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Sidrolandia

Cármen Lúcia: "Sociedade brasileira é patrimonialista, machista e muito preconceituosa"

Presidente do STF participou nesta quinta (26) de evento que discutiu participação feminina na Justiça. Procuradora-geral e advogada-geral da União também participaram da abertura do encontro.

G1

26 de Outubro de 2017 - 16:39

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, afirmou nesta quinta-feira (26) que a "sociedade brasileira ainda é "patrimonialista, machista e muito preconceituosa" com as mulheres. Segunda mulher a comandar a Suprema Corte, Cármen Lúcia deu a declaração ao participar do seminário “Mulheres na Justiça”, organizado pela embaixada da França em Brasília.

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, e a advogada-geral da União, Grace Mendonça, também participaram do evento. Tanto Raquel Dodge quanto Grace Mendonça são as primeiras mulheres a chefiarem, respectivamente, a Procuradoria Geral da República (PGR) e a Advocacia-Geral da União (AGU).

Ao discursar no seminário, a presidente do Supremo ressaltou que, na avaliação dela, a desigualdade de gênero está presente em todos os poderes.

“Todos os poderes, por exemplo, de cargos públicos, Judiciário, Ministério Público ou mesmo a advocacia, são cargos que tiveram modelos segmentados socialmente para homens e pelos homens” (Cármen Lúcia)

A magistrada também alertou que permanece na sociedade uma violência que gera morte física de muitas mulheres.

“Continua havendo mulheres mortas, e não mortas apenas pelos companheiros, mortas por uma sociedade que teima em não ver que a mulher não é a causadora do feminicídio, que é o assassinato recorrente da sua condição de ser mulher”, complementou.

'Longo caminho'

Em meio a sua fala, Raquel Dodge ponderou que, na visão dela, ainda há "um longo caminho a percorrer" na busca por igualdade entre homens e mulheres e criticou a falta de divisão de tarefas domésticas.

Segundo a procuradora-geral da República, "sair de casa e pedir que o marido cuide do jantar, ou que prepare o café da manhã, ou que compre fralda para os filhos não é um favor".

"Ao deixar o lar e ir para o mercado de trabalho não perdemos nenhuma das tarefas domésticas, elas ainda não são divididas com os nossos companheiros. É uma transição ainda incompleta que precisa ser complementada com uma modificação cultural em que nossos companheiros passem a dividir as tarefas doméstica não por estar fazendo um favor" (Raquel Dodge)

Segundo ela, é preciso pautar a defesa das mulheres na vida pública e a luta contra a violência doméstica na vida privada. A chefe do Ministério Público comentou o fato de ser a primeira mulher a ocupar o cargo de procuradora-geral da República.

"Estamos discutindo quantas mulheres ocupam carreira jurídica. Na minha, um terço dos procuradores da República são mulheres. Foi preciso 41 procuradores-gerais para que surgisse uma procuradora-geral mulher", enfatizou.

A advogada-geral da União, Grace Mendonça, também classificou a sociedade brasileira como "machista". Para ela, mulheres enfrentam desafios diários para se posicionar na sociedade "tão preconceituosa".

"Uma sociedade machista e que ainda estranha ter uma mulher em posição de destaque" (Grace Mendonça)

Conforme a chefe da AGU, as mulheres são mais penalizadas em cargos de liderança. "Nós não podemos ter um único espaço que possa permitir qualquer tipo de vacilo. Não podemos errar, e isso nos impõe um ônus mais do que pesado."