Sidrolândia
Famílias na linha de miséria, vítimas da obstrução que as deixou 4 meses sem cesta
Flávio Paes/Região News
17 de Dezembro de 2020 - 14:40
Não é fácil identificar quem saiu ganhando no embate político que travou por 4 meses na Câmara a votação do projeto que daria respaldo orçamentário para a Prefeitura investir R$ 283.100,00 em ações de assistência social.
Não é preciso muito esforço para saber quem perdeu e continua perdendo com a manobra legislativa: as 100 famílias que tem filhos, irmãos, sobrinhos e netos especiais, que são atendidas pela APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). Elas serão beneficiárias por três meses das cestas básicas, com carne, legumes e verduras, que serão adquiridas com os recursos federais disponíveis desde julho, mas que infelizmente, por questões políticas, só agora, as vésperas do Natal a Câmara aprovou a liberação dos recursos.
A maioria destas famílias sobrevive de subempregos, ganha no máximo um salário mínimo, depende dos programas de transferência do Governo, integra o segmento da população que no linguajar dos economistas, se equilibra na linha de miséria.
Para a população, incluindo os vereadores, conhecer um pouco da história destas pessoas, a reportagem do Região News deu voz e visibilidade a algumas delas. Seus relatos não são só reveladores de sofrimento e privações, mas sobretudo, a expressão genuína de dedicação, solidariedade, amor incondicional aos seus entes próximos. Sentimentos valiosos que transcendem às picuinhas e vaidades que separam alguns destes fugazes personagens da cena política sidrolandense.
A primeira personagem que vamos apresentar tem 54 anos. É dona Lenilda Marques Rosa, que não está nem um pouco interessada nos projetos políticos do presidente da Câmara, muito menos faz ideia da sua crônica e enfadonha quizila com seu malvado favorito, o vereador Jean Nazareth.
Ela tem coisas mais importantes para se preocupar. Administrar uma casa onde moram 18 pessoas, 6 delas, especiais que dependem dela praticamente pra tudo. Com a pandemia, desde março, deixaram de frequentar a APAE, desde então, o trabalho desta matriarca dobrou. Não é uma tarefa simples fazer comida para este batalhão de gente.
Preparar as refeições não é simples, pior mesmo é esticar o orçamento para garantir diariamente 5 quilos de arroz, um item do cardápio que não sai por menos de R$ 20,00, o pacote, equivalente a R$ 600,00 por mês, que corresponde a quase 60% do salário mínimo. A família tem uma renda de R$ 4.500,00, que na prática é a soma dos LOAS que cada uma das pessoas especiais recebe.
Parte da renda R$ 1.500,00, vai para o pagamento do terreno e do empréstimo que garantiu a construção da casa de 10 cômodos e dois banheiro no Jardim Paraíso.
"É uma vergonha o que estão fazendo com a gente. Eles desconhecem nossas necessidades e só fazem politicagem barata. Uma cesta básica faz muita diferença para nós, principalmente se vier com carne e verduras", Lenilda.
Além do arroz e do feijão, não é fácil conseguir mistura todo dia. "A gente sempre apela para o puchero, que é mais barato", revela. Na casa de dona Lenilda são especiais, tem ligeiro retardado mental, que exige uso de medicamentos controlados, seu irmão Ademir, de 43 anos; os filhos, Nilton, de 27 anos; a filha, Elicelte de 33 anos; o sobrinho Daniel de 43 anos e os netos, Jefferson, de 18 anos e Nadiele, de 16 anos.