Sidrolândia
RN revela drama de familias que passarão "Natal em branco" porque Câmara travou recursos
O dinheiro está na conta da Secretaria de Assistência Social há mais de 4 meses e provavelmente só no mês de março de 2021 poderá ser aplicado.
Flávio Paes/Região News
17 de Dezembro de 2020 - 17:50
Alguns vereadores, como o presidente da Comissão de Legalidade e Cidadania - CLS, Geosafa da Silva, mostraram interesse em saber quais seriam as famílias beneficiárias das cestas básicas que a Prefeitura compraria com parte do recurso (em torno de R$ 117 mil) do governo federal liberado desde julho para custear ações na área social, mas que só agora foi autorizado pela Câmara.
O dinheiro está na conta da Secretaria de Assistência Social há mais de 4 meses e provavelmente só no mês de março de 2021, começará a ser investido. O projeto que abre crédito suplementar só foi aprovado após mais de 4 meses de tramitação, na ultima sessão ordinária do ano, dia 15.
Dona Maria, de 35 anos, é mãe de Isabela, uma menina de 5 anos que tem paralisia cerebral, é cardiopata (usa marca-passo), e é uma das centenas de crianças especiais que são atendidas pela APAE. O vereador Fá mostrou tanto interesse em conhecer os beneficiários das cestas básicas que deveriam ser adquiridas pela Prefeitura que há 4 meses cobrou do Executivo por ofício o nome deles.
Pois bem, a reportagem do Região News facilita, em parte, as coisas para o nobre edil e seus colegas de parlamento. Vamos relatar um pouco da história desta beneficiária, que com medo de retaliações, pediu para ter sua identidade omitida. Em respeito ao seu desejo, usamos nomes fictícios.
Ela literalmente se “vira nos 30” para sustentar sua filha especial e seus outros três filhos. Sua maior renda e o salário mínimo do LOAS, benefício previdenciário a que já faz jus. Ela relata que a vida não é fácil. Precisa recorrer ao sistema de saúde pública em busca de medicamentos, exames e especialistas.
Espera desde agosto pelo agendamento da consulta com o cardiologista em Campo Grande. Sua preocupação é com a troca do marca-passo que usa há 3 anos. Como a filha tem baixa imunidade, os médicos tem postergado a cirurgia porque causa do risco de contaminação na Santa Casa.
Dona Maria tem batido às portas da Justiça para ter acesso ao atendimento que sua filha precisa. Uma cesta básica faz muita diferença na vida dela e da sua família.
Quem também espera ansiosa por alguma coisa, que seja uma cesta básica é dona Jorsilene Auxiliadora, mãe do Pedro Gabriel, um menino de 5 anos que tem paralisia cerebral, que se alimenta por sonda.
Ela e o marido estão desempregados. Ambos trabalhavam na limpeza pública, como funcionários contratados da Prefeitura. "Não sei como vamos sobreviver. Além do tratamento na APAE, o Pedro Gabriel toda semana tem atendimento em Campo Grande. A gente gasta com a viagem, alimentação", conta.
Em tempo: foi ensurdecedor o silêncio da direção da APAE durante os longos 4 meses de tramitação na Câmara do projeto que beneficiaria as famílias das crianças especiais atendidas pela entidade. Está postura é o que de fato expôs a imagem de uma instituição que é um patrimônio do país.
Jogo de empurra
Não bastasse o drama das famílias que passarão o Natal 2020 literalmente a espera de um milagre, causa revolta nas famílias, o desinteresse da direção da própria instituição que simplesmente ignorou os fatos, mesmo tendo profundo conhecimento das necessidades de seus assistidos.
Já entre os parlamentares, sem exceções, a omissão parece ter sido ponto pacificado, onde o jogo de empurra-empurra é a única saída para quem se viu numa saia justa depois que o caso tornou público e provocou a indignação das pessoas ante ao descaso do parlamento.
Geosafá, presidente da Comissão de Legalidade e Cidadania - CLC, acuado com a postura do presidente da Casa, Carlos Henrique Olindo (PSDB), que literalmente jogou no colo das comissões permanentes o atraso na tramitação do projeto, agora acusa o vereador Jean Nazareth pela morosidade.
“Não participei das reuniões da Comissão. Jean presidiu as sessões. Deveria ter colocado em pauta”, dispara. Já o vereador petista se defende dizendo que não tem esta autonomia, já que assinou como presidente em decorrência da ausência do titular, no caso, Geosafá, quem segundo ele, deveria ter assumido suas atribuições.