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Sidrolandia

Pessoas demoníacas ocupavam o poder

Até que sejam convocadas novas eleições, o juiz deve permanecer na função

Dourados Agora

06 de Setembro de 2010 - 07:24

O juiz Eduardo Machado Rocha, prefeito provisório do município de Dourados é o entrevistado desta segunda-feira de O PROGRESSO. Ele foi empossado na manhã de sábado porque tanto o prefeito Ari Artuzi, como o vice Carlinhos Cantor e o presidente da Câmara Municipal Sidlei Alves estão presos, acusados de corrupção. Até que sejam convocadas novas eleições, o juiz deve permanecer na função. Como uma das primeiras medidas, anunciou uma auditoria para investigar não somente este mandato como também de prefeitos anteriores. “Pessoas demoníacas ocupavam o poder”, disse Eduardo Machado Rocha que, como douradense, repudia, ainda, todos os acontecimentos que culminaram com 29 prisões por parte da Polícia Federal na Operação Uragano, palavra italiana que traduzida ao português significa Furacão.

Qual a primeira medida a ser tomada como administrador de Dourados?

“Primeiro eu pretendo instituir um Conselho com representantes de todas as entidades de classe e mais pessoas experientes na área política no sentido de começar a trocar idéias neste período que estarei à frente da administração”.

Uma das primeiras medidas antes mesmo do senhor tomar posse foi manter como secretário o jornalista Eleandro Passaia, por que?

“Eu conversei com ele e Passaia vai estar me assessorando. Como secretário deve continuar porque eu entendi que ele é uma pessoa que estava no meio. Mas Deus tocou o seu coração e graças a Passaia foi descoberta toda essa trama. Senti sinceridade olhando nos olhos dele, e que vai ser uma pessoa de grande utilidade e a honestidade vai imperar, enfim eu acredito em Eleandro Passaia”.

Como douradense como o senhor analisa tudo o que aconteceu com a cidade?

“Lamentável, como douradense eu já sentia muito desde a adolescência com os desmandos que já ocorriam em Dourados. Naquela época, como membro do povo, me sentia inoperante. Nada dava certo, a cidade tinha falta de administradores e Deus me deu esta oportunidade e se eu estou aqui com certeza não é em nome da minha pessoa mas porque Deus me deu esta oportunidade, foi Deus quem me colocou aqui. Nada acontece por coincidência, sou natural de Dourados, sou juiz de direito exercendo a função aqui na cidade e também neste ano eu assumi novamente a direção do Fórum. Justamente agora aconteceu este fato, que é a oportunidade da gente colocar tudo em pratos limpos, fazer de imediato auditorias em todas as secretarias e de imediato solucionar isso”.

A auditoria é realmente necessária, independente do tempo que o senhor vai permanecer no cargo?

“Não tem como iniciar um mandato sem a auditoria, mas ela não vai atrapalhar as atividades normais da Prefeitura. Espero que esta auditoria seja instalada de imediato”.

Com relação aos cargos de confiança do prefeito anterior, além do Passaia o senhor pretende manter outras pessoas, isso vai depender do que?

“Vamos analisar caso a caso, aqueles cargos que a pessoa está trabalhando de forma honesta, não vejo razão para mexer de imediato, mas aqueles que estão ganhando sem trabalhar vou baixar um ato para cortar. Aquele que merecer confiança estamos analisando para manter, outros da minha confiança serão escolhidos”.

Os setores que mais lhe preocupam neste momento são saúde e educação?

“Sim, tanto que uma reunião está marcada para segunda-feira [hoje]. O vereador Idenor Machado até me procurou e eu falei que realmente eu quero ter uma conversa urgente com as pessoas ligadas à educação, professores, diretores de escolas, para que de forma urgente, possamos solucionar eventuais deficiências que estariam ocorrendo na educação, porque essa área, como se sabe, bem como a saúde, são casos de urgência no município. Espero nestes poucos dias dar um encaminhamento para que Dourados seja referência em saúde e educação”.

O senhor passa a ocupar um cargo que foi obrigado a assumir pelas consequências. Na sua vida já existia uma tendência política?

“Eu nunca tive tendência política, a minha aptidão era para ser juiz e graças a Deus sou juiz em Dourados e já tive várias oportunidades de ir para Campo Grande por remoção e nunca me interessei porque sou de Dourados, gosto daqui. Para a capital só vou se for promovido a desembargador e eu estou próximo, sou o sétimo da lista. Com relação ao cargo de prefeito, sinceramente, depois de ver algumas sujeiras por parte de quem ultimamente comanda a Prefeitura, passei algumas noites em claro, ficava pensando se Deus me desse a oportunidade de exercer um cargo eu faria assim...assim... assim....é obra de Deus”.

Em seu discurso, logo após a posse, o senhor usou o termo “demoníaco” para classificar pessoas que se aproveitam do cargo em benefício próprio. Esta é a palavra correta neste momento?

“É uma expressão pesada mas não existe outro adjetivo para a gente atribuir a estas pessoas que desviam dinheiro público. Pelo menos é o que nós estamos vendo nas imagens, rios e rios de dinheiro da saúde, enquanto crianças, adolescentes, pessoas idosas, pessoas menos favorecidas ao acesso à saúde ficam mendigando uma assistência médica, um remédio. Esses políticos parecem que não tem noção deste sofrimento, e aí eu fico pensando se um dia Deus me der esta oportunidade, e deu. É Deus quem vai administrar”.

Qual tipo de solicitação que o senhor faz aos servidores públicos?

“Eu solicitei aos servidores, principalmente aqueles que exercem o cargo de chefia, a comparecer na segunda-feira [hoje] para que a gente possa fazer um expediente interno, conversar e deliberar a respeito de medidas urgentes”.

O senhor pretende moralizar o poder público?

“Já começamos a dar expediente com reuniões marcadas com secretários. Com os médicos, prefiro conversar de forma particular e depois passar para a imprensa, mas não temos nada a esconder. Eu estarei dando total cobertura, total apoio as ações policiais, quer seja federal, estadual e ao Ministério Público, que encontrando irregularidades agilizem e tomem as providências necessárias”.

Tudo o que aconteceu em Dourados o senhor acredita que pode servir de lição para o despertar da consciência ao voto?

“Esta questão da consciência do voto é antiga. A Associação Brasileira de Magistrados (AMB) vem debatendo isso há muitos anos, de levarmos ao conhecimento da população a importância de se escolher bons candidatos, de não se vender votos. O que aconteceu em Dourados foi que a população foi ludibriada, mas pelo que a gente percebe é que a população sul-mato-grossense, brasileira, está ávida por justiça, por bons administradores. Quando a pessoa faz uma administração bem feita ela é reconduzida ao cargo, independentemente de outras coisas. Alguns precisam investir milhões e milhões de dinheiro para conseguir votos, então, este tipo de coisa tem que acabar, a tendência é acabar, o povo vai se conscientizando, a pessoa precisa primeiro sofrer para aprender na vida, se não sofrer, não avança”.

Qual o seu recado para a população de Dourados neste momento de crise política?

“O recado é que eles podem esperar de mim aquilo que eles anseiam, que é honestidade é correção nas contas públicas e enfim, acabar com toda esta podridão que eventualmente ainda exista”.

Pretende bater na tecla do fim da corrupção em Dourados?

“Já estou batendo, e estou a disposição da Polícia Federal, da Polícia Estadual, Ministério Público, para que nós possamos tomar providências rápidas e imediatas.