Saúde
Teste com vacina contra HIV tem resultados positivos
Um grande dilema para produzir uma vacina eficaz contra o HIV é que o vírus está em constante mutação.
Correi do Estado
01 de Dezembro de 2022 - 17:00
Uma pesquisa divulgada neste Dia Mundial de Combate à Aids (1º) observou que um modelo de vacina causou uma resposta imune nos participantes do estudo. A conclusão do estudo, que é assinada principalmente por americanos, colabora para entender como induzir anticorpos que são eficazes no combate ao HIV.
Um grande dilema para produzir uma vacina eficaz contra o HIV é que o vírus está em constante mutação.
Uma forma de contornar o dilema é induzir uma resposta imune baseada em anticorpos altamente neutralizantes (bnAbs). Estudos já demonstraram que eles são capazes de proteger contra uma infecção pelo patógeno que causa a Aids.
"Esses anticorpos [altamente neutralizantes] se ligam ao vírus e impedem que ele entre na célula -a gente diz que o vírus foi neutralizado. Isso é imprescindível para conter uma infecção viral", afirma Aguinaldo Roberto Pinto, que não assina o artigo e é professor do departamento de microbiologia, imunologia e parasitologia da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).
A produção de anticorpos está associada com células chamadas linfócitos B. No entanto, para o caso dos anticorpos altamente neutralizantes, esses linfócitos são raros e, por isso, a produção é insuficiente mesmo em pessoas que vivem com o HIV.
"Se você pegar uma pessoa que tem HIV, ela tem muitos linfócitos B que estão fazendo anticorpos contra o vírus, mas raramente estão fazendo [aqueles que são] neutralizantes", diz Pinto.
Formada por 120 cópias da proteína mais externa do HIV, a chamada GP120, a nova vacina estimulou as células precursoras do linfócito B. Com isso, os anticorpos altamente neutralizantes também passaram por um maior nível de indução, sendo um indicativo importante de que o imunizante pode ser útil na prevenção da doença
No total, o estudo contou com 36 participantes.
Desses, 35 apresentaram respostas nas células precursoras do linfócito B associado ao anticorpo que é eficaz contra o HIV. Além disso, o padrão de segurança do imunizante foi medido -objetivo importante para estudos como esse, que é de fase um.
NOVAS FASES
Para Pinto, as descobertas do estudo são significativas de que a vacina pode funcionar, mas faltam estudos maiores e mais longos para medir se a geração de anticorpos induzidos pela vacina realmente vai ocasionar proteção contra o HIV. Esse é um dilema que todo estudo para vacina contra o vírus enfrenta.
Um estudo de fase três demanda uma amostra grande e acompanhamento por um período de tempo para comparar a taxa de infecção do grupo placebo com aquele que recebeu o imunizante. Mas isso pode demorar anos em um teste com uma vacina para Aids porque os participantes precisam ser muito bem informados sobre prevenção do vírus. Além disso, o vírus é transmitido por relações sexuais ou compartilhamento de objetos.
Dessa forma, a transmissão pode ser considerada mais difícil comparado a outros patógenos, como o Sars-CoV-2, cuja transmissão se dá principalmente por vias aéreas.
Por isso, Pinto diz acreditar que, mesmo com os resultados promissores, a nova vacina pode demorar bastante para contar com novos dados sobre sua eficácia. "Quando chegar a uma fase três, vai ser um problema que sempre aparece em vacinas contra HIV, que é saber se as pessoas vão infectar ou não no mundo real", conclui.