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Sidrolandia

Prisão domiciliar a mulheres grávidas é bem-vinda, diz especialista

Para a especialista, o próximo passo deve ser cobrar dos tribunais em todo o país o mais rápido possível o levantamento de mulheres que se encaixam nesse tipo de situação, conforme determinado pela decisão do STF.

Agência Brasil

21 de Fevereiro de 2018 - 16:37

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de conceder prisão domiciliar a mulheres presas preventivamente que estão grávidas ou que são mães de crianças de até 12 anos foi aclamada por especialistas ouvidos pela reportagem como muito bem-vinda e até emocionante. A medida vale somente para detentas que aguardam julgamento e que não tenham cometido crimes com uso de violência ou grave ameaça e também vai depender da análise da dependência da criança aos cuidados da mãe. Cerca de 4 mil mulheres devem ser beneficiadas.

“O que o Supremo fez foi um pequeno recorte em relação a primariedade e crimes violentos. Um recorte que está dentro de uma perspectiva razoável. Mas e o ganho maior que a gente tem com uma decisão como essa? Foi emocionante. Era um desejo, uma expectativa positiva que se transformou num sentimento de muita satisfação”, avaliou a doutora em direito pela Universidade de Brasília e pesquisadora na área de sistema carcerário feminino, Soraia da Rosa Mendes.

Para a especialista, o próximo passo deve ser cobrar dos tribunais em todo o país o mais rápido possível o levantamento de mulheres que se encaixam nesse tipo de situação, conforme determinado pela decisão do STF. Ela lembrou que a maior parte das mulheres presas no Brasil é mãe de pelo menos dois filhos e se encontra em convívio direto com as crianças no momento em que a prisão preventiva é decretada.

“As críticas que vêm no sentido de que as mulheres vão engravidar e se valer do estado de gravidez para praticar crimes são criticas que nós, mulheres, historicamente já conhecemos. Sempre, em relação à mulher, há um sentimento de que ela vai se valer da malícia, da mentira, do engano, para obter alguma vantagem”, destacou.

“Quem diz algo desse tipo não conhece a realidade prisional brasileira e, mais especificamente, o cárcere feminino. Não conhece a realidade da criminalidade feminina brasileira. Estamos falando de crimes sem nenhum potencial ofensivo, sem violência, sem grave ameaça. A maior parte dessas mulheres está envolvida com pouquíssima quantidade de droga, outras como mulas ou como ralé dentro do sistema do tráfico”, completou.

O professor da Fundação Getúlio Vargas e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Rafael Alcadipani, compartilha do sentimento de comemoração em relação à decisão do Supremo. Ele reforçou que boa parte das mulheres atualmente encarceradas no país são presas em razão do tráfico de drogas e que muitas são usadas pelos próprios companheiros para esconder a droga. “Por conta disso, ficam em situação difícil na Justiça e no sistema criminal. A lei penaliza sempre os mais pobres e os mais vulneráveis, no fim das contas”.

“É uma decisão bem-vinda no quadro atual de desesperança, de tentativa de endurecimento e da falta de razão”, disse. “Até porque, se essa mãe não está com seu filho, há possibilidade de criar famílias ainda mais desestruturadas e a gente sabe que isso, no futuro, não dá certo. Deixar um bebê preso junto à mãe é deixar preso o futuro do país e o futuro dessas crianças”, concluiu, ao cobrar revisão urgente da chamada Lei de Drogas, “que encarcera um monte de gente e raramente o traficante”.