CAMPO GRANDE
Quadrilha ligada ao PCC usava casas de alto padrão para lavar dinheiro e esconder armas
Grupo enviava armamento para facção aliada no Rio de Janeiro; na Capital, chácara estava sendo construída para líder do bando.
Correio do Estado
16 de Dezembro de 2023 - 09:36
Operação realizada pela Polícia Federal (PF) nesta sexta-feira, em Campo Grande, mirou uma quadrilha especializada em tráfico de armas para organizações criminosas do Rio de Janeiro. Na capital sul-mato-grossense, o grupo utilizava imóveis de alto padrão em diferentes bairros da cidade para esconder as armas.
A ação foi realizada pela recém-criada Força Integrada de Combate ao Crime Organizado em Mato Grosso do Sul (Ficco-MS), por meio da Operação Égide II, que visa combater o crime organizado, que utiliza o Estado como corredor de tráfico de armas e drogas.
De acordo com a Polícia Federal, a organização criminosa é especializada no tráfico de armas e drogas, que saíam do Paraguai em remessas para Campo Grande em meio a cargas lícitas, sem o conhecimento das empresas de transporte. Na Capital, o material do tráfico era armazenado em imóveis que pertenciam à organização.
A PF aponta que o modus operandi da organização era adquirir imóveis de luxo em Campo Grande para lavar o dinheiro da ação criminosa. As investigações apontaram que o grupo tem em Campo Grande três casas e uma chácara, que ainda está em construção e indica ser destinada ao chefe da organização, que está atualmente preso no Complexo Penitenciário de Bangu, no Rio de Janeiro.
De acordo com a PF, o grupo que atua em Mato Grosso do Sul está ligado à facção Primeiro Comando da Capital (PCC) e as cargas seriam endereçadas a membros de outra facção carioca, o Terceiro Comando Puro (TCP), que surgiu no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, no ano de 2002, a partir de uma dissidência no Terceiro Comando.
Esse envolvimento do PCC com o TCP não é novidade. Em 2018, investigações já apontavam que membros do PCC presos no Rio de Janeiro estavam “batizando” novos integrantes dentro do presídio que seriam ligados ao Terceiro Comando Puro, e essa “parceria” tinha como objetivo o tráfico de drogas e de armas entre as organizações.
INVESTIGAÇÃO
Segundo a Polícia Federal, o grupo de Mato Grosso do Sul está sendo acompanhado desde 2017, quando foi desencadeada a Operação Cerberus, que teve como foco impedir que um plano de resgatar um preso e matar agentes penitenciários fosse cumprido. Ao todo, foram cumpridos três mandados de condução coercitiva, um mandado de prisão preventiva e quatro mandados de busca e apreensão.
Em 2021, houve nova ação contra a quadrilha, por meio da Operação Eventus, que teve como objetivo impedir a criação de empresas por parte da organização criminosa, que estava construindo imóveis na Capital para ocultar dinheiro e utilizá-los como esconderijo de armas e munições. Na época, foram cumpridos quatro mandados de busca e apreensão em Campo Grande.
Ainda conforme a PF, após a segunda ação da polícia, a organização criminosa se reorganizou para continuar praticando os crimes sob investigação. Na quinta-feira, a Ficco-MS realizou sua primeira operação, que apreendeu aproximadamente duas toneladas de maconha, cinco pistolas e fuzis.
Na ação, o entorpecente estava sendo levado por um caminhão. O motorista do veículo e um casal que atuava como batedor foram presos em flagrante por tráfico de drogas. Na manhã desta sexta-feira foram cumpridos cinco mandados de busca e apreensão na Capital, visando inclusive casas de luxo. Uma fonte relatou ao Correio do Estado que a operação cumpriu mandado em um empreendimento de habitação popular no Bairro Nova Lima, região norte de Campo Grande.
FICCO-MS
A Ficco-MS é uma unidade operacional que reúne, até o momento, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal (PRF), Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), Polícia Civil, Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) e Secretaria Nacional de Políticas Penais. A primeira operação contou também com o apoio do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope).
GLO
No início de novembro, o governo federal decretou a Garantia da Lei e da Ordem (GLO), com ações em diversos estados brasileiros, incluindo Mato Grosso do Sul. A iniciativa visa combater o avanço do crime organizado no País, fortalecendo também a segurança nas fronteiras.
No entanto, a Operação Égide II, desta sexta-feira, não tem relação com a GLO. De acordo com a PF, os agentes ainda aguardam a implantação definitiva da iniciativa em Mato Grosso do Sul.
Segundo o governo federal, Exército e Aeronáutica foram empregados já no início de novembro para fortalecer a segurança nas fronteiras de MS, Mato Grosso e Paraná.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, relatou na época que, no caso das fronteiras, a GLO não era necessária, já que as Forças Armadas já atuam em conjunto com as polícias federais.
O presidente Lula também anunciou um reforço de efetivo e equipamentos para o Estado, que deve ocorrer nos próximos meses. Além de Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso e Paraná estão inclusos no aumento do combate ao crime organizado.
SAIBA
No dia 7 de dezembro, a Força Integrada de Combate ao Crime Organizado em Mato Grosso do Sul (Ficco-MS) apreendeu uma carga de aproximadamente duas toneladas de maconha, além da prisão em flagrante por tráfico de drogas do motorista do caminhão e de um casal que atuava como batedor.
A ação foi fruto da recém-criada Ficco-MS, unidade operacional que reúne diversas forças de segurança pública em Mato Grosso do Sul. Esta foi a primeira parte da Operação Égide, que teve nesta sexta-feira a segunda parte deflagrada. Na ação do começo deste mês, a Polícia Federal contou com o apoio do Bope da Polícia Militar na abordagem, com apreensão de cinco pistolas.