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CAMPO GRANDE

Escola procurou Conselho Tutelar para informar abandono

Criança de sete anos não estava comparecendo à instituição.

Correio do Estado

14 de Dezembro de 2023 - 09:33

Escola procurou Conselho Tutelar para informar abandono
Foto: Gerson Oliveira

Antes do acidente que deixou um bebê de seis meses em estado grave, em Campo Grande, a escola em que estudava a menina de 7 anos, que estava responsável por cuidar dos irmãos mais novos, já havia informado ao Conselho Tutelar sobre o abandono escolar da criança.

Na noite de terça-feira, enquanto a mãe estava fora, a menina estava sozinha com os irmãos de 3 anos e seis meses. Enquanto tentava acalmar o bebê, a criança acabou caindo do 3º andar do prédio.

De acordo com documento de registros de denúncias, ao qual o Correio do Estado teve acesso, o primeiro alerta da Escola Municipal Professora Maria Lucia Passareli ao Conselho Tutelar da região sul de Campo Grande aconteceu no dia 11 de novembro de 2022, informando que a aluna de 7 anos estava com reiteradas faltas e em evasão escolar.

A escola realizou uma busca ativa, na tentativa de contato com os pais, mas não obteve êxito. Neste ano, a escola denunciou novamente o abandono escolar ao Conselho, no dia 17 de maio, deixando claro que a aluna não estava realizando as atividades pedagógicas em razão da falta de frequência na unidade escolar. Segundo a conselheira tutelar Raquel Lázaro, as denúncias da escola sobre a ausência de alunos nas aulas acontecem com frequência nos conselhos.

“O que foi feito neste caso foi a notificação dos pais, para que eles comparecessem ao Conselho Tutelar para esclarecimentos, porém, nas duas vezes em que foram notificados eles não foram”, disse Raquel.

A reportagem do Correio do Estado esteve no condomínio residencial CH8, no Bairro Aero Rancho, onde o acidente que aconteceu. Moradores do local informaram que as crianças não estavam frequentando a escola há um bom tempo e era comum a mãe deixá-las sozinhas em casa.

Foi relatado também que a casa onde a família morava era um local insalubre, com muita sujeira e poucos móveis, basicamente havia colchões para a mãe e as crianças dormirem.

A mulher morava sozinha com os filhos de 3 anos, 7 anos e seis meses. Poucos vizinhos a conheciam e, em certo momento, ela teria contratado uma babá para cuidar das crianças enquanto estivesse fora de casa.

A situação da família sensibilizou os moradores do condomínio, que estão organizando uma vaquinha para ajudá-la com a doação de móveis e com a compra de uma grade, para que seja colocada na janela do apartamento onde aconteceu o acidente.

Conforme informações de uma pessoa que faz parte da gerência dos condomínios, a mulher trabalhava na Feira Central no período noturno.

Pouso se sabe sobre o pai do bebê. De acordo com uma moradora do local, ele já teria morado no condomínio, porém, se separou da mãe das crianças após o nascimento do bebê.

O caso está sendo investigado pela Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DEPCA). De acordo com a delegada Nelly Gomes dos Santos Macedo, a mãe das crianças, que tem 23 anos, está presa preventivamente e deverá passar por audiência de custódia.

“Na audiência de custódia, será deliberado sobre o direito ou não de a mãe responder em liberdade. Os pais das crianças ainda serão intimados para depor”, disse a delegada Nelly.

“Precisamos saber, por meio dos depoimentos, por que essa mãe estava tão sobrecarregada cuidando de três crianças, não que isso isente a responsabilidade dela de deixar as crianças sozinhas, mas outros acidentes como esse poderiam ter acontecido também enquanto ela estava em casa. Então, a gente precisa saber se os pais assumiam a responsabilidade paterna ou se realmente essa mãe estava sobrecarregada”, acrescentou a delegada.

Segundo o Conselho Tutelar, o pai das crianças de 7 anos e 3 anos compareceu ao local após o acidente e foi aconselhado a procurar a Justiça caso queira realizar o desacolhimento das crianças, iniciando, assim, o pedido de processo para adquirir a guarda dos menores.

O CASO

O bebê de 6 meses, que estava sendo segurado pela irmã, caiu do terceiro andar – uma altura de aproximadamente 15 metros – de um dos prédios do condomínio residencial CH8, na noite de terça-feira.A irmã, de 7 anos, teria levado o bebê para perto da janela do apartamento porque ele estava chorando. Ela tentou acalmá-lo mostrando a vista da janela.

De acordo com testemunhas e moradores do condomínio, as crianças estavam sozinhas no apartamento quando o acidente ocorreu porque a mãe, que é responsável pelas crianças, teria saído de casa para pagar uma dívida com um conhecido e deixou os filhos sozinhos por poucos minutos, voltando ao apartamento logo depois do ocorrido.

O bebê foi socorrido por vizinhos da família, que o levaram para o Hospital Regional de Mato Grosso do Sul (HRMS). O bebê chegou no HRMS inconsciente, apresentando esforço respiratório (falta de ar), que necessitou de intubação, e hemorragia cerebral.

Com o estado grave, o bebê foi levado para Santa Casa, onde está internado na UTI. Já as crianças de 7 anos e 3 anos estão aos cuidados do Conselho Tutelar, em um abrigo de acolhimento institucional.