presídio federal de Mossoró e devem passar as noites no presídio federal de Campo Grande. Pelo menos 15 policiais federais penais devem ser participar do esquema de segurança durante os deslocamentos dos acusados. O terceiro réu está na Gameleira, em Campo Grande, e também vai participar presencialmente de todo o júri.
Conforme a investigação, o alvo dos pistoleiros era o pai do estudante, Paulo Roberto Teixeira Xavier. Ele havia feito uma série de serviços para a família Name e acabou sendo fundamental para desmantelar o esquema que existia fazia décadas no Estado.
O estudante foi morto por engano porque estava manobrando a caminhonete do pai quando os pistoleiros acertaram pelo menos sete tiros de fuzil contra o veículo.