Sidrolândia
Esplanada tem barracos, casas de alvenaria e comércio aberto de lotes na área pública
Se misturam casas de alvenaria, barracos cobertos de lonas plásticas, casebres erguidos com restos de construção.
Flávio Paes/Região News
10 de Novembro de 2019 - 20:33
Em pleno centro da cidade, a poucos metros da principal avenida comercial de Sidrolândia ade e prolongamento da BR-060, a Avenida Dorvalino dos Santos, de forma precária, sem ordenamento viário, ede regular de luz e água, está se consolidando na antiga esplanada ferroviária, de propriedade da União, um parcelamento urbano onde hoje já há aproximadamente 200 moradias, pelo menos 150, com características de uma favela.
Se misturam casas de alvenaria, barracos cobertos de lonas plásticas, casebres erguidos com restos de construção, além de um vagão onde moram três pessoas. Não será uma tarefa fácil o poder público encontrar uma solução, que garanta por exemplo, o traçado para abertura de um novo acesso ao Bairro São Bento, alternativa já saturada, a Rua João Márcio Ferreira Terra. O que há hoje, são vielas irregulares, trechos sem continuidade, terrenos sem um tamanho padrão.
Para que se aplique no local, as regras da lei federal da regularização urbana, a Prefeitura terá de assumir o protagonismo no processo, negociando com a Serviço do Patrimônio da União, a posse da área. O Reurb estabelece critérios (como o de baixa renda, não ter outro imóvel) para contemplar as famílias. Sabidamente, na área há quem não se enquadra neste perfil, inclusive, proprietários de mais de um imóvel na cidade.
É a fatura de um conflito urbano construído não só em função do déficit habitacional calculado em 7 mil moradias, mas sobretudo, de 23 anos de omissão do poder público a contar de 1996, quando os trens pararam de circular no ramal de Ponta Porã.
Até julho do ano passado, quando mais 130 famílias entraram em 4,5 dos 14 hectares, o município assistiu passivamente quatro ou cinco posseiros se apropriarem da área e dois deles (Jorge Palma e outro conhecido como Tião), parcelar e vender lotes de 200 metros quadrados.
Quem comprou há 5 anos o lote como Michele Rodrigues, que liderou a ocupação na área do pecuarista Waldivino Sandim, pagou ao senhor Jorge Palmas, R$ 12 mil pelo terreno de 10 x 20. O senhor Sebastião, ainda tem para vender dois terrenos remanescente dos 10 mil metros quadrados (1 hectares que pagou). Cobra R$ 20 mil pelo direito de posse de um terreno.
O comprador é informado que corre o risco de perder o dinheiro investido, mas é orientado a construir ao menos uma peça e se mudar de imediato. Não é à toa que aos finais de semana uma cena comum é o movimento de pedreiros e serventes, fazendo massa de cimento, erguendo e depois rebocando paredes.
Nas vizinhanças destes loteamentos clandestinos (do senhor Jorge, do Tião e do Pastor), estão as 149 famílias do Jatobá, que em julho de 2018 entraram em 4,5 dos 5 hectares até então controlados pelo posseiro Nilson. Ele conseguiu 30 dias depois, em agosto do ano passado, reintegração de posse, que não foi cumprida na época (às vésperas da eleição) porque o Governo do Estado alegou falta de efetivo da PM. A situação mudou e o posseiro decidiu transferir para os sem teto, de forma individual, garantindo a cada família um lote de 200 metros.
Entre os moradores do Jatobá, boa parte participou da invasão ao Jockey Clube, de onde foram despejados em agosto de 2017 pela tropa de choque da Polícia Militar. Há personagens como o casal de aposentados, José Rosa, 70 anos e a esposa dele, dona Cleusa, 67 anos, que sobrevivem com dois salários mínimos das suas aposentadorias. Ele é portador da Doença de Chagas, contraída aos 14 anos quando trabalhava no Paraná em lavouras de café.
Ela, diabética e hipertensa, chega a gastar R$ 500,00 por mês com medicamentos. Entrar na área da antiga esplanada e construir uma casa, pareceu uma alternativa viável para escapar de continuar pagando R$ 300,00 de aluguel. Ficaram morando num barraco por mais de um ano. Há dois meses fizeram um empréstimo consignado de R$ 7 mil que garantiu a construção de três peças onde estão morando. Ainda sofrem com falta de energia elétrica e a água vem de uma ligação compartilhada por toda a comunidade.
Um vizinho do casal é uma figura excêntrica, Zildo Dias de Souza, há três anos ocupa o último vagão remanescente da antiga esplanada. Chega a ganhar R$ 2 mil coletada e vendendo lixo reciclável na cidade. Guarda uma semelhança com o roqueiro Raul Seixas (óculos escuros e o cavanhaque).
Garante que chegou à cidade vindo a pé de Campo Grande empurrando seu carrinho. Conseguiu percorrer em dois dias os 70 quilômetros que separam Sidrolândia da Capital. Nas horas de folga gosta de exibir seu talento tocando viola. “Sai de casa, morei em várias cidades até me fixar aqui, onde sou bem recebido por todo. Tenho liberdade, não tenho patrão”, assegura.