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Um jornal a serviço do MS. Desde 2007 | Quinta, 10 de Outubro de 2024

Sidrolandia

Quebra de sigilo de tucanos - Quem perde, quem ganha

O jornalista Amaury Ribeiro Jr. é o homem-bomba da hora.

O Globo

20 de Outubro de 2010 - 19:13

Ao confessar à Polícia Federal que obteve dados da quebra do sigilo fiscal da filha de José Serra, de Eduardo Jorge, vice-presidente do PSDB e de outros tucanos emplumados, ficou mal na foto e deixou mal o jornal Estado de Minas e a campanha de Dilma Rousseff.

Não satisfeito, e por tabela, ainda envolveu na história o ex-governador Aécio Neves.

O jornal é estreitamente ligado a Aécio - como, de resto, foi ligado a todos os governadores que o antecederam no cargo. Única exceção: Newton Cardoso, do PMDB, com o qual rompeu por não ter chegado a um razoável entendimento sobre a parte que lhe cabia na verba de publicidade do governo.

Amaury contou que teve a iniciativa de investigar as contas de tucanos ao saber que o deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), delegado da Polícia Federal e amigo de Serra, estaria investigando a vida de Aécio. Itagiba sempre negou isso. Amaury não apresentou provas da ação que atribuiu a Itagiba.

O jornal pagou as despesas de viagem para que Amaury reunisse informações capazes de constranger tucanos e a filha de Serra, ex-sócia em uma empresa da filha do banqueiro Daniel Dantas, dono do Grupo Opportunity.

As informações deram origem a um relatório. E cópia do relatório ficou com o jornal depois que Amaury se desligou dele. Em seguida, Amaury bandeou-se para os lados do PT.

Procurado pelo que aponotou como "núcleo de inteligência" da campanha de Dilma, ele topou colaborar, cedendo as informações que apurara sobre os tucanos e se dispondo a participar de investigações contra Serra.

Com base na confissão de Amaury à polícia, e das conclusões da própria polícia, o que existe de concreto até aqui:

a) Amaury investigou a vida fiscal de tucanos, encomendou a quebra do sigilo deles e pagou pelo serviço;

b) O Estado de Minas pagou as despesas de viagem de Amaury entre Belo Horizonte e São Paulo, onde ocorreu a quebra de sigilo. É dono de uma das cópias do relatório produzido pelo jornalista. Não o publicou.

c) Amaury colaborou com a campanha de Dilma na tarefa - aparentemente interrompida mais tarde - de investigar a vida de Serra. Um ex-delegado da Polícia Federal chegou a ser procurado para ajudar na investigação.

Perguntas que insistem em não calar:

a) De onde saíram os R$ 12 mil pagos ao despachante que se valeu de procuração falsa para quebrar o sigilo da filha de Serra - do próprio bolso de Amaury ou dos cofres de o Estado de Minas que financiou a investigação?

b) Aécio soube que o Estado de Minas autorizara Amaury a devassar a vida de pessoas ligadas a Serra? Ele naturalmente responderá que não.

c) Por que a Polícia Federal deixou vazar o depoimento de Amaury a menos de 15 dias do segundo turno da eleição presidencial?

Para alimentar a desconfiança entre Serra e Aécio? Logo no momento em que Serra mais precisa de Aécio para se eleger?

Para criar embaraços à campanha de Dilma que sempre negou ter encomendado a montagem de dossiês contra Serra?

Amaury estava pronto para publicar um livro que prometia demolir a imagem de Serra, segundo disse mais de uma vez. Parte do conteúdo do livro ampara-se em um crime - o da quebra ilegal de sigilo.