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Sidrolandia

Corregedor pede explicações a TRE sobre suspeita juíza ter beneficado senador no AC.

Polícia Federal e o Ministério Público investigam a suspeita de que Viana teria comprado votos nas eleições

Vote Brasil

22 de Outubro de 2010 - 21:00

O corregedor da Justiça Eleitoral, Aldir Passarinho, pediu explicações ao Tribunal Regional Eleitoral do Acre sobre a suspeita de que a juíza Arnete Guimarães teria agido para beneficiar o senador recém-eleito Jorge Viana (PT-AC), como revelou ontem Estado. A Polícia Federal e o Ministério Público investigam a suspeita de que Viana teria comprado votos nas eleições.

A Justiça autorizou a busca e apreensão no escritório político da campanha, mas uma liminar dada pela juíza obrigaria a PF a devolver os computadores e a destruir qualquer prova que tivesse sido encontrada.

O MP recorreu da decisão e conseguiu que a Polícia Federal permanecesse com as informações contidas em dois notebooks, três discos rígidos de outros computadores e cinco pen drives.

O pedido de explicações ao TRE levou a juíza a se declarar suspeita neste caso e a se afastar do processo. De acordo com investigadores, ela teria conversado com Jorge Viana antes de deferir a liminar para a devolução dos computadores e destruição de possíveis provas.

Jorge Viana negou que tenha conversado com Arnete Guimarães e afirmou que sua campanha correu "100% dentro da legalidade". Ele levantou dúvidas sobre a legalidade da operação da PF, baseada numa denúncia anônima. "É possível que pessoas que deveriam guardar a Constituição e as leis possam estar agindo ao arrepio de ambas. Mas este é um assunto para a Justiça", afirmou.

E negou as suspeitas de que tivesse reunido em seu escritório listas com nomes de eleitores e números dos respectivos títulos e locais de votação. "Jamais realizei qualquer ato contrário à legislação eleitoral no curso da minha campanha para a eleição ao Senado pelo Estado do Acre", disse.

"Ao contrário do que é informado na reportagem (publicada ontem), jamais mantive contato pessoal ou por telefone ou qualquer outro meio com a desembargadora Arnete Guimarães para tratar do conteúdo do mandado de segurança, assim como qualquer pessoa vinculada a mim. Fui representado exclusivamente por intermédio de meus advogados em todos os procedimentos judiciais relacionados ao caso.", acrescentou.

Viana relatou que os agentes da Polícia Federal entraram em seu escritório de campanha na madrugada do sábado, na véspera da eleição. Esses policiais, de acordo com ele, disseram não ter encontrado qualquer indício de irregularidade. E afirmou que nenhuma suspeita foi levantada contra sua campanha durante as eleições.

A decisão judicial em acolher a denúncia foi celebrada ontem pelos promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) da região do ABC, responsáveis pela investigação. "Ao receber a denúncia, a Justiça reconhece que há indícios para que a ação corra de verdade.

É um caminho importante para resgatarmos o dinheiro desviado", disse ao Estado a promotora Eliana Vendramini. Ela destaca que a Justiça decidiu aceitar a denúncia depois de ouvir a defesa de todos os acusados nos últimos três anos.

Daniel. Segundo a ação, o assessor de Lula transportava a propina para o comando do PT quando era secretário de governo do então prefeito de Santo André, Celso Daniel, assassinado em janeiro de 2002.

"Ele concorreu de qualquer maneira para a prática dos atos de improbidade administrativa na medida em que transportava o dinheiro (propina) arrecadado em Santo André para o Partido dos Trabalhadores", diz a denúncia aceita pela Justiça. De acordo com a investigação, os recursos eram entregues ao então presidente do PT, José Dirceu.

Apontado pelo Ministério Público como mandante do assassinato de Daniel, o ex-segurança Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, é companheiro de Carvalho na relação de réus. Somam-se ao grupo o ex-secretário de Transportes Klinger Luiz de Oliveira Souza, o empresário Ronan Maria Pinto, entre outros.

"O valor arrecadado era encaminhado por Ronan ao requerido Sérgio e chegava, em parte, nas mãos de Gilberto Carvalho, que se incumbia de transportar os valores para o Partido dos Trabalhadores", afirma a denúncia.

"A responsabilidade de Klinger e Gilberto Carvalho decorre da sua participação efetiva na quadrilha e na destinação final dos recursos." O dinheiro, aponta a investigação, serviu para financiar campanhas municipais, regionais e nacionais do PT . Por isso, o partido também responderá ao processo como réu.

Braço direito. Carvalho era o braço direito de Daniel na Prefeitura de Santo André, entre 1997 e 2002. O prefeito foi sequestrado no dia 18 de janeiro de 2002 depois de um jantar em São Paulo na companhia de Sombra.

Dois dias depois, foi encontrado morto em uma estrada em Juquitiba, com sinais de tortura e sete tiros. Daniel era um dos principais coordenadores da campanha presidencial de Lula até então.

O Ministério Público acusa sete pessoas pelo crime. Seis vão a júri popular a partir de novembro. De acordo com os promotores, o crime foi encomendado por Sérgio Sombra.

A Justiça já decretou que ele irá a júri popular. Para os investigadores, Celso Daniel morreu porque não aceitou que a propina, direcionada apenas para o PT, fosse usada para enriquecer os envolvidos.