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Sidrolandia

"Exportação" de jogadores faz Portugal virar potência na Copa do Mundo

Se o Brasil começasse a Copa de 1990 no mesmo grupo de Portugal, seria apenas mais um adversário.

uol

08 de Junho de 2010 - 09:17

 Afinal, naquele Mundial, eles nem conseguiram passar das eliminatórias. Vinte anos depois, enfrentar os portugueses logo na primeira fase tornou-se bem mais arriscado. Foi tempo suficiente para que os grandes centros do futebol descobrissem um novo celeiro de craques, o que fez a seleção lusa ganhar experiência e respeito.

Tudo isso começou justamente naquela época, há quase 20 anos, com a conquista do título mundial Sub-20, em 1991. O adversário da final foi o Brasil. A seleção que tinha Roberto Carlos, Paulo Nunes e Élber não conseguiu ganhar do time que contava com Luís Figo, e perdeu a taça nos pênaltis.

Quem comandava aquela seleção era Carlos Queiroz, o mesmo técnico que conduz Portugal em sua terceira Copa consecutiva, um feito inédito. Queiroz agora leva para a África do Sul um time que tem apenas nove dos 23 jogadores atuando no Campeonato Português.

Desde então, Luis Figo e Cristiano Ronaldo chegaram a conquistar o prêmio de melhor jogador do mundo, mas o país ainda espera por um grande título. Ao menos, a seleção consegue se manter entre as 15 primeiras do ranking da Fifa desde 2004, ano em que foi vice-campeã europeia.

A Eurocopa de 2004 foi o primeiro marco da “Era Scolari”, que teve ainda a conquista do quarto lugar na Copa de 2006. Um dos responsáveis pelo desenvolvimento do futebol local, o treinador brasileiro considera a exportação de talentos determinante para tornar o país um celeiro de craques e ajudar a desenvolver a seleção.

“Alguns dos grandes jogadores portugueses vão jogar em outros países porque a oferta financeira é bem maior que a de Portugal”, explicou Luiz Felipe Scolari ao UOL Esporte. “Com isto, ajudam a seleção com os conhecimentos que adquirem nos outros locais em que jogam”, continuou o treinador.

MARCOS DA EVOLUÇÃO DE PORTUGAL

1966

Com Eusébio artilheiro, conquista o terceiro lugar na Copa do Mundo

1986

Seleção volta a disputar um Mundial, mas é eliminada na primeira fase

1991

Conquista o Mundial Sub-20, dois anos depois de levar título no Sub-19

1995

Lei Bosman abre o mercado europeu. Nomes como Figo, Fernando Couto e Vítor Baía se destacam no exterior

2002

De volta a uma Copa, time de Figo e companhia fica na fase de grupos

2004

Alcança a decisão da Eurocopa, mas perde final em casa para a Grécia

2006

Comandada por Felipão, seleção chega à semi da Copa do Mundo

2010

Joga a terceira Copa seguida e aposta no astro Cristiano Ronaldo; Brasil é adversário na primeira fase

“Eles conhecem outras formas de dirigir equipes, outras formas de treinamento e ajudam o selecionador e os colegas que jogam em Portugal”, completou Felipão. Autor do livro Luiz Felipe, o homem por trás de Scolari, o jornalista José Carlos Freitas acompanhou a seleção de Portugal desde o começo dessa nova ascensão, e ratificou essa análise.

Para ele, o marco da evolução do futebol português foi o Caso Bosman, uma decisão judicial de 1995 que abriu as fronteiras do mercado europeu de jogadores: “Os portugueses passavam, assim, a jogar no seu dia a dia com os melhores do mundo e não apenas algumas vezes por ano, quando os defrontavam em jogos da seleção”.

“Essa aproximação quebrou as barreiras psicológicas e levou-os a pensar: ‘se jogamos ao lado deles, é porque somos tão bons quanto eles’”, observou Freitas. O pesquisador cita Luis Figo, Rui Costa, Fernando Couto, Vitor Baía, João Vieira Pinto e Pauleta como “os rostos mais importantes dessa explosão do talento português além fronteiras”.

Especialista em Felipão, Freitas não deixou de citar técnico brasileiro como um dos que mais contribuíram para o ressurgimento do futebol português. Mas a sua ressalva final sobre o trabalho dos craques e treinadores à frente da seleção reflete a grande desconfiança dos próprios jogadores da seleção atual.

“Os resultados finais, não se traduzindo em conquista de títulos, acabaram por ser bem importantes”, diz o pesquisador, referindo-se ao terceiro lugar na Eurocopa de 2000, o vice-campeonato europeu de 2004 e o quarto lugar na Copa de 2006.

É por causa dessa escassez de títulos que jogadores como o luso-brasileiro Deco fazem questão de frisar que Portugal não tem favoritismo nenhum na África do Sul. O problema é que tanto ele quanto Cristiano Ronaldo e companhia estarão lá para provar justamente o contrário.