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Saúde

Exercício aumenta benefício de remédio para pressão alta, indica estudo

Pesquisa foi feita com 32 voluntários na Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto e financiada pela Fapesp.

G1

14 de Junho de 2022 - 14:30

Exercício aumenta benefício de remédio para pressão alta, indica estudo
Homem caminha à beira de um rio — Foto: Pexels

Uma pesquisa feita por cientistas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto apontou que associar exercícios físicos aeróbicos ao uso do remédio losartana, para pressão alta, aumentou os benefícios para o coração em homens.

Os cientistas mostraram que a atividade física aumentou a variabilidade da frequência cardíaca nos pacientes com hipertensão que tomavam a losartana.

A variabilidade da frequência cardíaca descreve as oscilações nos intervalos entre batimentos consecutivos do coração. Uma alta variabilidade significa uma boa capacidade de adaptação do corpo, ou seja, é vista em pessoas saudáveis. Já uma baixa variabilidade aponta o contrário – e aparece em pessoas com hipertensão.

"Quanto mais variável for o sistema, mais adaptado ele está às mudanças. Isso mostra uma capacidade de adaptação mais efetiva", explicou Hugo Celso Dutra de Souza, autor sênior da pesquisa e professor da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto, ao g1.

Isso é importante porque a hipertensão não está relacionada apenas à pressão alta dentro dos vasos, e sim a uma série de problemas no sistema cardiovascular – um deles é, justamente, essa variabilidade da frequência cardíaca.

A losartana é eficaz em reduzir essa pressão, mas, mesmo com uso dela, a variabilidade da frequência continua baixa. No estudo, quando as pessoas que eram hipertensas e tomavam a losartana passaram a fazer exercício físico, a variabilidade aumentou.

"Além de reduzir ainda mais a pressão, a regulação da frequência fica melhor [com o exercício físico] –fica mais próximo da normalidade. Não resolve, mas afasta as comorbidades que possam a vir acompanhar. A hipertensão é uma das principais causas de insuficiência cardíaca – que é uma das principais causas de morte precoce", explica o pesquisador.

O estudo

A pesquisa, publicada na "Clinical and Experimental Hypertension", reuniu 32 voluntários, todos do sexo masculino e com idades entre 40 e 60 anos. Metade deles não tinha hipertensão e não tomava nenhum remédio, e a outra metade era hipertensa e tomava a losartana. Ambos os grupos fizeram caminhadas de 45 minutos três vezes por semana, por 16 semanas (cerca de 4 meses).

A losartana sozinha foi capaz de reduzir a pressão arterial – levando-a para níveis normais –, mas, sem o exercício físico, o controle autônomo cardíaco – entre outros pontos, a variabilidade da frequência – continuou debilitado.

"A variabilidade da frequência cardíaca não se restabelece adequadamente só com a droga. Reduzir a pressão é necessário e imprescindível, mas só o remédio não é suficiente. O exercício complementa o efeito”, reforçou Hugo Celso de Souza à Agência Fapesp.

Os cientistas também estão trabalhando em um artigo que compara a losartana com o maleato de enalapril para apresentar as diferenças, segundo a agência. “O exercício físico é importante, e tem sido visto como uma espécie de pílula mágica. Porém, precisamos entender o que ele realmente faz no organismo para até quem sabe no futuro tentar simular farmacologicamente seus efeitos”, lembrou Souza.

Em mulheres

Um estudo separado, com mulheres, também está sendo feito – porque os hormônios ovarianos interferem no funcionamento cardiovascular.

"Em ratas, a gente retirava os ovários e automaticamente aumentava, em semanas, a quantidade de fibrose no coração. Não só esses hormônios ovarianos regulam a estrutura do coração [como] participam, também, da regulação da hemodinâmica como um todo; têm uma influência fundamental", explicou o pesquisador ao g1.

"Isso faz sentido, porque as mulheres em idade reprodutiva são "protegidas" pelos hormônios ovarianos – tanto é que, antes da menopausa, existem mais homens com doença cardiovascular do que mulheres. Após a menopausa, as mulheres [não só] empatam como também ultrapassam o número de pessoas com doenças cardíacas – por causa dos hormônios", apontou.