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Sidrolandia

Testes de ONG mostram que 36% dos alimentos têm agrotóxicos acima do limite ou proibidos

Levantamento da ONG Greenpeace com alimentos como arroz, feijão e café mostrou ainda que 60% das amostras apresentavam pelo menos algum tipo de resíduo de pesticida.

G1

31 de Outubro de 2017 - 16:24

Testes feitos em 12 alimentos comuns da dieta do brasileiro, entre eles o arroz e o feijão, mostraram que 36% apresentavam algum tipo de irregularidade em relação a agrotóxicos. Ou apresentavam pesticidas totalmente proibidos no Brasil para qualquer alimento, ou continham níveis de produtos proibidos para aquela cultura específica, ou contavam com resíduos acima do limite permitido por lei.

Ainda, 60% das amostras tinham pelo menos algum tipo de resíduo de pesticida.

A pesquisa, divulgada nesta terça-feira (31), foi feita pela ONG Greenpeace. A organização coletou amostras de centros de distribuição de São Paulo e Distrito Federal em setembro. Os testes foram realizados pelo Laboratório de Resíduos de Pesticidas (LRP) do Instituto Biológico de São Paulo, ligado ao governo do Estado.

O Greenpeace testou o arroz branco e integral, o feijão preto e carioca, o mamão formosa, o tomate, a couve, o pimentão verde, a laranja, a banana nanica, a banana prata e o café. Ao todo, a ONG testou 113 kg de alimentos.

Parte dos alimentos foi escolhida por serem representativas na dieta do brasileiro, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), e a outra parte por apresentarem altos índices de agrotóxico (como couve, pimentão e tomate).

"A nossa amostra é pequena e o objetivo do estudo não foi o monitoramento, que deve ser feito pelo governo, mas de mostrar que estamos colocando agrotóxico todos os dias na mesa", diz Marina Lacôrte, especialista do Greenpeace em Agricultura e Alimentação. "Desafiamos qualquer centro a realizar o teste. Vai encontrar agrotóxico", comenta.

Os resultados são consistentes com pesquisa feita pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) com amostras coletadas entre 2014 e 2015; na ocasião, a agência mostrou que 58% dos alimentos tinham algum resíduo de agrotóxico.

Também testes realizados pela Proteste em 2016 mostrou que mais de um terço dos alimentos tinha agrotóxicos ilegais. A entidade testou amostras de oito tipos alimentos.

A dificuldade dos estudos

"É bem complexo você chegar a uma representatividade estatística porque a quantidade de produtores é muito grande e há uma variedade de alimentos. Nem o FDA (órgão americano), nem a Anvisa conseguem”, diz Karen Friedrich, toxicologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), que fez o parecer técnico do estudo. "Então, trabalhamos com amostras, mas o que vemos é que os dados têm sido consistentes ao longo dos estudos", explica.

A consistência nos estudos é importante porque muitas vezes se conta com a 'sorte', diz a toxicologista. "Quando você vai a um supermercado, por exemplo, o alimento vem de vários tipos de produtores porque a quantidade de gente para abastecer é grande", explica Karen. "Tem produtor que usa mais agrotóxico que outro. Então, às vezes, vai depender da sorte", comenta.

Mais de um tipo de resíduo

Um fator que preocupou a ONG foi a presença de mais de um tipo de agrotóxico. Segundo a entidade, a interação entre mais de um tipo de pesticida gera um "efeito coquetel" não totalmente mapeado por autoridades.

A pesquisa encontrou que o pimentão, por exemplo, apresentou sete tipos de resíduos, incluindo agrotóxicos proibidos.

Também três das quatro amostras de mamão apresentaram quatro tipos diferentes de resíduos. Uma das amostras apresentou um pesticida não permitido para o mamão, a famoxadona, e um outro resíduo em níveis nove vezes acima do permitido: o difenoconazol.

"Estudos experimentais em animais mostram que a ingestão de misturas de agrotóxicos podem ser mais tóxicas. Estudos com populações expostas ambientalmente a vários agrotoxicos também mostram a possibilidade de interação", diz Karen Friedrich.

Fiscalização e incentivos

Para a toxicologista Karen Friedrich, seria importante haver um trabalho de rastreamento dos alimentos que mais apresentam problemas. "Isso significa pegar aquele alimento, identificar o produtor, fiscalizar e orientar sobre modos de produção sem agrotóxicos", diz. Ela comenta que esse trabalho já é feito em algumas regiões do país, como Santa Catarina e Paraná, mas não há uma ação em nível nacional.

Uma outra questão é que a comercialização de agrotóxicos no país é isenta de impostos, diz ela. "Então, para o produtor é mais barato trabalhar com o agrotóxico", diz. Ainda, segundo a toxicologista, há poucos incentivos para a produção orgânica e o processo para a obtenção da certificação ainda é muito caro no país.