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Encontrado morto em rodovia, “MacGyver” desapareceu após surto em bar
Campo Grande News
23 de Julho de 2021 - 09:40
Encontrado morto nesta quinta-feira (22) às margens da MS-162 em Maracaju, Aunaurelino Ricaldes, de 51 anos, estava na cidade para fazer “gatos de energia”, mas teria pego a estrada após “surto” em um bar na noite do dia 9 de julho.
Aunaurelino, conhecido como MacGyver, foi encontrado em um barranco às margens da rodovia, onde a vegetação estava alta, o que dificultava a visualização. No local, vestígios apontam que o carro que ele dirigia saiu da pista e capotou várias vezes. O corpo estava a cerca de 15 metros do Tiida, indicando que foi arremessado durante o acidente. Nenhum outro sinal de violência foi notado pela perícia.
Detalhes sobre os motivos que o levaram ao município e todos seus passos até minutos antes do acidente, foram contados por Elisvaldo Cruzarolli Guimarães, de 40 anos, e pelo sobrinho dele, Cauan Castro Cavalcante, 18 anos. Os dois acabaram presos por tráfico de drogas durante as investigações sobre o desaparecimento de MacGyver da DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídio).
Em depoimento, Elisvaldo, conhecido como Brinquinho, contou que é amigo de MacGyver desde os 10 anos. Relatou que moraram juntos por dois períodos e que nunca brigou com o amigo. Chorou enquanto contava detalhes do que aconteceu no dia 9 de julho. Segundo ele, a relação de proximidade com o amigo também era vivida na “profissão”. Especialistas em adulteração de padrão de energia, faziam “gatos” até mesmo em outras cidades no Estado e por isso se uniram para pegar a estrada naquele dia. Brinquinho contou que aprendeu o "ofício" com MacGyver.
De fato, em 2016 MacGyver foi preso em operação da 5ª Delegacia de Polícia Civil de Campo Grande contra furto de energia em Campo Grande. Na época, foi chamado de “Rei das Fraudes” por realizar a adulteração nos padrões das mais diversas formas.
Anos depois, continuou o esquema com o amigo de infância. Na delegacia, Brinquinho contou que eles mexiam no padrão e reduziam o registro do gasto de energia. “Se ele [cliente] pagava mil reais, a gente cobrava mil reais e baixava a conta para 300 ou para quantos ele quisesse”, explicou. No dia do desaparecimento tinham dois serviços para fazer: o primeiro em Dois Irmãos do Buriti e o segundo em Maracaju. MacGyver dirigiu até a primeira cidade e lá Brinquinho fez o “gato” na casa do cliente. A conta geralmente era de R$ 400 e por isso eles cobraram R$ 300 pelo trabalho. Antes de irem embora, sentaram com o dono da residência para beber.
Tomaram cerveja e fizeram uso de drogas juntos. Já em Dois Irmãos do Buriti, a vítima ficou alterada e por isso o amigo assumiu a direção do carro. Seguiram rumo a Maracaju, pararam em Sidrolândia - onde Aunaurelino comprou mais cerveja - e só chegaram na cidade de noite. Foram direto para casa em que deveriam fazer o serviço, mas não encontraram o dono.
Decidiram parar em um bar na mesma região para carregar os celulares e tentarem contato com o suposto cliente. Ali, beberam juntos mais uma vez algumas garrafas de cerveja. “De repente”, contou Brinquinho em depoimento, MacGyver teve um surto. “Ele grudou a chave do carro, não queria nem pagar o velho dono do bar, fez um piseiro lá, entrou dentro do carro e falou, vamo embora, vamo embora”.
Tio e sobrinho entraram no carro, mas se assustaram com a maneira que o amigo dirigia. Segundo eles, o motorista saiu acelerando pela contramão, ainda dentro da cidade, subiu nas calçadas e tumultuou o trânsito. “Grudei na porta e falei se você vai se matar, se mata sozinho eu vou pular do carro. Na hora que eu abri a porta e fiz que ia me jogar ele parou o carro”, narrou Elisvaldo.
Ele desceu do veículo e foi acompanhado por Cauan. Nas margens da rodovia tentaram convencer o amigo a desistir da viagem de volta para casa. Argumentaram que o carro estava na reserva e eles precisavam do pagamento da adulteração de energia para abastecer, mas não teve jeito. MacGyver pediu para os dois entrarem no carro também. Brinquinho tentou negociar para assumir a direção, mas não conseguiu. O amigo pegou a rodovia em sentido a Capital, e ele e o sobrinho ficaram a pé em Maracaju. “A última vez que vi ele foi lá, na cabeceira da ponte, vindo para Campo Grande. Insistindo para eu entrar no carro”, relatou.
Sem dinheiro ou locomoção, tio e sobrinho voltaram a pé até a rodoviária de Maracaju e usaram o celular para pedir ajuda. “Liguei para todo mundo para conseguir 100 reais, o cara de dentro do presídio me mandou 100 reais para comprar as passagens”. Conseguiram embarcar só de madrugada e chegaram em Campo Grande nas primeiras horas do dia 10 de julho. Não souberam mais notícias de MacGyver.
No dia em que prestou depoimento sobre o caso, Brinquinho ainda não tinha notícias do amigo e chorou ao falar que não sabia mais o que pensar. Revelou que voltou a Maracaju e visitou até a casa do cliente que deveriam ter atendido naquele dia, na esperança de informações, mas descobriu que MacGyver não apareceu mais.
Como último recurso, relatou a polícia, ligou para conhecidos da fronteira, faccionados, para saber se o carro do amigo, o Nissan Tiida preto, havia atravessado para o Paraguai. Ninguém havia visto MacGyver. O mistério chegou ao fim apenas nesta quinta-feira, 14 dias depois do desaparecimento.
O corpo e o carro passam por perícia para detalhar a causa da morte e os motivos do acidente. Caso segue em investigação.
(Colaborou Robertinho / Maracaju Speed)